sábado, 24 de março de 2012
O inimigo Rafa
JJ Grey - King Hummingbird
Rafa é o cãozinho shi-tsu da minha filha. Pesa uns três quilos, tem uns 40 cm de comprimento e uns trinta de altura. Em geral é bem fofinho, mas desde ontem está em baixa total aqui em casa. Não é sem motivos. Rafa arranhou e mordeu o rosto da minha filha. Ela está com vários pequenos arranhões na bochecha, um risco que vai da testa à ponta do nariz e um pequeno corte acima do lábio, na parte esquerda do rosto. Tudo foi superficial, mas o cortezinho perto da boca sangrou à beça. Ficamos todos assustados.
As circunstâncias do ataque não estão bem claras. Rafa teria atacado enquanto minha filha fazia carinho no cãozinho. Ela adora abraçá-lo e pode ter apertado um pouco demais e o bichinho reagiu. Outra hipótese é que o Rafa adora dormir, mas quando alguém o acorda ele geralmente fica muito assustado e irritado. Sei disso porque uma vez ele me deu uma tremenda mordida no dedão da mão quando o acordei durante uma soneca no sofá. Eu só queria colocá-lo no ninho, mas ele não quis saber de conversa. Numa outra vez ele mordeu o meu dedão do pé quando o cutuquei, sem querer, enquanto ele dormitava debaixo da mesa do almoço. Nessas duas vezes, o Rafa ficou bem irritado, rosnando e me olhando com um jeito agressivo.
Minha filha também já havia sido arranhada na bochecha uma outra vez, quando os dois brincavam. Desta vez, o Rafa ficou rosnando e latindo muito para mim quando socorri a minha filha. Percebi que ele estava tão confuso quanto eu, a menina chorava e gritava assustada com o próprio sangue. Acho que o Rafa estava tentando defendê-la de mim. Depois ele ficou bem jururu, quietinho, como se soubesse que havia feito uma besteira enorme.
Isso aconteceu ontem à noite, quando nos preparávamos para dormir. Mas ao invés da tradicional leitura de livro, acompanhada de copos de água e mais histórias para dormir, ontem tivemos chororô, muita água oxigenada, esparadrapo e metiolate.
Depois de muito tempo, as crianças se acalmaram e dormiram.
_O que faremos quanto ao Rafa? - disse a minha mulher.
_Vamos decidir amanhã. Hoje estamos com a cabeça quente e poderíamos cometer um erro irreversível.
E neste sábado, é claro, acordei com a decisão certa na cabeça, pensando em declarar o Rafa como inimigo oficial do nosso pequeno clã e baní-lo para outra residência onde ele não poderia morder menininhas indefesas. E nem dedões.
Mas, covardemente, deixamos que a menina decidisse a sorte do Rafa. E ela perdoou o cãozinho, mesmo estando com o rosto todo arranhado e com um esparadrapo ventilado enorme sobre o corte acima do lábio. Rafa passou o dia inteiro meio cabisbaixo, brocoxô, com um olhar pidão, andando para cima e para baixo.
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