sexta-feira, 2 de abril de 2010
O segredo dos teus olhos
O Segredo dos Teus Olhos foi o melhor filme que vi nos últimos doze meses. Arrume um tempo e vá para o cinema conferir. A história é muito bem construída e contada. Tem um dos maiores e mais complexos "travellings" que eu me lembro de ter visto no cinema. A câmera está num balão e viaja por cima de um estádio de futebol, passeia pela torcida, desce as escadas em correria, entra pelos corredores, banheiros e no final corre de volta para o gramado com final em close.
Sem dúvida nenhuma, foi o melhor filme argentino que vi em toda a minha vida. É um clássico de nascença. E a sua história, pela maneira inteligente com que é contada, também parece contar uma história brasileira.
Também é uma história de um escritor e do livro que escreve. E às vezes me dá um arrepio pensar sobre isso, porque li recentemente o "On Writing", do Stephen King, falei outro dia de John Irving e seu personagem escritor e estou enredado em "A Invenção da Solidão", do Paul Auster. Que são três livros que tratam de escrever livros. Cada um à sua maneira. King, com suas dicas para escrever livros que fisguem o leitor, sem aborrecimentos. Irving com sua fábula só de gente e sem moral, com a miríade de acontecimentos que nos impedem de enxergar sentido na vida e em qualquer coisa. E Auster, com sua escrita difícil, parida, de autor que descasca cebolas e disseca sentimentos vivos e mortos.
Em um momento do livro de Auster, que é 1982, ele escreve sobre Giordano Bruno, que acreditava que nosso modo de pensar espelhava a natureza, ou seja, todas as coisas estão relacionadas. Devem estar mesmo, isso não soluciona nada. Mesmo assim, dá um arrepio.
Fui ao cinema ver "O Segredo dos Teus Olhos" com a minha mulher, a irmã da minha mulher e meu co-cunhado. Fazia muito, muito tempo que não saíamos os quatro juntos, sem as crianças. E isso também está relacionado com todas as coisas, porque antes do filme nós jantamos, tomamos cerveja e conversamos à tôa, como fizemos algumas vezes há mais de 15 anos.
E agora que estou aqui, escrevendo na caixa de postagem, volto a observar melhor o livro "A Invenção da Solidão". A capa mostra uma lata de sardinhas aberta e vazia. O livro não é dedicado a ninguém. E a foto do Paul Auster na orelha do livro mostra o escritor a olhar diretamente para você. E é bem verdade que Auster tem o olhar de chihuahua. Mas também é verdade que ele está inclinado, apoiado na parede perto da janela. E que o corte da foto foi feito para que pareça que ele, o autor, está direito e a parede, inclinada. Ou talvez sejam apenas os meus olhos.
E essa também é outra coincidência, porque outro dia falei de Auster e da foto que ele convida a olhar com cuidado. E sem o exame cuidadoso de fotos e lembranças, não haveria "O Segredo dos Teus Olhos".
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4 comentários:
Carecone,
Fico feliz toda vez que vejo as pessoas descobrindo o cinema argentino. Se bem que esse não parece ser o seu caso, que já deve ter visto mais do que eu. Mas sinceramente, é porque sou muito fã do cine argentino. E dos filmes do Campanella, então...Filho da Noiva é perfeito. E acho que ultimamente eles melhores que os brasileiros por causa dos roteiros. Acho mais trabalhados, histórias simples e bem contadas. Enquanto os filmes brasileiros estão com histórias e personagens muito estereotipados.
Quanto a O Segredo dosseus Olhos, puta que pariu, o filme é foda e merece todos os prêmios.
Confira também os títulos do Carlos Sorin.
grande abraço
Bono, o cinema brasileiro era muito bom em paródia. Ultimamente, o argentino realmente anda melhor. Abç,
li todos esses livros, mas não vi o filme. tenho preguiça de cinema, adoro o irving.
Franka, também tenho preguiça, mas esse filme vale mesmo a pena. E o engraçado é que a minha paixão pelo Irving começou pelo cinema, vi Hotel Muito Louco(The Hotel New Hampshire) com a Jodie Foster e comecei a ler os livros dele. Garp é muito melhor em livro que em filme(tem a Glen Close como a mãe do Garp e o R. Williams como o próprio).
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