segunda-feira, 19 de abril de 2010

Uma boa história curta de E.L.Doctorow

E.L.Doctorow é um escritor estranho. Às vezes eu acho que ele é como o Boris Vian, um sujeito que podia trafegar em qualquer gênero loiterário e se sair muito bem. Bóris é um sacana genial que ia da poesia mais sublime das Espumas Flutuantes ao thriller macabro e policialesco de Esta Noite Cuspirei no Seu Túmulo. Procuro os livros do Bóris em todas as livrarias que entro. Mas nunca encontrei nada. Guardo os livros dele na cabeça, na memória apaixonada dos dias em que o li, nos primórdios da minha iniciação livresca.

Com o Doctorow é a mesma coisa. Lembro de ter lido alguns livros sensacionais dele, incluindo Ragtime. Ele fez um faroeste muito bacana, Nome. Mas acho que li numa biblioteca, não encontro esse livro em lugar nenhum. Ou talvez tenha mofado e não me restou alternativa a não ser jogar fora.

Mais da metade dos meus livros eu comprei em sebo. Eu morava perto de um que havia na Rua da Igrejinha. Durante muito tempo, eu fui lá pelo menos uma vez por semana, todas as semanas. O cara do sebo não ia com a minha cara. Eu barganhava centavos. E de vez em quando deixava de levar um livro por causa de uma moeda. Ele não abria mão de nada. Nunca me deu um desconto que fosse. E às vezes eu comprava livros que não estavam em bom estado. Doctorow pode ter sido um desses livros. É um escritor que preciso revisitar, agora que estou revisitando tudo o que posso.

Hoje encontrei um texto http://www.newyorker.com/ novinho, novinho do E.L. Doctorow na New Yorker. É diferente de tudo o que li dele. É todo construído em diálogos, sem descrição, nem nada. É uma escrita na medida, só com o essencial para se entenda a situação e se compreenda como as pessoas estão se sentindo. É música clássica, ópera. Coisa fina. E foi surpreendente encontrar um elo de ligação com Ragtime.

Em Ragtime, um dos personagens da trama situada no início do século XX tem o seu modelo Ford T depenado. Ele então inicia uma jornada de vingança, em meio ao jazz, aos gangsters e às mulheres sufragistas. O carro é o pretexto para o início da trama.

Nesse texto, chamado Edgemont Drive, o automóvel também é o pretexto para uma história de agonia, de balanço de vida. Está na sessão de Ficção. Se você arranha um inglês, já é o suficiente. Vale a pena.

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