sábado, 10 de janeiro de 2009
McVicar
Logo depois do Natal, em 2008, eu encontrei um amigo que não via há anos.
Um dia, no século passado, esse meu amigo me ligou à noite me convocando para viajar com ele, a namorada e a irmã da namorada. Eu não diria não, de qualquer forma.
_Sairemos na madrugada de hoje – ele disse.
Na época, a minha namorada tinha viajado para outro lugar. E por despeito, eu resolvi viajar com esse meu amigo e as duas irmãs. Em dez minutos eu aprontei a minha mochila básica. Na madrugada, eu já estava pronto. Até hoje me espanto com a rapidez com que eu decidia essas viagens malucas. Meus pais deviam ficar loucos. E aparentavam tranqüilidade.
Foi uma viagem superbacana. Fomos para o sul. Passamos por Curitiba. Sorocaba. Vila Velha. Gramado. Florianópolis. Ilha do Mel. Mangaratiba. Bombas e Bombinhas. Na minha memória, o roteiro deixou de ser linear e virou um amontoado de seqüências que não ordeno direito sem um mapa. E às vezes fantasio um pouco. Lembro de poucas coisas. Mas depois de apenas dois dias de viagem, éramos dois casais de adolescentes, com quase vinte anos.
Uma das moças teve a câmara furtada. As fotos que tiramos se perderam. Nós nunca nos sentamos todos os quatro juntos para ver as fotos daquela viagem, marcante também em suas desventuras.
No meio da viagem, aquela minha namorada resolveu me encontrar. Foi um anticlímax. A cumplicidade dos dois casais, que havíamos desenvolvido em pouco mais de uma semana, desapareceu. Acabamos, eu e essa namorada, voltando para casa de ônibus. E depois o namoro terminou.
Com o sumiço das câmaras e a falta de retratos, a maior parte dessa viagem eu só lembro por conta da música. Ainda era a época da fita cassete. E eu havia acabado de gravar a trilha sonora que o Roger Daltrey havia feito para “McVicar”, um filme estrelado por ele mesmo. Durante a primeira parte da viagem antes de chegarmos às muitas praias que fomos, todos os dias escutávamos a fita no carro, percorrendo dezenas de quilômetros. E na minha memória, o que me lembro mais é de estar dentro do carro e de conversar animadamente com esse meu amigo e as duas irmãs, com risadas e gargalhadas, durante o percurso. Ao fundo tocava “My time is gonna come”. E era mesmo sensacional não estar preocupado com nada.
Quando nos encontramos, a primeira coisa que esse meu amigo perguntou foi se eu ainda tinha aquela fita. Eu disse que sim. Mas ele sabia que eu mentia. Essa fita não está em lugar nenhum. Assim como ele, só encontro essa fita dentro de mim. E ela está junto com as outras fitas e lembranças, que muitas e muitas vezes eu prefiro não tocar.
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2 comentários:
Careca,
Às vezes, acho que lembranças antigas podem ser fragmentos de memória misturados com fantasia...
Seria legal poder sonhar de vez em quando com o passado sem cortes, só para reavivar a memória...
Abraço,
Mwho.
Mwho, aí ia ser mais complicado. Como saber se o sonho sem cortes não é uma fantasia?
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