Encontrei outro dia, na banca de revistas, um boneco articulado para desenho. É o primeiro fascículo de uma série que ensina a desenhar mangás, os quadrinhos japoneses. Apesar de gostar de mangás, não estou interessado em desenhá-los, mas gostei do manequim e comprei. Está sobre a mesa do computador e as crianças adoram inventar posições malucas para ele.
Meu filho torce e retorce as partes dos braços e pernas do boneco, conseguindo articular poses impossíveis. Minha filha olha e organiza o manequim. Ela prefere posições de dança, mais equilibradas, os braços e pernas esticados, as articulações das mãos e braços formando arcos, como as bailarinas.
Um de cada vez, eles se aproximam quando estou no computador e começam a mexer com o manequim. Querem ver se tenho ciúmes do objeto novo. Eu finjo que tenho, senão acaba logo a graça da brincadeira.
_Por favor, não mexa no manequim - eu digo, com voz séria.
Eles obedecem. Mas antes querem deixar o boneco numa pose bem bacana.
_E aí, pai? Gostou dessa pose? - disse o meu filho.
_Parece que ele caiu e quebrou o pé - eu disse.
_Não, ele sabe cair. Foi só uma torção, ele vai voltar a andar - ele disse.
_Só se for de muletas, ou cadeira de rodas - eu disse.
_Pai, não tem graça - ele disse.
Minutos depois minha filha se aproximou.
_Paiê, gostou dessa pose? - ela disse.
_É bem bonita. Parece que ela está pegando uma coisa em cima de um armário.
_Não, paiê. Ela está dançando.
_Tem certeza de que ela não está comendo uvas?
_Paiê, não tem graça.
Mas é engraçada essa pose. Ainda agora, o manequim está sobre a mesa. As duas pernas esticadas, uma para frente outra pra trás, como se desse um salto perfeito. Os braços estão armados em arco, a cabeça levemente inclinada. Rafael, o cãozinho shi-tsu da minha filha, começa a rosnar para o manequim.
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