Não existem muitas certezas sobre o amor. Há quem diga que ele tem início, meio e fim. Mas existem os que juram que se existe fim, então não se trata do verdadeiro amor. E como saber onde o infinito se inicia, ou se está perto ou longe da metade? - eles perguntam. Segundo uma outra corrente, o amor seria infinito como os números que existem entre 1 e 2. Para esses poetas matemáticos, o amor é infinitesimal e de um certo limite não passa. Gosto dessa definição, mas sei que é melhor não falar disso ao pé do ouvido de ninguém.
Por outro lado, não existem muitas dúvidas quanto ao ódio. Em geral, a maioria das pessoas consegue estabelecer a origem do ódio que devotam a um indivíduo ou a um grupo deles. São pequenas coisas – dizem. É verdade. O mundo é formado de uma infinidade de pequenas coisas. Mesmo assim, não existe um ódio pela metade. Os ódios são inteiros, grandes ou pequenos, mas inteiros. Também não existem dúvidas quanto ao fim do ódio. Ele coincide com o fim da pessoa ou coisa odiada, é simples.
Seja como for, eu estava convencido de que amava Manoela. E até o dia em que ela desapareceu, eu acreditava que era recíproco. Talvez seja verdade que até a primeira decepção quase sempre acreditamos que o amor é via de mão dupla, que ele nos alimenta se o alimentarmos com a entrega absoluta do coração. Depois de um coração partido, senão antes, muitos acabam convencidos de que esta é uma trilha solitária no deserto e que só alguns sortudos doidos conseguirão escapar da solidão. Outros terminam seus dias convictos de que tudo isso é bobagem, é melhor procurar um outro hobby.
Quando reencontrei Manoela, eu queria ter falado de amor e do quanto eu sentira sua falta. Eu queria ter falado de quantas vezes toquei a campainha, das dezenas de tardes que bati à sua porta, das poesias que eu escrevera, dos pedidos e promessas que fiz para que ela voltasse. Mas alguma coisa me proibiu de falar nisso, porque antes de abrir a boca eu percebi que ela não me reconhecera. Ela apenas sorria. De algum modo, era o mesmo sorriso estúpido que vi durante meses no rosto de Brigite.
Fiquei congelado na calçada, a poucos metros de Manoela. Ela estava sentada à sombra de um guapuruvu, no parque desta cidade. À sua frente, um homem mais velho, alguém que parecia familiar. Eu me aproximei devagar, no meio de um pelotão de atletas de fim-de-semana do parque, estudando a fisionomia de Manoela, tentando descobrir um sinal de reconhecimento e ao mesmo tempo tentando me lembrar quem era a pessoa à sua frente. Quem estava conseguindo fazê-la sorrir?
_Alencar – eu disse para mim mesmo, assim que passei pela mesa dos dois.
Manoela não sorria para o pai, mas para o brilhante objeto sobre a mesa que encantava ambos. Era a arma Zeta.
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