segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O cantor no banheiro 2

Ninguém liga a mínima para perdedores. Eu também não. Mesmo se a vitória acontecer numa disputa de músicas no banheiro. Não pensei mais na voz de ópera no banheiro. Assobia melhor quem assobia por último. Além disso, depois daquela discussão eu fiquei muito tempo sem sequer discordar da minha mulher. Fiquei sem mergulhar o rosto na pia, atento ao latejar nos tímpanos. E não prestei mais atenção a barulhos no banheiro.

Às vezes é possível superar algumas coisas com uma boa discussão. Na conversa. Outras vezes, quando os silêncios se tornam muito grandes, é melhor tentar outra coisa. Ou então desistir. O problema é que eu não gosto de desistir. E geralmente não desisto. Algumas pessoas chamam isso de teimosia. Eu mesmo chamo isso de burrice. Muitas vezes eu fui estúpido o bastante para continuar a fazer coisas que simplesmente não estavam mais dando certo. O mais incrível disso é que algumas dessas coisas, as mais importantes, de repente começavam a dar certo. Mas na maioria das vezes, essa teimosia terminava com a perda definitiva de algo que eu queria muito. Ou seja, as coisas aconteciam a despeito de qualquer coisa que eu fizesse. Às vezes eu tinha sorte. Era simples assim.

“O que não mata engorda”. Eu tinha uma teoria antiga que derivava desse e de outros ditados populares. “Vaso ruim não quebra”. “Pau que nasce torto”. De alguma forma, isso havia se transformado numa certeza de que não adiantava tentar mudar. Não adiantava perseguir um sonho. Não adiantava tentar me reinventar. Não adiantava fazer nada. O mundo era grande demais e a inércia das coisas acabaria dando fim das coisas que teriam fim. Mesmo assim era importante não ficar parado. Não dar sopa. Não apressar as coisas ficando parado.

Então foi numa dessas vezes, em que eu achava que minha vida estava dando uma guinada para baixo, a despeito de todos os meus esforços em fazer as coisas certas darem certo, que eu voltei a escutar a voz de ópera no banheiro.

Lá estava ele, o cantor de ópera. Ele cantava uma ária bonita e alegre. Sou um analfabeto de música clássica. Mas aquilo só podia ser as “Bodas de Fígaro”, de Mozart. Eu conheço de ouvir em desenhos animados. Tentei assobiar “Yellow Submarine” novamente, mas acabei me deixando envolver pela interpretação do Fígaro. (continua)

P.S: Agradeço a todos. Vinte mil visitas em menos de dois anos!!! Foram cerca de 40 mil pageviews em 14 meses. E em pleno carnaval! Desse jeito vou ter que arrumar um caminhão-cegonha para as minhas kombis de leitores...

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