terça-feira, 27 de março de 2012

O tsunami publicitário esquizóide

Uma das coisas que mais me impressionam nas pesquisas de opinião sobre os índices de popularidade dos últimos governantes não é o fato deles serem estupendamente favoráveis. O que me impressiona é a descolagem que beira à esquizofrenia. Ao mesmo tempo em que as pessoas pesquisadas aplaudem os governantes, elas reclamam, e muito, da precariedade da infra-estrutura, da má qualidade e/ou ausência dos serviços de saúde, educação, transporte e segurança.

Também me impressiona o tsunami de publicidade governamental esquizóide a que estamos sendo submetidos diariamente. No Distrito Federal, isso é patético. As ruas, todas elas, estão em pandarecos e os outdoors proclamam que foram investidos um bilhão em obras. Não duvido, devem ter sido obras subterrâneas na reforma do estádio de futebol. Os hospitais públicos(e nem particulares) não possuem atendimento pediátrico regular, só atendem crianças nas emergências, mas a propaganda diz que tudo está lindo e maravilhoso. Para se ter uma idéia, a única UPA do DF, inaugurada com pompa e circunstância há dois anos, não funciona desde antes da inauguração. Fizeram o galpão, mas depois de dois concursos públicos sem que aprovados se interessassem em assumir as vagas, a UPA continua sem andar.

O transporte público é uma ameaça diária à população, com ônibus com mais de 14 anos em circulação. Pelo menos é o que informa a propaganda dos rodoviários. A propaganda do governo solta foguetes porque abriu licitação para comprar novos veículos. Na melhor das hipóteses, eles entrarão em circulação em 2013. Na segurança pública, depois de uma saraivada de danças de cadeiras, os policiais volta e meia ameaçam a população com mais uma paralisação. A marginália se rejubila. Em consequência, os criminosos perderam os pudores e atuam com desenvoltura no Plano Piloto, com assaltos, sequestros e até estupros à luz do dia.

Talvez isso esteja acontecendo por causa dos apagões diários. O próprio governo admite que nessa época do ano, as chuvas provocam um enorme aumento do número de apagões. O problema é que na seca os apagões continuam, talvez por causa do baixo índice pluviométrico. Felizmente cortaram a propaganda que falava da excelência dos serviços e do investimento fabuloso que estava sendo feito na companhia de luz.

Uma outra guerra de out-doors se desenrolava desde o início do ano entre o governo e os professores da rede pública. Eles pediam o cumprimento do acordo coletivo e o governo dizia que vinha cumprindo a coisa, mas só até o limite da lei de responsabilidade fiscal. Hoje os professores decidiram entrar em greve e, ao mesmo tempo, impedir o trânsito em seis vias do Eixo Monumental, uma das principais avenidas de Brasília. O bloqueio durou 40 minutos. Os professores antigamente reivindicavam melhores condições de trabalho, mas hoje em dia só querem mesmo é o faz-me-rir, quem pode já tirou o filho da escola pública há muito tempo. Quem não pode, prefere comprar um carro mil em suaves prestações a perder de vista. O governo continua com a propaganda de que está cumprindo com tudo, mas que veja bem, tem a lei de responsabilidade fiscal, etc.

O que eu acho mais bacana é que a grana que os governantes torram com publicidade nunca entra no limite da lei de responsabilidade fiscal.

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