A Arma Zeta teria permanecido mais alguns anos como sendo apenas um enfeite de mesa em minha casa se não fosse por uma estranha visita que recebi, quando eu estava perto de completar 18 anos. Daquela vez parecia mesmo que uma coisa especial estava acontecendo. Chovia e fazia sol, ventava forte e havia redemoinhos por todos os lados. Os cachorros latiam nas ruas, pássaros voavam em todas as direções, meu peixinho dourado pulou para fora do aquário. Por algum motivo, eu estava sozinho naquela tarde. Quando a campainha soou eu acabava de devolver o peixe para o aquário e corri para atender a porta. Mas antes, olhei pelo olho mágico e vi uma das mulheres mais bonitas que eu já vi em toda a minha vida.
_Nossa Senhora! - eu disse, em voz alta.
_Não, sou eu, Brigite - disse a mulher.
Ventava uma barbaridade, embora ela estivesse no corredor do prédio de apartamentos. Abri a porta rapidamente para que Brigite entrasse, mesmo depois de ter feito uma rebobinada rápida na memória e ter certeza de que não conhecia Brigite nenhuma.
_Obrigada, muito obrigada. Você deve ser o ... - ela disse, enquanto estendia a mão como se estivesse acostumada com que a beijassem, com reverência.
_Sim, eu sou o ... - e me inclinei para beijar aquela mão, que era mesmo muito beijável, enquanto tentava imaginar uma maneira de prolongar ao máximo aquele encontro improvável com uma mulher bonita.
Aqui eu tenho que fazer uma pausa e explicar que eu sou um cara feio. Sim, existem diversos graus de feiúra e certamente não sou o sujeito mais feio do mundo. Mas estou lá na rabeira da fila de pessoas aquinhoadas com alguma forma de beleza. Sempre soube que as mulheres muito bonitas, com raras exceções, também são muito vaidosas e não gostam da companhia de homens feios. A não ser, é claro, que o feio em questão tenha alguma forma de satisfazer a vaidade da bela mulher vaidosa, seja com sua inteligência, riqueza, poder, força, virilidade infalível ou tudo isso junto. Infelizmente, eu não tinha nenhuma dessas qualidades, mas Brigite continuava a me olhar como se eu fosse uma espécie de escolhido.
_Você é o Roberto, não é? - disse Brigite.
Roberto era o meu vizinho. Aquilo vivia acontecendo. Eu morava no 506 e o Roberto era um coroa que morava no 509, que ficava no outro lado do corredor. Um engraçadinho havia arrancado os números finais dos apartamentos e as confusões e enganos ocorriam com muita frequência.
_Não, infelizmente eu não sou o Roberto. Somos vizinhos. O apartamento dele fica em frente, no final do corredor - eu disse, começando a explicar que alguém havia roubado os números e que muita gente se confundia.
Brigite não escondeu a decepção. Ela fechou o sorriso e retirou a mão que eu ainda segurava tolamente, pensando em francês aquelas coisas que o gambá Pepe LeBeau diria com sotaque e muita classe. Eu ainda tentei oferecer alguma coisa para que ela ficasse mais alguns segundos, mas ela saiu rapidamente se desculpando. Quando fechei a porta e olhei pelo olho mágico aquela bela criatura se movimentando pelo corredor, vi que ela remexia a bolsa, de onde retirou um objeto que me pareceu familiar. Roberto a convidou para entrar rapidamente e antes que fechasse a porta olhou para o corredor com cuidado, como para se certificar de que não havia ninguém por perto a vigiar. Eu era o único, mas não havia como ele saber disso. Seja como for, aquela foi a última vez que eu vi Roberto.
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