segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Arte boa dá sede

Vi diversos poemas do Manoel de Barros no domingo. Foi numa animação que faz parte da exposição “Arte para Crianças”. A Patroa, eu e as crianças resolvemos conferir a exposição depois que alguém falou que valia a pena. Quero dizer, não foi bem assim. Meu filho, de cinco anos, e eu não estávamos muito entusiasmados. Eu não demonstrei nada, disfarcei legal. No caso, meu filho não fazia a menor questão de ir e inclusive chegou a bater o pé para não ir. Nós o convencemos com o velho argumento de autoridade e necessidade.

_Vamos nessa, filhote! Quem não for não almoça!

As mulheres da família, pelo contrário, estavam entusiasmadíssimas com o programa. Minha filha, de quatro anos, escolheu o conga cor-de-rosa mais brilhante do armário para ver a exposição. E a Patroa pegou uma bolsa bem grande. Já descobri que o entusiasmo das mulheres é proporcional ao tamanho das bolsas que escolhem para sair. No caso das meninas, o item de vestuário determinante é o calçado. A regra só não vale para ocasiões de gala, onde geralmente o que importa é a combinação do tamanho do decote do vestido com o preço do sapato que combina com o vestido. No resto, a expectativa do mulherio é diretamente proporcional ao tamanho da bolsa que escolhem para sair.

Quando chegamos à exposição fiquei completamente relaxado. O local não estava lotado de hunos e nem de vândalos, como eu temia. Pelo contrário. Dava para contar as pessoas usando os dedos das mãos e dos pés. Nessa época de multidões e aglomerações festivas, foi realmente um alívio perceber que ninguém liga a mínima para arte e coisa que o valha. Se fosse uma exposição de Playstation ou de Nintendo tenho certeza de que haveria mais crianças ali do que no primeiro dia da volta às aulas.

Isso conferiu aos meus pupilos a alegria desenfreada de poder brincar com tudo o que estava à disposição com muito mais liberdade, sem entrar em filas.
E foi super, ó minha Kombi de leitores. Gostei muitíssimo da animação dos poemas do Manoel de Barros. E ao sair da projeção me deu uma sede danada. Gostei pacas de umas outras coisas, como a sala de formas geométricas e das árvores de desejos. Gostei de ver o meu filho, que estava tão resistente a ir à exposição, abrir um sorriso enorme e correr para todos os lados. E gostei de ver eu mesmo sem falar “cuidado” e “não” por mais de duas horas. Minha sede estava cada vez maior.

E do lado de fora de uma instalação gigantesca, fiquei observando os poucos adultos e crianças que passeavam pelo local. Sinceramente, fiquei constrangido de brincar naquele playground depois da explicação da monitora. Até sumiu a minha sede.

_Esta obra simboliza o útero materno em suas reentrâncias e saliências...

Nem quis ouvir o resto. Fui logo sentar num banquinho para observar os outros constrangidos. Eram pais velhos, como eu. Pais metidos a alternativos conforme a conveniência, que nem eu. Com filhos alegres e despreocupados, como os meus.
E, como eu, esses caras não se dispuseram a brincar dentro da instalação. Talvez porque não fiquem à vontade brincando em útero gigantes. Talvez porque também tenham resistência a ficar descalços em locais públicos. Então, esses pais velhos, como eu, ficaram de fora da instalação, que também tinha piscina de bolinhas e nuvens e era quente como um forno.

Dava para escutar os gritos de alegria das mulheres e crianças do lado de dentro. Depois, a Patroa saiu da instalação e foi comprar uma garrafa d’água. Arte faz as crianças suar um bocado. Mas eu prefiro poesia. E consegui tomar dois goles da garrafinha.

2 comentários:

Anônimo disse...

gostei da parte do útero da monitora.

Careca disse...

Franka, achei a monitora meio saliente. :)

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