quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A praça não é dele, nem nossa

Leio nos jornais que o Oscar Niemeyer desistiu daquela praça. Antes apelou para argumento de autoridade, desqualificou outros arquitetos, desqualificou quem não é arquiteto, elogiou os arquitetos amigos que o apoiaram. Primeiro disse que a briga estava boa, mas que achava melhor uma comissão de notáveis tratar do assunto. Aí, de repente, desistiu. Achei ótimo. Para encerrar esse assunto, eu gostaria de dizer que acho o Niemeyer um cara genial. Ele faz bonito. Ele faz tudo redondo, curvo e enterrado no chão. É o rei da parede curva. Não sou entendido, mas sei, as paredes curvas exigem mais fundação e ferragens, mão-de-obra, material de acabamento, mais tudo, inclusive tubulação e iluminação. A área útil interna é diminuída pela curvatura das paredes e influi em quase tudo, dos móveis à qualidade da limpeza. Tente limpar a poeira de um cantinho da parede interna. Monte um andaime para limpar a parte externa de uma bola e você vai entender a coisa. Além disso, em obra que tem muito buraco e concreto armado, o dinheiro desce pelo ralo.

A vida inteira ON foi glorificado e acho merecido. Aqui se faz, aqui se paga. Mas continuo achando as praças do ON sem sombra, sem banco, sem banheiro, sem lugar para ficar, sem grama, sem árvore e um saco. Se não fosse o Jânio Quadros, que botou um pombal-pregador-de-roupa gigantesco na Praça dos Três Poderes, lá, nem pombo tinha.


Mega hit
A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim, tudo é igual, mas estou triste, porque não tenho, você perto de mim. (Valdir Franco, se não me engano)

Torrando na Esplanada
A Esplanada dos Ministérios, se você nunca passou por lá, é um lugar que não dá para andar a pé, a não ser bem cedinho. O sol é inclemente e quase não tem sombra em lugar nenhum. Não há nada de interessante na caminhada.

Quando projetaram a Esplanada deviam ter em mente Raskolnikov e o assassinato de barnabés octagenários. Só é possível chegar de carro. A pé também se vai, mas é como atravessar o deserto. O táxi vai te custar uma fortuna. Existem poucas paradas de ônibus. Assim, se você tiver que ir a um Ministério próximo à parada, sorte sua. Se não, pegue um lotação.

Desde a era Collor, que acabou com o transporte coletivo gratuito para os servidores da Esplanada, não existe lugar para estacionar depois das oito e meia da manhã. Brasília tem péssima fama nacional, de ser um penduricalho de empregos públicos. Mas isso é apenas parte da verdade. Primeiro, porque até hoje cerca de 450 mil servidores públicos federais da ativa estão lotados no Rio de Janeiro. Brasília tem cerca de 500 mil servidores federais na ativa. E a maioria dos barnabés rala. Além disso, a cidade tombada está condenada a um afunilamento logístico. A Esplanada, incluindo os anexos e adjacências, do Congresso até o Ministério Público, abriga cerca de 300 mil pessoas. Não há transporte público decente. E todos os percursos convergem para a Esplanada. Às nove da manhã, se você estiver de helicóptero, tire uma foto. Você verá todas as ruas e avenidas coalhadas de carros descendo para a Esplanada. De cima, é bem bacana. No meio dos carros, é um saco. É mais ou menos assim o meu apreço e desapreço com o ON.

Mega hit 2
Eu queria ser John Lennon
um minuto só,
pra ficar no toca-disco
e você me ouvir,
Eu queria ser a chuva
que molhou seu corpo
pra saber o gosto que você sentiu,
quando um pingo frio
no seu corpo caiu.
Eu queria ser aquele espelho
no seu quarto,
pois nele você sempre olha
antes de ir dormir.
(Odair José - com certeza)

2 comentários:

Mwho disse...

Acho que uma nova obra do Niemeyer seria boa em tempos de crise: muitos trabalhadores, muito cimento e muito calor (o calor poderia esquentar a economia)...

Careca disse...

Mwho, você tem toda razão, ia fazer um calorão.

Frase do dia