quinta-feira, 7 de junho de 2012

Recreio

Li no jornal da capital brasileira que uma menina de 13 anos foi estuprada três dias seguidos pelos colegas, dentro da sala de aula, dentro da escola pública onde estuda. Li de novo para entender. Depois é que caiu a ficha. A menina era currada durante o recreio. No primeiro dia eram três ou quatro, nos dias seguintes o número aumentou. Fiquei estarrecido.

Conversei sobre o assunto com a minha mulher. Ela me conta sobre uma pesquisa que alguém está fazendo sobre as escolas públicas daqui. Os pesquisadores observaram o recreio de uma das escolas parecida com a da menina que sofreu o estupro, talvez mais bem colocada no ranking das escolas públicas, talvez com meninos e meninas com maior renda média familiar. Pouco importa. Em todas as escolas públicas é a mesma coisa e em algumas particulares também.

O recreio é uma zona de guerra aberta. Os professores se refugiam na sala dos professores e pronto. Não há bedel. Não há nenhum tipo de supervisão ou controle adulto. Adolescentes molestam crianças. As perseguições e pancadaria acontecem a todo instante. Drogas. Bebida. E o cantinho do amasso. Nesse cantinho, os adolescentes formam um círculo em volta de um casal ou de vários casais. Ali dentro vale tudo.

As crianças e adolescentes que notavam a presença dos boquiabertos pesquisadores diziam que aquilo não era nada. Que aquele era um dia tranquilo. Nos outros dias aconteciam coisas bem piores, bem piores.

O que pode ser pior?

Quem consegue estudar numa escola em que o recreio é uma zona de guerra e a sala de aula é local de estupro?

Quem se importa?

Pois é, eu também me defendo como posso e torro uma boa grana mensal com a escola das crianças. Mas já vimos esse filme com os hospitais públicos. Eu também encarei o plano de saúde caríssimo com a expectativa de escapar do inferno da saúde pública. Mas hoje, na capital da república, as filas particulares e públicas são equivalentes e o descaso, similar. Com o transporte é a mesma coisa. O público foi para o espaço, investimos no carro próprio e hoje ninguém mais consegue andar direito. De segurança nem se fala.

Não está fácil para ninguém. E é por isso que é tão chato ouvir essas propagandas cor-de-rosa e mentirosas dos governantes. Será que não cansam?


Um comentário:

Emerson Cardoso disse...

ta tudo virado mesmo... trabalhei em uma escola onde todos os professores ficaram surpresos em ver a naturalidade com que o pai acariciava os seios da própria filha na reunião de pais... imagina então o que não esperar do resto! abç...

Frase do dia