sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A Arma Zeta 28 de fevereiro



Nenhum homem é uma ilha. Quem não tem conexões, não sobrevive. É correto, é justo. Mas aqui é diferente. Não há como vencer sem o compadrio. Quem não é da panela, se ferra. A civilidade só existe entre os camaradas. Eu precisava de alguém no Detran. E teria que ser uma pessoa que fosse uma pessoa estúpida o bastante para acreditar na história que ia inventar. E além disso, essa pessoa teria que me passar nome completo e endereço do proprietário do grande veículo preto. Essa pessoa era o meu primo Vinícius, que todo mundo chamava de Vini.

Eu disse a Vini que esse cara tinha me fechado e eu quase tinha caído de moto.

_ E o que você quer com ele? – disse Vini.

_Riscar o carrão, Vini. Vou usar uma chave-de-fenda pequena que eu tenho. Dá pra fazer um risco fino, mas bem profundo. Risquei tão fundo o capô do último babaca que me fechou que ele teve que trocar o tampo e as portas – eu disse.

Vini é um cara que entende as paixões primárias e os instintos selvagens dos seres humanos. Na verdade, ele é movido por todas elas. Quando entrou no Detran, Vini desenvolveu um método para transferir as multas de alguns infratores escolhidos para vizinhos e desafetos acumulados durante sua vida atribulada. Foram muitas multas. Os vizinhos foram estimulados a saber que ele trabalhava no Detran e que poderia fazer alguns favores em troca de uma módica compensação. Ele se tornou um quebra-galho discreto na vizinhança. Era um tipo boa praça. Todo mundo gostava do Vini. Eu também. O mais legal de tudo era que em casos assim, de pura vingança envolvendo um familiar, o Vini não cobrava nada.

_Se você quiser, eu te ajudo. Nunca risquei um carrão importado antes. Mas uma vez derramei ácido muriático no teto de uma Mercedez – ele disse, antes de soletrar o endereço e o nome do proprietário do carro.

_Mon-de-go - disse Vini.

Eu anotei tudo com cuidado. E descobri que o primeiro nome de Alencar era Rosalvo.
Quando cheguei à frente da mansão, por volta do meio-dia, parecia não haver ninguém em casa. Fiquei olhando através do portão, examinando o gigantesco jardim. Dava pra ver uma pontinha do lago desta cidade.

_Em que posso ajudá-lo? – disse Manoela, a menos de três metros do portão.

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