terça-feira, 19 de junho de 2012
Uma polêmica interessante
Get the party started - Shirley Bassey
Excelente a polêmica entre Reinaldo Azevedo e o economista João Manoel Pinho de Mello. Os jornais, rádios e tvs andam tão vazios de discussões inteligentes ou burras que nem liguei para as cutucadas que aplicaram um ao outro. É bem verdade que Reinaldo Azevedo cercou o professor no corner e sapecou-lhe uns golpes abaixo da linha de cintura. Mas o professor da PUC-RJ também tentou dar carteirada e chegou a tirar uma calculadora científica do bolso, eu vi. Como a discussão extrapolou para um monte de outros blogs, ficou melhor para os leitores. Eu me diverti pacas lendo comentários e mais comentários de gente que, como eu, não sabe xongas de Adam Smith mas adora ver vale-tudo.
Depois de ler uma quilombada de opiniões, estou com a maioria, Reinaldo Azevedo venceu por pontos, depois de aplicar pelo menos um par de ganchos no professor.
O bolsa-família é importante. Em São Paulo, com uma população de 41,2 milhões de pessoas, a bolsa beneficia cerca de 1,2 milhões de famílias. É gente pacas. Mas convenhamos, neste país a polícia não funciona, a escola não funciona, a justiça não funciona, os hospitais não funcionam, a infra-estrutura é uma droga, as instituições estão em frangalhos e a corrupção é epidêmica.
Mas voltemos à pesquisa. Será que 32 ou 306 reais mensais fazem toda a diferença no abismo das desigualdades sociais e econômicas do país, especialmente nas grandes cidades? Será que 306 merrecas mensais podem ajudar a reduzir a criminalidade? E em quanto?
As perguntas são pertinentes e interessantes e motivaram a realização da pesquisa. Reinaldo Azevedo empombou com a motivação, com a metodologia, com os resultados e com o uso político da pesquisa, chamou tudo de bobagem. O professor não gostou e declamou títulos e medalhas recebidas antes de começar a responder. Se atrapalhou e foi prolixo. Qualquer pessoa que for dar uma entrevista deve meter duas regras de ouro na cabeça: fale pouco; só responda o que for perguntado.
O mecanismo derivado da bolsa-escola(que exigia a contrapartida da frequência às aulas) foi deteriorado. O bolsa-família é dinheiro na mão, que é vendaval, como já cantou Paulinho da Viola. É programa só de entrada, continua o problema do que fazer depois, para que as famílias não continuem a precisar do programa. E isso fica ainda mais difícil se as instituições se deterioram. Hoje, depois do PAC 1, do PAC 2, do PAC 3, e do eu quero TCHU, eu quero TCHAN, assim como aquelas antigas obras emergenciais contra a seca, o bolsa-família é só mais uma moeda eleitoral.
A verdade é que não existem políticas públicas no país. O que existe são dezenas de programas mequetrefes e chinfrins, lançados com estrondo e propaganda cara a cada semana, mas com resultados discutíveis ou jamais apresentados. E não existem políticas públicas porque não existe um projeto para o país. E se ele existe, não está visível na peça orçamentária. Qual é a nossa meta? Qual é a meta do governo atual? E do governo anterior, quem lembra? E todos aqueles compromissos, creches incluídas, em que pé estão? Melhoramos nossas escolas ou elas volta e meia estão em greve? A polícia, volta e meia está em greve? Os médicos estão em greve? O judiciário está em greve? Pô, os servidores públicos estão entrando em greve? (Não é que eu seja contra greve, mas isso parece revival do final dos 80) Recuperamos nossas estradas? Ampliamos os portos e aeroportos? Construímos tudo o que precisamos e agora vamos fazer estádios?
Boa parte da discussão do que se quer para o país poderia estar acontecendo dentro das universidades, tradicional local de discussão de alto nível das questões nacionais. Mas hoje isso já não ocorre, a despeito das 55 universidades federais estarem em greve. Por isso, achei ótimo ver uma produção acadêmica virar tema de debate num blog de longo alcance.
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Um comentário:
Há uma questão de fundo que precede a polêmica e que, se respeitada, teria evitado a própria existência do artigo, ou ao menos a conclusão apresentada: a lógica elementar. Quando Pinho de Mello confrontou (ou formulou) a hipótese de que o bolsa família reduz a criminalidade, o que até faz sentido a priori, deveria ter feito uma observação dos dados gerais sobre as áreas cobertas pelo Bolsa Família. Se tivesse feito isto, teria a obrigação profissional de descartar esta hipótese, pois os dados gerais a desmentem. Teria assim que procurar o fator divergente, que explicasse a queda da violência em poucas regiões e o aumento em muitas regiões cobertas pelo Bolsa Família. Como não o fez, restam algumas explicações:
1) Não lhe ocorreu ter este cuidado básico.
2) Fez a constatação, mas a ignorou.
3) Procurou uma exceção que permisse justificar sua hipótese.
Nenhuma das alternativas é lá muito edificante, mas infelizmente não há uma justificativa lógica, que faça sentido, e que explique as conclusões apresentadas no artigo.
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