sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Superpoderes



Tenho de confessar. Na minha cabeça, todo mundo tinha um superpoder. Só que você não poderia demorar muito tempo para descobrir o seu superpoder, senão ele desapareceria. E na minha cabeça, o superpoder só durava até o último dia dos doze anos de idade, ou seja, até a véspera do aniversário de treze anos.

Não sei quando surgiu essa idéia de superpoder, mas quando eu tinha doze anos, eu procurava o meu superpoder até cansar. Não vou culpar as revistas em quadrinhos e nem a televisão. Também não ponho a culpa no cinema, nem na má qualidade da educação. Era uma encucação minha, só isso.

Lembro de observar tudo o que acontecia comigo para ver se encontrava o meu super-poder. Teria eu uma superaudição? E colocava a mão em concha para ver se conseguia escutar as conversas dos outros apartamentos. Não ouvia nada anormal, é claro. Teria eu uma superforça? Nããã. Uma superfraqueza? Nããã.

Tentei de tudo. Seria eu capaz de andar sobre a água? Felizmente fiz o teste numa piscina, de sunga. Poderia voar? Caí no macio. Provocaria terremotos com o pensamento? Furacões com o olhar? Faria o tempo voltar? Congelaria o presente? Adivinharia o futuro? Calcularia equações algébricas não-lineares? Teria visão de raio-x? Falaria com os animais? Hipnotizaria automóveis? Comandaria aparelhos eletrônicos utilizando controles mentais e cera de ouvido? Seria capaz de transformar meu corpo em metal? Lançaria chamas pelos dedos?

Nada disso, é claro. Lembro de fazer os testes de controle mental para destravar o meu superpoder. É. Não bastava descobrir qual era o superpoder. Depois de doze anos de não utilização, era necessário saber como despertar o superpoder e utilizá-lo em sua plenitude. Como eu já sabia pelas revistas em quadrinhos, geralmente um ser nasce super ou descobre o superpoder numa situação de absoluto stress. O Hulk tem que ficar muito p da vida. O Homem-de-ferro tem que ficar à beira da morte. O Homem-Aranha tem que ser picado por uma aranha venenosa radioativa. Os quatro fantásticos têm que ser submetidos à radiação espacial. O Demolidor tem ficar cego por causa de uma substância radioativa que cai sobre seus olhos.

Rá! Mas eu não era um idiota! Eu não ia me machucar à toa, ora essa! Por isso, também fazia parte da minha busca de superpoder verificar se havia aranhas radioativas perto de casa. Também procurava localizar caminhões com substâncias radioativas e naves espaciais que pudessem me dar uma carona. E eu também prestava atenção no noticiário a respeito de meteoros e meteoritos, nunca se sabe onde eles podem cair e trazer do espaço.

O espaço. Sim, senhor. Eu também sonhava com o dia em que as mulherzinhas verdes do espaço, por causa do meu bom coração e da minha extraordinária humanidade, me nomeariam guardião perpétuo do planeta e me dariam um elmo espacial, capaz de disparar raios cósmicos para destruir canhões e baionetas. Sim, senhor.

Sim, eu era um superidiota. Ou talvez estivesse procurando no lugar errado.

2 comentários:

Rodrigo Carreiro disse...

A capacidade mental de uma criança é espetacular.

Careca disse...

Rodrigo, o ser humano é super complexo.

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