domingo, 6 de maio de 2012

Ice-Beta e o Dr. House

Beta é a peixa que minha filha ganhou de lembrancinha da festa de aniversário de uma amiga, que completou sete anos.

_Tem certeza de que não é um peixe menino, filha?

_Paiê, ô, é claro que é menina, ela é cor-de-rosa, não tá vendo?

Nos primeiros dias Beta inspirou cuidados especiais porque havia controvérsias quanto à quantidade de comida que ela poderia consumir. Depois de algumas discussões, acabamos decidindo por uma dieta de supermodel: Beta só come 4 grãozinhos de comida de peixe beta, bem esfarelados sobre o grande vaso de vidro que virou aquário. Mas de vez em quando fico com dó e deixo cair uns dois ou três grãos a mais.

_Essa peixa está bem gordinha, hein? Você está dando comida escondido pra ela?

_Quiéisso?! Acho que são gases, benhê.

Beta alterou um pouco a rotina com o primeiro mascote da casa, o Rafa. Ele é um cãozinho shi-tsu ciumento, que late muito quando estamos cuidando da Beta. Por isso, evitamos lidar com a peixa quando o cachorro está por perto. Tudo pode acontecer quando Rafa está com ciúmes. E ele tem ciúmes especialmente da minha filha.

Por isso, neste sábado, quando ouvi a minha filha chorando, a primeira coisa em que pensei foi no que o Rafa poderia ter feito desta vez. Desci as escadas correndo e encontrei a minha mulher abraçada com a minha filha, as duas chorando e o Rafa latindo feito doido.

_O que foi? Foi o Rafa? – eu disse, enquanto levava o Rafa para fora da casa.

_Não, é a Beta, paiê, a Beta morreu! – chorou a minha filha.

_Ela foi trocar a água do aquário e o peixe morreu – disse a minha mulher.

_Oh, não! Oh, não! – disse o meu filho. Ele é muito teatral. Oh! Não!

Então fui olhar o aquário e lá estava Beta, deitada durinha no fundo do aquário. As guelras estavam bem abertas, a cauda esticada. O olho grande estava ainda maior, parecia a Kate Moss naquele vídeo da internet. Na hora, rolou logo um sentimento de culpa, porque naquele dia eu havia dado pelo menos uns quatro ou cinco grãos a mais para a Beta. Tadinha, tão magrinha, tão rosa pálida.

_Joga fora, logo, joga fora, logo – disse a minha mulher.

_Não, a Beta não, não joga, não joga, não joga – disse a minha filha.

_Oh, não! Oh, não! Oh, não! – disse o meu filho.

Putz, que tragédia grega, eu pensava.

_A gente também poderia enterrar a Beta no jardim – eu disse.

_Não, joga no ralo – disse a minha mulher.

_Não, não joga – disse a minha filha.

_Vamos fritar! Fritar-ar! Fritar-ar! Fritar-ar! – disse o meu filho.

Então, quando eu me preparava para jogar Beta no ralo, notei um pequeno movimento da nadadeira. Toquei o aquário e vi que estava gelado.

_Putz, choque térmico! – eu disse, lembrando de todos os episódios do Dr. House que eu já vi na minha vida. Tratei então de colocar água do filtro no aquário e em poucos segundos, Beta começou a se movimentar e mexer as guelras.

Quando tudo se acalmou, descobrimos que minha filha tinha tentado trocar a água do aquário sozinha. Fez tudo como ensinamos, mas usou um litro de água da geladeira. Depois disso estabelecemos uma política de troca de água do aquário. Ela pode ser feita pelas crianças, mas desde que um adulto esteja de olho. E o Rafa esteja longe.

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