sexta-feira, 22 de junho de 2012
O armazém turco
3 Hür-El - Sevenler Ağlarmış
A superquadra onde eu passei a maior parte da infância tinha uma rua comercial bem eclética. Eu disparava de skate do meu bloco para a padaria, andando sobre o caminho de terra batida no meio do gramado. Um dia eu, o Jô e o Damassa iríamos construir rampinhas de cimento para melhorar o percurso.
Ao lado da padaria havia uma loja de apetrechos e materiais para rituais religiosos africanos, que a meninada chamava de Loja da Macumba ou só Macumba. O Jô tinha tanto medo da loja que nem passava na frente. Eu também tinha, mas ali era um dos únicos lugares da quadra em que era possível comprar bombinhas e rojões.
Atravessando a rua, bem de frente para a padaria, havia a Comercial de Couros Paulista. Em cima da loja de couros, com entrada pelos fundos, a Escola Benett, onde eu e meus irmãos aprendemos datilografia. Logo abaixo, a lanchonete do Murakami, depois o restaurante Faisão Dourado. Havia ainda uma loja de fotografia com uma enorme logomarca da Kodak. Foi ali que o japonês dono da loja tirou a foto da minha carteira de identidade, que permanece comigo até hoje.
Uma das últimas lojas era um armazém de secos e molhados muito sujo e esmolambento que a gente chamava de loja dos turcos ou só Turcos. Havia um monte deles. Eram magros, esquisitos, com os olhos bem grandes e dilatados e se vestiam muito mal e pobremente. As prateleiras e vitrines dos turcos eram meio vazias e empoeiradas. Nem eu nem meus amigos ligávamos. Ali era o melhor lugar para comprar bombas, bombinhas, rojões, traques, espadas de fogo e o campeão dos campeões, o cabeção número 8, uma bombinha colossal que usávamos para estourar latas.
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