terça-feira, 5 de março de 2013

As pessoas na salinha



Bossa Nova Baby

Minha mãe, que se aproxima dos 80, de vez em quando vê na TV alguma coisa que a desagrada.

_Meu filho, eles só falam de sacanagem na TV. Em qualquer programa, inclusive os infantis.

_O melhor é mudar de canal. Ou desligar a TV.

_Mas não é todo mundo que pode mudar de canal.

_E nem todo mundo tem televisão.

_Acho que tinha que haver algum tipo de controle – diz a minha mãe.

_Já existe. Mas o auto-controle é o melhor tipo de controle.

_Não. Tinha que haver algum tipo de regulamentação.

_Mãe, já existem leis e regulamentos à beça.

_Mas não é suficiente – diz a minha mãe.

_Tudo bem, então como funcionaria esse controle?

_Não sei. Mas do jeito que está, não está funcionando.

_Mãe, eu sou contra por causa das pessoas na salinha.

_O quê? Que pessoas?

_Em qualquer tipo de controle que você pensar, isso implicará numa sala com um grupo de pessoas com poder para dizer o que pode ser visto, lido ou ouvido. Eu não quero que outras pessoas me digam isso. Eu mesmo quero decidir e escolher.

_Mas existem pessoas que não são capazes de escolher.

_E outras escolhem o que é ruim. É o velho dilema apontado por Sócrates. O grego, não o jogador. Mesmo assim, prefiro isso do que entregar a decisão para as pessoas da salinha.

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