segunda-feira, 18 de junho de 2012

Desdar



Gorillaz - On Melancholy Hill

Sou um péssimo etimologista. Nem procuro disfarçar, essa não é a minha praia. Não corro para o dicionário para buscar a origem das palavras. Não manjo nada de latim. E também não estou me jactando da minha própria ignorância.

Lembro de um programa de rádio que vivia fazendo piada sobre o surgimento de algumas palavras. Era um quadro besteirol super-divertido chamado Assim Disse Onário. Um dos mais famosos contava a origem da palavra computador, que teria sido criada por estivadores portugueses cansados de carregar as máquinas que chegavam dos navios japoneses.

Minha filha, que é tão ou mais criativa que um estivador português, outro dia inventou o verbo desdar, que significa tomar de volta aquilo que se deu a outra pessoa.

_Mas, filhota, o que está dado, está dado, não tem mola, não pode voltar atrás - eu disse.

_Claro que pode, paiê. Você vive tomando o nintendo de volta - ela disse.

_Mas é diferente. Eu não pego de volta, só fico com ele um pouco, até passar o castigo- eu disse.

_Não é diferente, paiê. E não é só o nintendo. Você me desdeu o canivete também.

_Cani...não, senhora, o canivete eu disse que só pode brincar enquanto eu estou por perto. Não é para exibir para as amigas.

_Viu, paiê? Isso é a mesma coisa que desdar. Se você me dá uma coisa, mas eu não posso ficar com ela, de que adianta?

Ela tem razão, eu sei. O desdar é um verbo defectivo, muito conjugado no modo imperativo pelos adultos.



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