sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Arrivederte!

Para mim, tudo isso que está acontecendo começou na Copa do Mundo na Espanha, em 1982. O Brasil, depois de ganhar dos argentinos, só precisava de um empate contra a Itália, que chegou à segunda fase sem ganhar um jogo. Mas a Itália produziu uma das maiores surpresas da história dos Mundiais. Eliminou o Brasil nas quartas-de-final da Copa de 1982, com uma vitória por 3 x 2, com três gols de Paolo Rossi, o camisa 20.
Nesse dia, chorei na cozinha da casa de um amigo, o Zálberto. Eu estava a caráter, vestido de Pacheco, camisa 12. Eu e o Zalba ficamos tão arrasados que não conseguíamos falar. As lágrimas amargas de Petra Von Kant não foram tão amargas quanto as minhas, naquela tarde.
Para piorar, na decisão, a desacreditada Itália superou a Alemanha e chegou a um tri-campeonato com um time experiente, uma ótima defesa e Paolo Rossi. E eu perdi um engradado de cerveja apostado com o Zalberto. Pô, até a Alemanha sucumbiu à sorte italiana.
Paolo Rossi vinha de contusão, escândalo de loteria, gripe forte e mau-olhado e mesmo assim foi o artilheiro do campeonato. Ninguém dava nada pelo cara, mas ele foi, viu e venceu. Na época, eu queria participar do Comando Canarinho, uma turma que formamos no boteco para seqüestrar o jogador que tirou a copa do mundo do Brasil.
Planejávamos todos os detalhes em nosso despeito. Iríamos lá para entortar a Torre de Pizza. Em Roma, faríamos tudo diferente dos romanos. Colocaríamos placas em todos caminhos, indicando a direção de Lisboa. Começaríamos um boicote total às pizzas, ao molho de tomate, ao manjericão, à calabreza e a todas as massas, com exceção do spaghetti, que eu não dispenso.
E no meio dos desatinos, entre um copo e outro, jurávamos que a Seleção Brasileira de 1982, que até hoje é considerada a melhor de todos os tempos, tinha sido traída por Toninho Cerezo. Por quê? Ora, basta ver que o Toninho abaixa o meião pouco antes do Paolo Rossi descer em disparada e fazer o primeiro gol. O meião abaixado era o sinal secreto. Se o Cerezo tivesse mantido o meião onde o meião deve estar, o Brasil tinha levado a partida e o caneco. Para mim e para a minha turma de boteco, todos os panacas que se vestiram de Pacheco, Cerezo era culpado. Foi julgado in absentia e à revelia, sem direito a advogado e a apresentação de defesa.
Fiquei 12 anos “por aqui” com os italianos. E com o Cerezo. Felizmente nós encontramos a italianada em outra final, na Copa do Mundo dos EUA, em 1994, quando o Brasil ganhou nos pênaltis de 3X2 . Naquele final de tarde, Baresi e Márcio Santos começaram iguais, chutando pra fora. Fizemos um boneco vodu do Márcio Santos imediatamente, está enterrado até hoje num vaso de plantas. Albertini e Romário, grande Romário, marcaram. Tudo igual, de novo. Aí Evani e Branco fizeram suas obrigações. E Taffarel brilhou. Taffarel pegou um chute do Massaro. Dunga marcou e o Roberto Baggio chutou pra fora. Arrivederte, Itália!!
Naquele dia do Tetra eu estava na casa do Joca. Me derrubaram na piscina. Até hoje não sei como cheguei em casa. Foi a primeira e única vez que me senti um campeão do mundo. De verdade, pra valer. Depois, no Penta, não foi a mesma coisa. Não teve a mesma graça. Daquela vez foi euforia total. Era a desforra, depois de doze anos de um choro dolorido, que me dói até hoje. É só lembrar do Paolo Rossi descendo quase pelo meio do campo, do Cerezo, o meião abaixado. E agora eu leio no jornal da Internet o que está acontecendo. Chamaram o embaixador. Ele foi. Chamaram de novo. Ele foi. E agora está a confusão do extradita. Todo mundo à espera da decisão do Supremo. Os protestos. Acho legítimo, protesto. Mas daí a impedir o jogo amistoso do dia 10 de fevereiro é cruzar o Rubicão!
P.S.: Somente por ocasião do Penta perdoei Cerezo. O torcedor é antes de tudo um irracional. De vez em quando ainda acendo velas para Baggio.

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