sábado, 24 de janeiro de 2009

O temível Piu-piu e o patético Frajola



Uma análise no estilo Arnaldo Jabor
Amigos ouvintes, nada como um clássico dos desenhos animados. Aprendi muito com os desenhos do Frajola e do Piu-piu. Aprendi, sobretudo, que o mal mais profundo, perverso e enganador se esconde sob as fantasias aparentemente frágeis, como a de um passarinho amarelo de olhos grandes e sedutores.

Piu-piu ou Twetty era cruel, cruel, demolidor. O gato Frajola ou Sylvester era um honesto e patético animal em busca da sobrevivência. Era muito inventivo e inteligente, mas estava condenado a não ter sucesso. O mundo capitalista e dominado pelas gaiolas de ouro jamais deixaria que um felino, obviamente do terceiro mundo, fanho, com problemas de dicção e cheio de perdigotos triunfasse sobre um pássaro. Frajola é o Prometeu acorrentado da modernidade, é a representação pantocromática do macho em sua crise apoteótica. Frajola nada, nada e morre na praia eterna da sua e da nossa incompetência de macho sul-americano. Sim, porque o Frajola é cheio de curvas e bigodes, mas é Piu-piu que sempre vence, com sua androgenia em amarelo ouro.

Piu-piu surfa na onda do nosso ego embotado pelo trabalho monótono. Ele está sempre numa boa. Poleiro, para aquele passarinho, é balanço. Se Frajola é o mito da perda do seio materno e da luta pela sobrevivência, Piu-piu é a representação eloqüente do sucesso do burguês bissexual, sempre pairando sobre a massa ignara de gatos desejosos e consumidores de Viagra.

Sim, amigos ouvintes, por mais rijo que esteja, Frajola jamais comeu e nunca comerá aquele passarinho, por mais apetitoso que ele seja. Frajola cria os planos mais estapafúrdios para capturar o Piu-piu. E quase sempre consegue. Mas quando o pássaro já está em sua boca, pronto para ser devorado, algo que não estava no roteiro sempre aparece para salvá-lo. Cofres despencam do espaço. Trens-de-ferro descarrilam subitamente. Pianos desabam sobre a cabeça do gato. E nós continuaremos a rir do pobre Frajola. Continuaremos a dar risadas, enquanto o Piu-piu, aquele sim, um bicho malvado, ri por último.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sensacional Careca, dá até p/ ouvir a voz do Jabor no rádio! Parabéns pelo texto (acho que você deveria mandar p/ ele!)
Abraço
Tina

Careca disse...

Tina, acho que vou mandar só para ouvir uma outra crônica dele reclamando de imitadores, falsos textos na Internet...

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