terça-feira, 19 de abril de 2011

Refeições inteligentes

Minha mãe costumava colocar um pé de chinelo numa cadeira vazia, ao meu lado, como motivação adicional para que eu comesse tudo o que havia no prato. Eu devia ser um chato para comer, pois aqui se faz, aqui se paga. Hoje tenho que ficar insistindo com as crianças para ver se elas também esvaziam os pratos.

Quando bebês, os dois eram comilões, mas agora ambos enrolam como podem para sair de fininho e escapar das refeições. Minha mãe e a mãe da minha mulher têm até hoje uma grande preocupação com a variedade, frescor e sabor da comida. Coisas que também procuramos reproduzir aqui em casa. A Rose é uma ótima cozinheira e a comida é bem saborosa, mesmo assim as crianças demoram muito e enrolam para almoçar e jantar.

Como já não é mais politicamente correto colocar um chinelo ao lado, numa cadeira vazia, para lembrar que uma motivação adicional poderá ser aplicada ao traseiro de quem não se alimentar direito, tenho de recorrer a outros expedientes. Um deles, que fez um sucesso extraordinário por umas duas semanas, foi a fantástica "máquina de bater no bumbum". Essa máquina maravilhosa seria importada dos Estêites, com o cartão de crédito internacional do papai aqui, eu dizia.

_Ela tem um sensor de garfadas e funciona automaticamente. Se você não comer direito, ela belisca o seu bumbum de leve. Se você enrolar e continuar sem comer, ela aplica uma palmada fraca. Se você insistir em não comer, ela aplica no mínimo três palmadas.

_Ah, paiê, isso não existe.

_Existe sim. Tem a pilha e tem a que liga na tomada. Acho que vou comprar a de tomada, que deve ter uma palmada mais forte. Essas coisas de pilha sempre são mais fracas.

_Mas aí é só tirar a máquina da tomada que ela desliga, paiê.

_Hum, é melhor ver se tem um modelo misto.

Mas eles ouviram que o governo aumentou o imposto de importação de produtos com cartão internacional e deixaram de acreditar nessa estória.

_Filha, deixa de enrolação na hora do almoço e trate de comer direito.

_Mas paiê, estou sem vontade de comer brócolis.

_Brócolis faz bem para o cérebro, deixa a gente mais inteligente.

_Mas eu já sou inteligente.

_Vai ficar mais inteligente ainda, ué.

_Se eu ficar mais inteligente eu vou ter dor de cabeça, paiê.

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