Na minha quadra tinha um garoto muito forte e gordinho. Ele era mau e cruel. Eu e o Jô tínhamos um pacto silencioso contra esse cara. O Jô era tão baixinho quanto eu. Se um dos dois era agredido, o outro entrava em sua defesa. O gordinho não aguentava o ataque da dupla. Em geral, evitávamos ficar sozinhos com ele.
O nome desse menino era Alexandre. Tinha dois apelidos. Xandi e Senhorita Pig. Xandi era o apelido dos momentos em que o gordinho agia como um ser humano cordial e sensato. Senhorita Pig era usado quando ele se comportava mal. Eu e o Jô quando estávamos juntos só o chamávamos de Senhorita Pig, ou Pig, é claro.
O apelido do gordinho tinha vindo direto do Muppet Show. O menino era lourinho e também tinha grandes olhos azuis, como a boneca que amava o Sapo Caco. Mas as semelhanças acabavam por aí.
No programa da TV, a Senhorita Pig era uma porquinha amável, sentimental como todos os bonecos do show. Pig se considerava muito talentosa, mas é lógico que nenhum dos bonecos achava a mesma coisa. A maior parte deles considerava Pig apenas como uma porquinha metida a superstar. Creio que o sapo Caco, apresentador e anfitrião do show, a respeitava como cantora, mas a considerava péssima atriz.
Na vida real, Pig era um menino perverso, antipático, e não tinha nada de amável. Era o mais novo de quatro irmãos. Tinha uma irmã mais velha bonitona e dois irmãos que eram igualmente cruéis e malvados. Ninguém mexia com nenhum deles. Eram brigões e batiam pra valer.
Graças ao Pig eu cresci sem formar na cabeça os estereótipos rotineiramente relacionados aos gordinhos. Ou seja, quando vejo um cara gordo não imagino que ali haja um cara feliz, extrovertido, bem humorado e engraçado. Talvez até eu tenha crescido com estereótipos invertidos. Em geral, talvez eu seja mais cauteloso com os caras gordos. Talvez tenha medo de levar porrada.
Um dia encontrei o Jô e ele me disse que o Pig havia se tornado um policial.
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