quinta-feira, 3 de março de 2011

Empacotando tudo rapidinho

Se você sentiu o cheiro da sua própria pele fritando no trabalho, deixe as gavetas prontas para serem esvaziadas rapidinho. O melhor mesmo é não juntar aquele monte de tranqueiras durante o seu período de trabalho. Mas eu sei o quanto é difícil manter o bom senso e evitar se apegar aos lugares, aos cubículos, às máquinas de capuccino e até àquela conversa fiada prazeirosa dos momentos de descontração e relaxamento.

Dessa vez eu evitei levar as tranqueiras embora. Fiz uma seleção de itens de algum valor monetário e desprezei solenemente toda a tranqueira sentimental. Os bonecos da Família Sympson(brindes da lanchonete), os robôs de papel cuidadosamente montados e colados, dois brinquedos de kinder ovo e um imã de geladeira que ganhei de lembrança de alguém que foi a Aracaju. Joguei tudo no lixo. Também joguei fora a minha coleção de jogos da mega-sena e deixei para trás a minha lata de moedas de troco para emergências. As dezenas de figurinhas de chicletes também foram para a lixeira. Só depois que fui embora é que me lembrei que tinha pelo menos três reais em moedas de cinco e dez centavos na lata.

Desprezei a papelada. Já houve um tempo em que tratava de recolher exemplos interessantes de trabalhos realizados, publicações, cds, etc. Mas depois de algum tempo eu finalmente percebi que ninguém, até hoje, me contratou porque fui capaz de fazer algumas coisas, mas por acreditar que eu seria capaz de fazer outras mais e melhores.

Ao esvaziar uma gaveta no local de trabalho é fundamental se perguntar se vai valer a pena carregar todo aquele peso até a porta de saída. É preciso calcular mentalmente a distância a ser percorrida e multiplicar o esforço físico por quatro, porque o peso das coisas aumenta uma enormidade até o tapete de entrada. Ou saída.

Dessa vez eu fiz o cálculo a tempo. Mesmo depois da minha seleção criteriosa, eu havia colocado um monte de coisas numa pequena caixa de papelão. Felizmente percebi que não queria ser visto com aquele trambolho nas mãos. Despejei a caixa de papelão no lixo. Eram só coisas que eu não queria mais ver.

Quando eu saí, a guardete se levantou para me dar um abraço e dizer que lamentava muito.

_Tenho certeza de que logo, logo, o senhor arruma uma outra colocação - ela disse.

E foi só então que eu comecei a ficar realmente muito preocupado. Mas enquanto eu ainda estava no elevador intelectual do edifício meio burrinho, eu já sabia que teria que escrever sobre a minha demissão durante esta semana. Amanhã eu conto mais um pouco.

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