terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
A Arma Zeta 25 de fevereiro
Eu esperava encontrar respostas para as perguntas que fiz durante meses para Manoela. Por quê Brigite havia visitado Roberto meses antes? Ela estava com a arma Zeta ou a tirou de mim? Por quê a família Mondego viera morar no mesmo apartamento que fora de Roberto? Por quê fomos atacados? Onde estava Alencar? Por quê Caleb havia atirado em Manoela? Como ele enlouquecera Brigite? Por quê haviam sumido sem me dizer o motivo? Eu tinha só uma certeza: a resposta de todas elas envolvia a arma Zeta de alguma maneira.
Mas ao invés de uma carta recheada de explicações, dentro havia apenas um outro pequeno envelope contendo uma chave. Não havia nada escrito, nem mesmo uma pequena palavra. E Manoela não havia mencionado nenhuma porta, cofre ou qualquer coisa que precisasse de chave. Não que eu me lembrasse. Era apenas uma chavinha, parecia de brinquedo, ou daquelas chaves de dar corda em brinquedos de mola. Ou talvez fosse de um diário.
Durante algumas semanas mantive os envelopes cuidadosamente encerrados numa gaveta, relembrando aquele dia de carnaval e as conversas posteriores com Manoela, já que Brigite nunca mais dissera uma palavra, apenas sorria. O problema é que as memórias também se desgastam e se esgotam, depois de algum tempo eu já não sabia dizer com certeza se algumas coisas haviam sido realmente ditas. Decidi anotar tudo o que vinha à mente, mas o mesmo processo de desgaste aconteceu. Eu começava a descobrir detalhes que talvez estivessem sendo colocados pela minha imaginação em minhas lembranças. Outras coisas que realmente aconteceram começaram a parecer inverossímeis, como o meu providencial desmaio no carnaval, ou todos aqueles disparos de Zeta na minha fantasia de padre.
Como conseqüência, comecei a duvidar de mim mesmo e das minhas próprias lembranças. Foi como alguns sonhos que se repetem muitas e muitas vezes. Por um período é possível acreditar que tudo realmente aconteceu. Mas por quanto tempo é possível se convencer de que um sonho é real? Além disso, a ilusão duradoura não é um sinal evidente de loucura? Eu não queria ser louco. Nem mesmo um louco eternamente feliz, como Brigite.
Um dia, alguns meses depois, joguei fora os envelopes, coloquei a chave num cordão e pendurei no pescoço, junto com uma figa pequena. Eu havia conseguido entrar numa universidade e tinha muito em que pensar. Na verdade, com tanta coisa acontecendo, não havia lugar para a arma Zeta na minha cabeça, embora gostasse da lembrança de Manoela.
Logo que sumiram, eu ansiava por encontrá-la na rua, ao atravessar uma rua, no meio da multidão no shopping, num ponto de ônibus ou no parque. Mas depois desejei o contrário, que jamais voltasse a ver qualquer das duas, ou Caleb, ou a arma Zeta. Então, depois de algum tempo, guardei a chave numa gaveta, fiquei só com a figa no pescoço. Nesses dias, eu não me lembrava de nada.
Talvez seja sempre assim. Já ouvi muitas histórias de pessoas que passaram anos sem se encontrar. Irmãos, filhos, pais, esposas passam anos procurando uns aos outros sem sucesso e um dia descobrem que são praticamente vizinhos. Quando não desejamos mais surpresas, elas acontecem. Na véspera do carnaval do ano seguinte, eu reencontrei Manoela.
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