terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sobre a campanha pela volta do hífen

Não é bem a volta do hífen. Seria mais correto falar da antiga regra de uso do hífen.

Sou um saudosista, confesso. Mas veja autorretrato. É assim que se escreve pela regra da reforma ortográfica. Eu prefiro mil vezes auto-retrato. Até o corretor automático de texto concorda comigo. Com autorretrato, ele fica vermelho de raiva. Eu também fico irritado com o novo auto-retrato. Parece fora de foco. Eu fico achando que é em 3D, sobra “r”.

Autossustentável é outra que me deixa mais vermelho que o corretor automático, quase roxo. O “s” extra que a nova regra obriga me deixa com a impressão de que um militante do movimento verde está se aproximando para me cuspir por causa de crimes ecológicos que eu nem cometi. É bem verdade que não sou nenhum santo. Mas os pecadilhos verdes que cometo não são tantos assim, eu juro que troquei as sacolas plásticos por caixas de papelão. O problema é que nunca tem caixa quando eu faço compras.

Autoanálise eu vivo fazendo, mas à moda antiga, amparado pelo hífen, ouvindo o conselho de poucos e bons amigos e amigas. Autocontrole nunca tive muito, por isso não importa a maneira como escrevo. Quanto a antirracista e antissocial , considero essas duas novas ortografias aberrações impostas pelo mau gosto de dicionaristas recalcados, que deveriam ser presos ou, no mínimo, obrigados a fugir pelos esgotos pluviais de obras do PAC em morros pacificados.

Minissaia também parece grande demais com o acordo ortográfico. Eu tiraria pelo menos um “s” para ficar de bom tamanho. Antivírus é outra. Dá vontade de espirrar todas as vezes que vejo escrita sem hífen. E por causa do espirro chegamos a ultrassom. A nova redação parece reforçar o poder sonoro, parece ecoar nos ouvidos não é ? Então. Só que ninguém nunca escutou o ultra-som. Rá. Rá. Ele é usado para formar imagens, lembra? Hein? Hein? Ultra-som, bebês, exames super-legais...ops.

Pela regra nova, hiper, inter e super só podem ser usados com hífen nas palavras que começam com h ou r. Acho um super-absurdo, um hiper-abuso que só pode ter partido de pessoas que deveriam estar er... in-ter-na-das, na falta de um inter melhor.

Outro que mudou com a nova regra é o velho e bom sub, que eu costumava usar a torto e a direito com qualquer substantivo ou infinitivo que eu quisesse hum, subverter. Agora só pode hífen depois de sub quando a segunda palavra começa com b, h ou r, como em sub-base de batráquios do sub-reino dos sub-humanos panacas que adoram mudar as regras por falta do que fazer. Além de ser uma regra prá lá de sub-besta, fica bem difícil inventar uma música para decoreba com essas iniciais sem ofender algum mineiro. Outra regra que complica a feitura de música é a que só deixa usar hífen com pan e circum com segundas palavras começadas com h, m, n ou as vogais a,e,i,o e u. Eu mesmo só sei disso porque fui esperto e mandei tatuar essas letras no meu pulso esquerdo, que eu sempre consulto quando estou em dúvida.

O uso obrigatório de hífen depois de qualquer vice, no entanto, me parece bastante aceitável. Posso conviver com ele. Só não sei se o Temer conseguirá. Rá.Rá.

Por último, não gosto do novo jeito de usar mini sem hífen, como em minirreforma. Não é preconceito. Só parece que não consertou nada. O r extra parece um tijolo colocado por pura preguiça por um pedreiro pirracento. Parece o sinal de uma infiltração perigosa, que fará a palavra inteira se desmoronar. Prefiro mini-reforma. Mini mesmo. E por ser tão pequena, bem que poderiam ter deixado isso de lado, né?

2 comentários:

Cynthia disse...

Eca! Hoje tive que escrever a palavra "possecularismo". Tive que vir aqui checar como se escrevia. Ficou mais feia do que era antes.

Careca disse...

Cynthia, palavras assim dão pesadelos.:)

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