Nós sempre fomos os melhores para dizer que somos os melhores em alguma coisa. Essa é que é a verdade. E gênios como Chico Anysio e Millôr Fernandes estavam ali para dizer que não é bem assim, veja como temos os nossos ridículos, veja como essa nossa mania de grandeza nos apequena.
Chico Anysio fez isso com mais de 200 tipos em mais de 60 anos de humor. Era o artista encantador, o homem que se transformava naquele sujeito esquisito que vimos na rua. Chico não tinha medo de nos fazer rir. Nem que para isso se transformasse num jovem sacana, no velhaco canalha, no boleiro cachaceiro ou no inevitável político corrupto. "Eu quero que os pobres se explodam" - seu personagem disse, muitas vezes. E a caricatura é verdadeira, eles estão pouco se lixando.
Millôr Fernandes, que eu conheci nas páginas da revista Veja, não era humorista. Era o pensador sarcástico. Seu humor era diferente, mais cáustico e ferino. Millôr era o rei do aforismo nacional, o sátiro do traço tremido, o poeta do hai-kai demolidor, o campeão da frase arrasadora. “Os corruptos podem ser encontrados em várias partes do mundo, quase todas no Brasil” - disse Millôr, com precisão demográfica.
O Brasil ficou muito mais chato sem Chico Anysio e Millôr Fernandes. Lá se vão duas figuras que nos ajudaram a suportar a sem-graceza dos poderosos com muito escracho, sarcasmo e ironia. Vão fazer muita falta.
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