Minha mulher conseguiu treinar o cãozinho shi-tsu daqui de casa, que se chama Rafael. O nome foi dado pela minha filha, de cinco anos, no dia do seu aniversário, no ano passado. Rafael é bastante higiênico e elegante para seus vinte e cinco centímetros de altura. Mas às vezes ele se distrai. E esquece que só pode fazer em cima do jornal. Rafael é particularmente distraído às segundas e sábados.
_Rafael, não, aqui, não - eu escuto a minha mulher brigar com o cachorro. Ela usa um método de repetição da negativa ao mesmo tempo em que encosta o focinho do cachorro naquilo que o gato enterra.
Funciona. Pelo menos até o Rafa se distrair novamente. É bem chato quando ele se distrai, mas toda vez que eu lembro do Max, acho as distrações do Rafa bem fáceis de suportar.
Max, o pastor alemão aloprado do meu irmão, é um cachorro difícil. Muito difícil. Há duas semanas meu irmão recebeu um telefonema da mulher dele no meio de uma reunião de trabalho.
_Vem depressa, o Max subiu no telhado! - disse a mulher do meu irmão.
_Pessoal, vocês vão me desculpar, mas preciso sair imediatamente - disse o meu irmão para os colegas de trabalho e para o presidente da empresa.
E ao chegar à casa, meu irmão viu o seu pastor alemão no telhado, andando em círculos, espalhando umas telhas ali, outras acolá, sem coragem para pular. A casa é bem alta, se pulasse, o bicho não sobreviveria. Meu irmão teve que pegar uma escada grande e subir ele também no telhado. Depois teve que carregar o cachorro no colo. E com ele no colo, descer a escada.
Não sei como ele conseguiu fazer isso, mas conseguiu. E no mesmo dia ele resolveu internar o Max. Por causa de outras que aprontou, a idéia já vinha sendo trabalhada há tempos. Meu irmão ouviu falar de uma clínica para "bad dogs", cães de comportamento difícil que, sem tortura, são estimulados a se comportarem melhor.
_Rá, se nem a tortura funcionou com o Alex em Laranja Mecânica, imagina se isso vai funcionar com o Max - eu disse. E fiquei imaginando Max, os caras da clínica pingando gotas e gotas de colírio nos olhos do cachorro amarrado a uma cadeira...
_Os caras da Clínica assinaram um contrato que garantem que o cachorro se comportará como deve se comportar - disse o meu irmão.
_Brother, o Max não acalma nem com operação de vesícula - eu disse. Max, na cadeira da minha imaginação, ficava gritando "Ludwig, não, Ludwig, não".
_É, já tentamos isso, mas não deu certo - disse o meu irmão.
_Pois então - eu disse.
_É que estamos ficando sem opções. E não estou disposto a tirar o Max de cima do telhado novamente.
_E como ele subiu lá?
_Sabe o balanço do parquinho? Pois ele pegou impulso, pulou para a mesa alta que fica ao lado do caramanchão, da mesa para o caramanchão, dali ele pulou para a corda e pendurado com os dentes balançou até se aproximar da beirada do telhado, fez um meio giro e pulou caindo de costas sobre as telhas.
_Nãããão...
_Essa é a teoria menos complicada. Meu filho acha que ele pode ter andado pelo muro a partir da cerca do canil. Mas para ter subido no telhado dali, Max teria que superar uma distância de dois metros em ângulo negativo. Até para um macaco isso seria difícil.
_E ele pulou para o telhado por causa de quê?
_O gato da vizinha.
_Mas ele não tinha morrido?
_Não, aquele que o Max arrancou o rabo morreu, seis meses depois, atropelado pelo caminhão de lixo enquanto era perseguido. Pelo Max. Esse do telhado era um gato novo que a vizinha arranjou. O Max não conseguiu o rabo inteiro, só um pedaço.
_Só um pedaço?
_É, ele está ficando velho e desde a operação ele tem aumentado a tolerância a gatos.
_Deve ter aumentado em quase meio por cento - eu disse.
Seja como for, amanhã é domingo. E já terei notícias sobre o destino do Max. Quanto ao Rafael, hoje ele se distraiu duas vezes. Mas não contem nada para a minha mulher.
2 comentários:
o, o jeito que você fala de gatos me assusta
Leila, gosto de gatos, não tenho nenhum, mas gosto. Aqui no apê as crianças preferiram um cachorro e escolheram um pequeno, um shi-tsu, que é adorável. O Max é que é assustador...
Postar um comentário