quinta-feira, 21 de março de 2013

Talvez eu seja antiquado



Gay boy from Curb Your Enthusiasm

Quase passei ao largo de toda controvérsia sobre a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Mas acabei conversando sobre o assunto com esse meu amigo dos tempos da universidade, que encontrei por acaso. É um amigo gay. Ele primeiro comentou sobre o vídeo em que o deputado usa a chapinha. Eu não vi, não me interesso por chapinhas. Digo ao meu amigo que uma parte da gritaria cessou com a informação de que os pais do deputado eleito presidente da CDH são negros. Mas isso só diminuiu o volume dos berros que o acusavam de racismo. Eles imediatamente começaram a gritar que o deputado é preconceituoso e usa a religião como plataforma política e também para ganhar dinheiro. Também não votaria nele, mas existem dezenas de políticos que colhem seus votos nos templos onde atuam e junto ao público que os conhece.

_E se descobrirem que o deputado é um ex-gay? – eu levantei a hipótese.

_Não existem ex-gays– disse o meu amigo.

_Você conhece todos os gays? Quem pode garantir que ele não se cansou de sexo e passou a se dedicar somente a sorvete de framboesa, por exemplo?

_Você conhece alguém que já cansou de sexo? – ele disse.

_Tem gente que já cansou de sexo com humanos. Para tudo sempre existe alguém. Conheço um cara que se cansou de falar com motoristas de táxi. Ele anda com um mapa e aponta para onde quer ir.

_Existem umas coisas que eu sei. Ex-gay eu nunca vi – disse o meu amigo.

_Também nunca vi enterro de anão. Qual é o problema do sujeito ser o presidente da comissão? – insisti.

_Ele não é a pessoa mais indicada.

_Hum-hum. Sei. Outros podem ser melhores, mas não é assim com tudo? Tudo bem, quem quiser protestar dentro da lei, que proteste. Só queria entender. Por quê esse sujeito é tabu para o cargo de presidente? Ele pode ser deputado, pode ser da comissão, mas não pode ser presidente da comissão. Por quê? Parece preconceito.

_Não é preconceito. Ele não tem condições de assumir – disse o meu amigo.

_Agora é você que está falando em assumir. Mas, veja bem, o deputado foi eleito presidente por 11 de 12 votos possíveis...

_Por quê você está defendendo aquele cara? – disse meu amigo.

_Eu não estou defendendo. Só não estou atacando.

_É porque você sabe que ele é anti-gay! É anti-minoria!

_Eu? Eu não sei de nada.

_Você também é anti-gay! Você também é anti-minoria!

_Eu?? Não, senhor, eu não sou anti-nada.

_É, sim! É, sim! É, sim!

Meu amigo gay foi embora, batendo o pé, zangado comigo. Talvez eu seja apenas antiquado. E antipático.

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