sábado, 30 de junho de 2012
Acabaram-se as entrevistas coletivas
EMERSON, LAKE & PALMER - Peter Gunn Theme
A democracia no país das jabuticabas involuiu. Já faz muito tempo que as entrevistas coletivas dos governantes deixaram de ser feitas. Houve uma época em que elas eram periódicas e frequentes. Os governantes eram mais transparentes e abertos ao questionamento. Com isso, pareciam até mais inteligentes. Hoje, são fanfarrões e carrancudos, cheios de dedinhos balançando. Ficam enfezados quando questionados. No máximo, os jornalistas conseguem declarações apressadas dos poderosos de plantão enquanto entram e saem apressados de uma inauguração fajuta ou do anúncio de mais um programa tapa-buracos qualquer. E o pior é que na maioria das vezes os jornalistas ficam satisfeitos de só conseguirem esses laconismos idiotas.
Os nossos governantes não falam coisa com coisa. Alguns não conseguem juntar sujeito ao predicado. Já se acostumaram a não fazer sentido e a não responder perguntas. Respondem ao que não foi perguntado. Mas quase todos entendem vaias. Quase todos ficam longe de eventos públicos corriqueiros, não vão a estádios, não vão a shows e ao teatro, não fazem as coisas que o cidadão normal e comum faz. A não ser que seja no exterior. Lá fora vão à opera, ao restaurante famoso, ao teatro, ao cinema, ao parque, às compras, parecem cidadãos. Pareceriam bem mais se não se mostrassem tão ridículos, com dancinhas embriagadas. Aqui, só mostram as caras nos eventos oficiais, com claque orquestrada e grande aparato oficial. São burocratas que parecem assoberbados pelo trabalho, trancados em gabinetes refrigerados, maquinando ações para dar a impressão de alcance de resultados. Mas é tudo ilusão, não se engane.
Eu confesso que estou cansado e desapontado com a maioria absoluta dos políticos brasileiros, sobretudo dos que estão no poder. Não tenho mais paciência para escutá-los. Tudo sempre está tão bom e é sempre tão fácil para quem tudo sabe, que me cansei. E devo ser uma exceção, porque as pesquisas mostram que a popularidade de todos aumenta vertiginosamente, quase tanto quanto o endividamento das famílias brasileiras, é um espanto. É fantástico isso porque a criminalidade aumenta, os preços aumentam, os impostos aumentam, a corrupção aumenta, a percepção da corrupção aumenta, a violência aumenta, a seca é a maior dos últimos trinta anos, a gasolina vai aumentar e nada de bom aumenta, mas, mesmo assim, a aprovação dos governantes é como um foguete enlouquecido rumo ao sol.
Nossos governantes se enrolam quando confrontados com o que eles mesmos disseram na semana passada sobre qualquer assunto.
Com os candidatos também não é diferente. Candidatos ao executivo na maioria das vezes repetem obviedades monótonas ou anunciam que também farão programas do arco-da-velha para minorar os velhos problemas: educação, saúde, segurança...
Eu não queria muito. Só queria que as entrevistas coletivas regulares e periódicas voltassem, por exemplo.
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