sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Três fitas cassete que adorava
Houve um tempo em que os seres humanos gravavam fitas cassetes. As fitas, que você pode conhecer em museus de tecnologia, eram superpopulares. Em todo lugar você encontrava gente vendendo. Algo como DVDs piratas, hoje em dia.
Eu amava gravar fitas cassetes. Especialmente porque eu não tinha grana para comprar discos. Felizmente, o Cabeça, o Ruble e o Rodrigão tinham e compravam. Eu pedia discos emprestados para todo mundo. Planejava as gravações com cuidado. Caprichava nas capas. Tinha fitas e mais fitas. Três delas eram especiais.
A primeira fita especial era uma de um álbum duplo do Yes, chamado Yesssongs. Os discos eram de um outro amigo, o Mauro. Era impossível de encontrar outra cópia na época. E os discos do Mauro eram bem rodados, cheios de defeitos. Era preciso aumentar o peso da agulha para que o braço acompanhasse o sulco. Senão era escorregada na certa. Para reduzir o ruído, havia um macete de se colocar água sobre a faixa desejada. Usei o sistema uma vez, mas não senti grande redução de ruído. Lembro de buscar o equilíbrio perfeito do peso do braço nestes discos, mas as bolachonas eram gastas demais pelo uso. Acabei descobrindo que o peso ideal, que permitia uma reprodução de boa qualidade, sem que a agulha escorregasse, era uma borracha de escola velha equilibrada sobre a cabeça, perpendicular à agulha. Lembro de ter gasto uma tarde inteira para gravar uma fita o Yessongs. Ficou muito boa.
Na mesma época, gravei uma fita coletânea das músicas que eu mais gostava. Era um saladão musical que no Ipod ninguém gasta mais do que alguns segundos para copiar. Na época do cassete, my brother, você gastava horas, dias, semanas. Em primeiro lugar, eu tinha que fazer uma lista de músicas e discos fontes. A lista de músicas era super simples. O problema era com os discos fontes. Felizmente, eu ia visitava muito os meus amigos e suas discotecas, que conhecia quase tão bem quanto a coleção de discos do meu irmão. Entre discos e livros, eu optava por gastar economias pechinchando os volumes no sebo da Livraria Eldorado.
A terceira fita que adorava foi gravada pelo Cabeça. Ele usou um prato de doze quilos do toca discos profissional que até hoje tem em casa. Esqueci a marca do toca-discos. Mas já vi alguns audiófilos lacrimejando ou ver o aparelho. O Cabeça fez uma mistura dos discos do Cream que possuía na época, se não me engano, Wheels of Fire, Disraeli Gears e Goodbye. Eram importados. Não sei como o Cabeça conseguia importar, mas conseguia. O resultado da fita ficou muito parecido com uma coletânea do Cream lançada em 2005, chamada Cream Gold.
Um dia, as três fitas sumiram da estante. Procurei em todo lugar. Nada. Depois do episódio, por via das dúvidas, passei a proteger todas as fitas contra a regravação.
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2 comentários:
Careca,
Eu ficava horas ouvindo FM, esperando tocar a música que eu queria gravar...
Acho que a dificuldade foi tanta, que virei um grande analfa musical...
careca, gravar fitas fez parte do nosso crescimento emocional e psicologico nos anos 80. rs
viu que yes vem pro brasil, fazer um unico show? pena q esqueci mais detalhes da nota, mas assim q li senti até o cheiro do incenso de patchuli que eu incrivelmente, adorava.
abraço,
Joceli
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