Eu fico calado. Depois de um treinamento de mutismo agudo, longo e muito difícil, começo a deixar pergunta em branco. Ainda acontece, de vez em quando, aquela explosão de solicitude, de tentar oferecer uma resposta rápida e certeira. Mas em geral, consigo conter essa proatividade com a respiração pausada e um olhar de sol de primavera. Engulo em seco. Penso numa música baiana. Assovio.
Mas esse esforço ainda é visível. Admiro os caras que não demonstram que sabem a resposta para a pergunta cretina. Eles tendem a prosperar e sobreviver, embora percam a dignidade. Eu ainda esfrego os pés. Meu pomo de Adão sobe e desce. Disfarço muito mal. E isso é muito importante nessa época. Não refletir embaraços. Não conjecturar demais. Refletir em silêncio. E até escrever pouco. Cautela.
_Careca, o que você acha?
_Sobre o quê?
_Sobre o que estamos conversando, é claro.
_Ainda não tenho uma opinião formada. Precisarei de mais tempo para analisar esse tema com a profundidade necessária. Seria leviano da minha parte estabelecer um juízo sem considerar todas as alternativas. Mas já posso dizer que nem todos os impactos estão sendo considerados.
_...?
Vivemos tempos de casca-de-banana por todos os lados. Quem vacilar, escorrega. E o tombo pode custar o lombo. Por isso, fico calado. Fechar a boca também me deu a idéia de emagrecer. Estou com pelo menos 4 quilos a mais. E toda vez que perco um quilo eu acho um outro, na sequência. Aquela velha coisa de adiar o programa de exercícios começa a me dar remorsos. Não existe alternativa. Se não malhar, restará somente a flacidez incurável.
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