domingo, 4 de janeiro de 2009

Código Morse para o infinito

Aqui em casa exerço legalmente a medicina dos brinquedos. Sou eu que colo tudo. Emendo e remendo. Costuro. Moldo e invento consertos para os mais diversos brinquedos, que não são feitos para durar. Os brinquedos de hoje em dia, é preciso reconhecer, são bonitos e brilhantes, mas não agüentam um tombinho de nada. Com duas horas de apertos e ricochetes eles trincam e se rompem.

Menos os Max Still, é claro. Os bonecos do Max Still agüentam porrada pra caramba. Meu filho inventa desastres terríveis para cada um deles e os bonecos agüentam todos os desafios. E sempre mantêm a cara de espertos, com um meio sorriso de prontos para outra. Meu filho leva isso ao pé da letra. Os Max Still despencam das mais diversas alturas. São pisoteados, arremessados, torcidos, espinafrados e centrifugados. Os Max são continuamente atropelados, flechados, espancados e torturados das mais angustiantes maneiras. E resistem, com o meio sorriso. Já resgatei um Max com roupa de mergulho no vaso sanitário. Já socorri um Max que caiu do terceiro andar. Enterrei um outro, que realmente foi atropelado por um carro de verdade. Ali não havia o que fazer.

E ontem fiz história. Realizei com sucesso o primeiro transplante de braço, seguido de transplante de perna do Max Still mergulhador, aquele, que salvei do vaso. Ele ganhou braço e perna de um outro Max, que devia ser um surfista ou coisa parecida. Max Mergulhador foi vítima de uma porta, que primeiramente se fechou sobre seu braço. E, segundamente, sobre uma de suas pernas. As articulações dos Max são particularmente sensíveis e pouco aceitam cola. Quer dizer, você cola, mas bastam alguns trombolhões e o colado se descola.

O Max doador foi rebatizado de Max Refill. O surfista foi vítima de atribulações diversas de primos mais velhos, que detonaram o coitado com a ajuda de um alicate. Max Refill ficou como o Kunta Kintê, sem metade do pé esquerdo e com a articulação de um braço completamente danificada. Não havia como consertar. Por isso, quando percebi o Max Mergulhador naquele estado decidi partir para a cirurgia. Max Refill ainda possui uma série de partes em bom estado. E mantém o meio sorriso. Às vezes eu acho que preciso ser como o Max, estóico e heróico. Outras vezes, penso que só mesmo sendo um boneco de plástico para aguentar uma série de abusos.

E ontem, durante os processos cirúrgicos, eu pensava: “Max manteve todos os segredos, mesmo sob a mais abominável tortura. Ele manteve o ultrajante meio sorriso no rosto, para desgosto e despeito dos seus algozes. Sim, Max sorria, para agonia de seus desprezíveis torturadores. Deitado na mesa de cirurgia, ele tamborilava com os dedos uma mensagem em código Morse para o infinito. E enquanto o perigoso cientista nazista se preparava para amputar uma de suas pernas, Max Refill... ”

2 comentários:

Anônimo disse...

as barbies também são indestrutíveis, menos os pés. um dia fiz um post a respeito, procura no buscador lá do frankamente, hahaha
feliz 2009 careca.

Careca disse...

Franka, os cabelos das barbies sofrem muito. Feliz 2009

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