Meu filho tem um estilo muito peculiar de ver televisão. Não consegui encontrar uma palavra apropriada para descrever como ele assiste TV. Inquieto é pouco. Interativo não chega a 10 por cento do que ele faz. Ele pula, sobe no sofá, rola no chão, repete os gestos dos personagens dos desenhos, imita, grunhe, berra, responde, grita, sacode e se entusiasma com uma impressionante capacidade de imersão na história. Acompanha todos os detalhes. A irmã é mais quieta. Mas os primos são iguais e os colegas da escola também. Não é uma característica exclusiva esse jeito exagerado de ver TV.
Às vezes é bem cansativo ver TV perto dele. Outras vezes é superdivertido assistir um desenho com ele ao lado. Ele gosta de explicar o que está acontecendo, embora eu não entenda muita coisa mesmo com as explicações.
_Pô,véi, esse pokemon parece um meteoro e o Ash vai deixar o Pikaxu voar com eles - ele diz.
Pokemon é um desenho chato à beça. E segue um esquema repetitivo demais para o meu gosto de contar histórias. Mas tem um lado bom. Ao invés de prestar atenção no desenho, eu presto atenção no meu filho. Ele está crescendo rápido, a grande janela nos dentes da frente, em cima, já está praticamente fechada. Ele fará sete anos em breve.
Ainda guardo alguma pouca memória dos meus sete anos de idade. Lembro de brincar de queimada com os meus irmãos, numa quadra improvisada ao lado da Igreja Matriz, numa praça do interior. Lembro também dos jogos de tabuleiro, o xadrez chinês, torrinha, damas e xadrez. Só começamos a assistir TV quando nos mudamos de cidade. E eu assistia embasbacado, estático, diferente do meu filho.
De vez em quando, meu menino leva a mão à boca. O clima de Brasília resseca os lábios. Ele fica tirando aqueles pequenos fiapinhos de pele. Faz uma ferida nele mesmo sem perceber. Recomendo atenção e ele para de puxar os fiapinhos. Hoje está frio e ele fica esfregando os pés. Vou buscar um cobertor para os dois. Talvez ele estivesse mais inquieto e serelepe que o habitual por causa do frio.
O efeito Pokemon é soporífero. Em pouco tempo, os dois cochilam no sofá. Levo primeiro a minha filha para dormir debaixo do edredon. Meu campeão está mais pesado e comprido. É mais difícil carregá-lo até a cama. Rafael, o cachorrinho shi-tsu, também cochila. Sexta-feira todo mundo dorme mais cedo aqui em casa.
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