quarta-feira, 2 de março de 2011

A mensagem adequada

Muitas pessoas, ao serem demitidas, acham de bom tom enviar uma mensagem final por e-mail aos colegas. Algumas preparam longos textos filosóficos, enaltecendo amizades e ressaltando episódios engraçados e bons momentos vividos ao lado dos colegas. Já vi até powerpoints super-elaborados de despedida. Uma vez um cara mandou um filminho de adeus e entupiu o meu e-mail.

Outras pessoas relembram passagens tocantes, em que fulano e beltrano contribuíram decisivamente para que um grande obstáculo fosse superado, para que uma meta fosse atingida, para que um bônus fosse alcançado. Não tenho nada contra esse tipo de mensagem, desde que ela tenha um caráter privado, particular e não extrapole a capacidade da minha caixa de mensagens.

Às vezes, no entanto, a pessoa é muito extrovertida e ao invés de enviar uma mensagem em caráter individual ou para um grupo bem restrito de pessoas, manda para a caixa de todos os funcionários da empresa. Em geral, ela convida todo mundo para uma despedida no boteco. Usa palavras singelas. "Não perca o meu bota-fora". "Conto com você para encher a cara no dia em que levei um chute na lata". "Vamos lá, Manezada, eu reservei a mesa mas vocês é que vão pagar a conta".

Já vi umas despedidas bem malucas e divertidas, mas acho os convites para "pé-na-bunda" umas coisas constrangedoras e embaraçosas. Por mais que a pessoa extrovertida seja um sucesso e uma campeã popular, a mensagem será lida com indiferença pela maioria dos destinatários. Isso acontecerá porque a partir do momento em que você se despede, a maioria das pessoas passará a tratá-lo como você é, ou seja, como um ex-colega. Poucas pessoas convivem com naturalidade com um ex-colega, sem demonstrar paternalismo ou um disfarçado desdém. No final do dia, alguém vai dizer que faltou uma vírgula ou um acento na sua mensagem e que você foi demitido, entre outras coisas, pelo seu péssimo português.

Por isso, acho mais importante mandar uma mensagem curta e bem direta para alguns poucos escolhidos, pessoas com quem você sempre contou durante aqueles anos de trabalho. Deixe o telefone e o e-mail. Não é preciso lembrar de todos os bons companheiros e amigas. Na saída, o melhor é errar por pouco. Mande a mensagem individualmente ou com cópia oculta para o pequeno grupo dos "escolhidos". Não mande para todos os funcionários da empresa. Os amigos, durante toda a vida, contamos nos dedos das mãos. Se temos sorte, colocamos na conta os dedos dos pés. A mensagem adequada, acredite, nunca é remetida por e-mail.

Mas não é apenas a despedida eletrônica que pode se tornar uma chatice melosa ou um incômodo imprevisto. Também acho embaraçosa e confusa a hora da despedida pessoal. Existem algumas pessoas em que é inevitável um abraço apertado ou um forte aperto de mão. É muito importante, nessa hora, manter o olhar firme e segurar a emoção. Desconfie das pessoas que se descabelam na hora da despedida. Grave na memória os que se prestarão a indicar seus erros e a lhe dar conselhos. Muitas pessoas, por mais juras que façam de que vão ligar e manter contato, jamais tornarão a vê-lo ou ouví-lo. Algumas do pequeno círculo de "escolhidos" não se lembrarão do seu nome ao fim de um mês.

As pessoas amigas ficam curiosas para saber o motivo do seu desligamento imediato, por mais obscuro que esse motivo seja para você mesmo. Os ex-colegas querem saber o motivo principalmente, e isso é super natural e válido, para auto-proteção. Muitos querem saber onde você errou para que não cometam os mesmos erros. Outros querem saber com quem você discutiu, para evitar problemas com o seu provável antagonista. Uns poucos acham que a organização onde trabalham se parece muito com um macaco que confunde o próprio rabo com uma banana. Jamais fale mal de um ex-colega, mesmo daquele que o traiu vexaminosamente. O mundo dá muitas e muitas voltas.

É preciso ter uma coisa bem clara na cabeça. Ninguém é chamado à sala de gerência de pessoal impunemente. Ou é coisa boa, ou é coisa ruim.

Eu não queria alarmar ninguém, mas neste ano, as coisas ruins deverão ser mais comuns.

Por mais que você seja um excelente ator, receber a notícia do desligamento imediato é sempre uma paulada na moleira. Então, ao sair da sala de recursos humanos, não adianta encher o peito e prender a respiração, as pessoas vão perceber os seus ombros caídos e aquele tremor involuntário da sobrancelha esquerda. Quer saber? No final das contas, não existem despedidas felizes. Apenas saia depressa e vá arrumar as suas coisas. É importante não deixar entulho para trás. Mas isso é assunto para amanhã.

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