quarta-feira, 16 de maio de 2012
Chifres de veado
Moby - Go
Nós vivemos num país fantástico, todo mundo sabe disso. Aqui tem tatu(será mesmo o mascote da Copa?). Tem paca. Preguiça. Cotia. Anta. Tamanduá. Quer bicho mais esquisito que tamanduá? Um bicho especialista em comer formigas, com uma língua fina, longa e grudenta.
E não é só bicho esquisito. Tem frutas estranhíssimas. Caju. Graviola. Siriguela. Jenipapo. Sapoti. Jabuticaba. Tucum. Macaúba. Ingá. Cajá. Todas deliciosas e perfumadas, de vida brevíssima, não duram dois dias no fruteiro. De vez em quando, na época certa, é possível encontrar alguma delas no supermercado ou então no CEASA. Houve uma época em que íamos todos os sábados para o CEASA, comprar frutas e verduras frescas. Mas minha mulher agora também dá aulas aos sábados e eu acho chato ir ao mercado com as duas crianças.
Além dos animais e das frutas, existem também as plantas super-estranhas, com os nomes mais estapafúrdios que se possa imaginar. Para ficar só nas plantas do cerrado, aqui pertinho de casa tem Sucupira, Pau de Espeto, Unha-de-vaca, Bolsinha-de-pastor, Lobeira, Xixi-de-Macaco e Erva de passarinho. Bom, talvez a xixi-de-macaco não seja daqui, não importa, o nome é bem estranho.
Por isso, no meio dessa profusão de esquisitices e estranhezas, não me melindrei quando a minha mulher resolveu que colocará apenas uma planta específica naquele porta-vasos que construí e grudei bem parafusado na parede dos fundos do casa.
_Como é mesmo o nome da planta, amor? - eu disse. Minha memória está cada vez pior, dizem que é falta de cerveja.
_Chifres de veado - ela disse.
_Ah. E pode colocar umas orquídeas ou uns vasos com outras plantas?
_Não. De jeito nenhum. Vai ter só chifres-de-veado.
_Sei - eu disse. E eu ia falar mais alguma coisa, aquilo parecia uma mensagem cifrada. Mas não deu tempo.
_Por quê? Não gosta da idéia? - ela disse.
Meu alarme tocou na hora, igualzinho ao robô de Perdidos no Espaço. Pe-ri-go! Pe-ri-go!
_Longe de mim. Acho que é uma boa, os chifres vão ficar lindos - eu disse.
E depois, quando recebemos visitas uns dias mais tarde, todos olharam para o porta vasos e quiseram saber o que estávamos planejando fazer com aquilo.
_Bom, minha mulher está querendo plantar ... hum, como é mesmo o nome da planta, amor?
_Chifres de veado - ela disse.
As visitas se entreolharam. Disfarçaram, mudaram de assunto, falaram de futebol, da instalação da comissão da verdade, de vaias, da alta do dólar, da tungada na poupança, da cpi do Cahoeira, um monte de coisas. E então, fizeram a pergunta.
_Por quê? - eles disseram juntos, como se fosse um jogral.
_O quê? - disse a minha mulher.
_Por quê chifres-de-veado?
_Gosto da planta. Acho bonita, não importa se tem um nome esquisito - ela disse.
_Sei - eles disseram, e olharam para mim, como se eu tivesse a obrigação de explicar alguma coisa.
E como eu não disse nada, os dois trocaram um novo olhar, como se dissessem que aquilo era mesmo culpa minha. E então falamos da crise do Euro, da nova dieta, da volta da inflação, da queda na produção industrial, do minha casa minha dívida, do país rico sem pobreza, da venda da construtora e do fim do trema.
_Não me conformo até hoje. Morreu antes que eu aprendesse a usar - disse a visita.
No domingo, fomos passear no shopping e ficamos vendo vitrines. De repente, minha mulher apontou para um vaso muito bonito sobre uma mesa.
_Você sabe que planta é aquela? - ela disse.
_É a tal?
_Ela mesma.
_Vai ficar bacana lá em casa - eu disse.
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Um comentário:
Uma sugestão para ao "Bald". Na próxima vez que alguém perguntar, é só dizer assim: "Platycerium bifurcatum", pronto! resolveu teu problema.
abs
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