domingo, 24 de abril de 2011

Máscara Baboo

Há vários anos vi uma exposição de arte africana no centro cultural do banco do Brasil. Eram peças de um museu alemão, que viajavam pelo mundo inteiro. Fiquei muito impressionado com as máscaras e com os tambores africanos. Na época fiquei muito tentado a comprar um conjunto de três máscaras, mas fiquei de pão-duragem. Os tambores eram gigantescos, não lembro de ter visto nada parecido. Não havia, é claro, tambores à venda. Depois disso, nunca mais vi daquelas máscaras. Perdi a oportunidade. O livro da exposição se esgotou rapidamente, não consegui comprar.

Uma outra exposição que vi em Brasília foi em comemoração ao centenário de imigração japonesa, com uma grande e fantástica mostra de roupas, artefatos e até uma liteira para carregar pessoas da realeza. Fiquei encantado com um monte de coisas, inclusive com o livro da exposição. Também vi máscaras japonesas fantásticas, algumas bem assustadoras. A memorabilia da exposição consistia só do livro com fotos da exposição, que infelizmente também se esgotou rapidamente. Entrei numa fila para comprar, os caras iriam encomendar e me telefonar quando o livro estivesse disponível. Quando ligaram, eu estava sem grana e abri mão da compra.

Há uns dois anos fui a uma feira de artesanato internacional no Gilberto Salomão, no Lago Sul. Encontrei um monte de máscaras africanas. Eram máscaras de animais. Encontrei um jaguar, uma zebra, uma girafa e um antílope. Comprei também quatro pequenas máscaras esculpidas, pintadas com graxa de sapato preta e vermelha. Custaram ridiculamente pouco. O sujeito de quem comprei dizia ser da Costa do Marfim. Na ocasião, vi duas belas máscaras grandes, em madeira. Cada uma custava o mesmo do que tudo o que já havia comprado.

Ao sair dali me arrependi de não ter comprado ao menos uma das máscaras. Era grande, feia, um pouco assustadora. Era diferente. Parecia uma mistura da face de um babuíno com a de um ser humano. O vendedor disse que era de uma tribo zulu da África do Sul. Eu acreditei.

Durante muito tempo mostrei a minha pequena coleção de máscaras africanas para os amigos que aparecem de vez em quando. Mas sempre achei que faltava alguma coisa.

Aí ontem eu fui numa feira internacional de artesanato. E lá estava o cara da Costa do Marfim. É um tipo meio inesquecível, como o índio tatuado de Moby Dick, Queequeg, o sujeito é um gigante negro, muito forte, de uma idade entre 50 e 60 anos, feio que dói. O rosto lembra as máscaras que vende, com os lábios grossos e um enorme nariz achatado. Obviamente, não se lembrava de mim. Dessa vez, quando eu perguntei disse que era do Senegal. A parede estava repleta de máscaras e no meio delas, em posição de destaque, lá estava a máscara zulu da África do Sul.

_E aquela ali, a máscara zulu, quanto custa?

_Aquela não é zulu, é baboo - ele disse.

_É de um babuíno?

_Não, é de povo baboo. É máscara de gente, humano.

Ele disse o preço e eu fiquei pechinchando. Pensei que a máscara poderia ficar legal, na sala reformada, junto com todas as outras bugigangas africanas. Mas depois pensei no monte de despesas extras que ainda terei neste mês e comecei a desistir da compra. O cara do Senegal percebeu e começou a baixar o preço, devagar. Chegamos ao ponto de equilíbrio, mas eu ainda vacilava quando a minha mulher chegou.

_Você não vai levar isso, vai? - ela disse.

_Isso o quê?

_Essa coisa feia aí.

_É uma máscara baboo africana, viajou milhares de quilômetros para chegar até aqui. É uma obra de arte.

_É horrível, isso sim.

_É do povo baboo, uma tribo feroz como os babuínos - disse o cara do Senegal.

Ele disse também que os homens do povo baboo eram muito respeitados em toda a África. E que as mulheres baboo não podiam fazer compras, só os maridos. Eu olhei para o sujeito e entreguei a máscara para ele, resignado. Mas antes que eu falasse qualquer coisa, ele disse:

_Para você, eu faço pela metade do preço.

_Então eu vou levar.

_Tem que passar graxa de sapato nela, de vez em quando - ele disse.

E agora, olhando a máscara com cuidado, tenho que concordar que ela é mesmo feia. Ainda assim, acho que vai ficar ótima em algum lugar.

2 comentários:

pevê disse...

Careca,
Ponha ao lado daquela foto do Dr. Cabeça. Vai ornar direitinho.

Anônimo disse...

PV: F. you.
Careca: Bota na parede em frente a cama do quarto de hospedes. Da casa nova. Só pra garantir que os hóspedes não fiquem mais tempo que o recomendável.
Cabeça

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