É só uma hipótese. Vamos dizer que, um dia, alguém resolvesse fazer um filme sobre a minha vida. Em se tratando de filme nacional, tudo é possível. Já filmaram coisas piores, e, além disso, tenho certeza de que um filme sobre a minha vida seria tão ou mais inteligível quanto “Terra em Transe” ou “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”.
Se bem que esses dois filmes não valem. Qualquer filme é tão ou mais inteligível que as obras-primas de Gláuber Rocha, aquele gênio espertalhão. Gláuber foi o cineasta que inventou o “cinema-nau-fragô” de resenha comentada. (Tem um monte de “wave”, “new wave” mas ninguém fala da “wrong wave”, “onda errada”, “bola fora”, “bad surf” e estilos furados inventados na mesma época)
Não importa. Para o bom espectador do estilo “onda má-perversa-destruidora” do Gláuber, você tem que ler a entrevista do diretor, o roteiro do diretor, os comentários sobre cada plano do filme feito pelo diretor e também acompanhar a vida e a obra do diretor para entender o que diabos ele está falando. É lógico que mesmo fazendo tudo isso, você jamais conseguirá entender patavina, porque o Gláuber era mais chegado num hermetismo que o próprio Hermeto Paschoal, que é albino, gênio, toca todos os instrumentos da orquestra e mais uns porquinhos.
Pois então. Do que é que eu estava falando mesmo? Ah, sim. Do filme da minha vida. Bom, se eu pudesse escolher diretor eu escolheria o Gláuber ou o Jabor. Nenhum dos dois gosta de uma narrativa linear e minha vida é uma barafunda complicada, um novelo de lã de lhama bagunçado por animais silvestres. Mas, como nenhum dos dois gênios brasileiros está na ativa, tentaria os estrangeiros.
Minha primeira opção seria Martin Scorcese. O cara é bom de épico. E minha vida, sem sombra de dúvida, daria um filme épico. Cecil B. de Mille faria um novo Crepúsculo com os meus crepúsculos. Minha vida é um quadrúpede iluminado, igual ao que ofereceram para os troianos. Além disso, minha memória das coisas é em preto-e-branco, estou sempre acima do meu peso ideal e já quebraram o meu nariz com um soco.
Mas Robert de Niro já está um pouco velho, então Di Caprio teria que raspar a cabeça para o papel-título.
Se Scorcese estivesse muito ocupado, tentaria Almodóvar. Sim, porque minha vida às vezes parece uma tragicomédia novelesca e nonsense, bem brega. Caso Almodóvar não quisesse filmar novamente com Antonio Banderas – que teria que raspar a cabeça , haveria ainda mais uma alternativa: o inigualável Robert Rodrigues.
Rodrigues é um super-diretor de efeitos especiais canhestros, uma coisa de que a minha vida está cheia. Quero dizer, o último porre com efeitos especiais que eu tomei foi no aniversário do Cabeça. Na ocasião, os efeitos capricharam nos roncos canhestros. Tanto que a Patroa me mandou dormir na sala, no que obedeci, é claro, que eu não sou besta. Onde eu estava? Pois sim, em Robert Rodrigues.
Seria uma ótima opção, Robert Rodrigues. Até porque ele transita bem pelos mais diferentes gêneros do cinema. Huummm! Vou reconstruir a frase. Rodrigues é capaz de filmar com a mesma competência o trágico, o cômico, o romântico, o épico e o besteirol mais rasteiro de que já se teve notícia. Ou seja, a história da minha vida. Mas George Clooney teria que raspar a cabeça, é claro!
2 comentários:
Careca, não complique a vida e a estética dos atores: chame logo o Bruce Willis!
Mwho, o Bruce fazia a Gata e o Rato quando eu ainda era menino. Não dá. Pensei no Daniel Day Lewis, mas ele também teria que raspar a cabeça.
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