terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O bom de fevereiro




Existem meses bons e uns meses que dão vontade de chorar. Isso varia muito. Tem gente que é bom de dezembro. Tem gente que é bom de janeiro. Outros são bons o ano inteiro, mas péssimos nas férias. Tem uns sujeitos que são bons de não fazer nada em qualquer época do ano. Mas nunca conheci ninguém muito bom de fevereiro. Eu, por exemplo, acho fevereiro mediano. É tipo não fede e nem cheira, mas não chega a ser tanto. A melhor coisa de fevereiro é que é curto. É por isso, principalmente, que tenho uma leve simpatia por fevereiro.

As coisas mais surpreendentes não costumam acontecer no mês de fevereiro. É um mês bem chinfrim de acontecimentos. Fevereiro é o mês da volta às rotinas. E isso às vezes, bem raramente, pode ser interessante. Veja a volta às aulas, por exemplo. É uma coisa legal, voltar às aulas. Mas tem gente que tem vontade de chorar só com a perspectiva de entrar numa sala de aula. Eu, por exemplo, não tenho essas frescuras. O que me dá vontade de chorar é o fato de abandonar travesseiro e colchão nos horários que eles estão mais confortáveis.

Mesmo assim, posso dizer que eu curti a volta das crianças às aulas. Elas curtiram mais ou menos. Primeiro porque trocaram de escola. Criança não gosta muito de mudar de escola. Aliás, algumas detestam. As minhas, no início, acharam ruim. Mas nem tanto. De qualquer forma, aproveitando o fato de que elas são pequenas, indefesas e incapazes de mover ações judiciais, eu e a Patroa resolvemos que elas iriam sair da escola alternativa.

_E foram para uma escola convencional, mainstream? – você deve estar se perguntando.

Sim, eu também me fiz a mesma pergunta quando a Patroa topou a mudança de escola. Mas a verdade é que elas foram para outra escola alternativa, só que um pouco mais longe do que a escola em que estavam no ano passado.

_Sim, querida –eu disse para a Patroa – parece bem lógico trocar uma escola alternativa por outra escola mais alternativa. Ainda mais que essa escola também é mais distante de casa e do meu e do seu local de trabalho. Facilita muito. Ainda mais quando essa distância é o dobro da outra distância que, aliás, já era considerada uma maratona.

Na verdade, a escola é longe pra dedéu. E por causa disso, as crianças têm que dormir e acordar mais cedo, senão todo mundo chega atrasado na escola e no trabalho.

Então, na segunda-feira, eu e a Patroa, cada um com um filhote diferente num carro diferente, fomos levar as crianças para o primeiro dia de aula, na mesma escola. Cacilda! Essa escola alternativa além de longe pra dedéu é super-maior que a antiga escola alternativa. Então fica cheio de pais e meninos e meninas na frente da escola, uma loucura! E eu fico agoniado. Eu tenho pavor de multidões desde que perdi os meus óculos durante a micarecandanga, no final dos anos oitenta. Na ocasião, fui atropelado por uma manada de zebus bebuns vestidos com um abadá da então desconhecida Daniela Mercury. Aquela Micarê foi o meu hello, goodbye para a Axé Music.

Por isso, eu respirei fundo, apertei a mão do meu filho primogênito e encarei a entrada da escola. Primeiro dia de aula é uma coisa que remete seu coração aos próprios atropelos. Ao me aproximar dos portões, eu vi a mim mesmo há duzentos anos, quando eu tremi na frente dos portões da escola no meu primeiro dia de aula. Suei frio. Mas disfarcei legal. Meu filho hesitou ao ver o estranho corredor de grades na entrada da escola. E parou.

_Sabe, pai, eu gostava mais da outra escola..- disse o meu filhote.

_Era mais perto. Mas vamos dar uma chance para essa escola. De repente, ela é uma escola bem gostável. E aqui não tocam axé music.

Depois, já em casa, os dois estavam radiantes. Até que começou bem, esse fevereiro.

4 comentários:

Anônimo disse...

Espero que as crianças gostem mais da nova escola... mas realmente, ficou sem pé nem cabeça esse negócio de trocar um alternativa por outra alternativa, muito mais longe. rsrsrs Abraços!

Anônimo disse...

hahahaha. genial.

Careca disse...

Janaína, eu demorei, mas já comecei um início de entendimento da lógica da Patroa. Abraços,

Careca disse...

Franka, o colar que tem o seu nome é dourado ou prateado?

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