sexta-feira, 25 de março de 2011

Vinagre e sal

A base da unha do meu polegar direito está preta. No meio da semana, ao fechar uma porta de ferro prendi meu dedo. A pesada porta da garagem, na casa do meu pai, bateu nessa base de unha. Doeu um bocado. Minha mãe correu a me ajudar com um remédio dos tempos de criança. Enrolou meu dedo machucado em algodão cheio de vinagre e sal, uma gaze e esparadrapo. A dor sumiu na hora. O remédio curativo é milagroso. Carinho de mãe também.

_Vocês adoravam esse curativo. Ele sempre fez sucesso porque vocês gostavam de lamber o sal com vinagre - disse a minha mãe.

_Eu lembro bem - eu disse.

Fui xeretar na reforma, ver o serviço dos caras. Os progressos são lentos. Tudo precisa ser conferido e reconferido. Mesmo assim, as coisas não são feitas corretamente. Improvisa-se o tempo inteiro e muitos erros são cometidos. Desperdiça-se muito. Não há a menor preocupação em se fazer um serviço limpo e organizado. Tudo é estabanado. As embalagens das coisas são atiradas ao chão, o lixo só é recolhido se há uma ordem direta para isso. Mas a limpeza é feita em ritmo lento, atrasando o trabalho. Decidi manter a casa limpa, custe o que custar. Mesmo que isso implique em fazer uma faxina assim que o último dos operários deixa a casa.

No frenesi da limpeza, acabei topando com o polegar machucado. Minha mãe renovou o curativo, com mais vinagre e sal.

_Não vá lamber o sal, hem - ela disse.

_Bem que eu queria, mas preciso diminuir o açúcar e o sal - eu disse.

Se algumas coisas têm sabor de infância, então a minha infância tem sabor de vinagre e sal.

Não. Isso é um exagero.

Voltei à obra e consegui deixar as coisas um pouco mais limpas.

Mas depois me esqueci de lamber o sal com vinagre do meu dedo. No dia seguinte já podia usar o dedo sem sentir nenhuma dor.

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