domingo, 14 de novembro de 2010

Frio e sobrancelha

A temperatura está variando muito ultimamente. Hoje de manhã, por exemplo, a temperatura era inferior a 14 graus. E chovia fino. Era daquelas chuvas que se arrastam durante horas, vindas da madrugada. Para onde se olhasse, tudo estava molhado.

Por causa disso, eu usava o meu tradicional casaco de couro. Minha mulher também usava o dela. As crianças estavam na casa da tia, com outros primos. Mantendo a tradição, nós fomos até a padaria onde sempre tomamos café da manhã aos domingos.

Eu peguei o meu suco de laranja e os pãezinhos de sempre. Minha mulher também pediu o café com leite e o omelete. À minha frente, um sujeito com quarenta e muitos anos lia o jornal na companhia da mãe, uma velhinha de cabelos brancos. Ele estava com aquelas camisas de jogging, cheia de furinhos. E a mãe com aquelas blusinhas finas, de renda, muito comuns no nordeste.

Talvez tenha sido a visão dos casacos de couro. Talvez eu tenha feito um comentário em voz alta sobre a temperatura. O fato é que a velhinha começou a chacoalhar de frio assim que eu dei a minha primeira mordida no pão.

Ela se sentou ao lado do filho, trocando de lado na mesa, ficando de costas para mim. Não adiantou. Ela continuou a balançar de frio. O cara não percebeu. De vez em quando, uma rajada de vento gelado fazia a velhinha estremecer.

Em seguida chegaram duas mulheres. Uma devia ser a mulher do cara que não percebia que a mãe passava o maior frio da paróquia. A outra era parecida com o sujeito. As duas explicaram que haviam demorado porque estavam vendo as vitrines das lojas. Viram um monte de roupas legais. E aí repararam que a velhinha chacoalhava de frio.

_Uau, nossa, que frio, coitada! - elas disseram.
_Que dó!Puxa!Tadinha! - elas disseram.

Mas não trocaram de lugar. A velhinha continuou a chacoalhar de frio.

Eu e a minha mulher terminamos o café e saímos dali.

_Caramba, quase levantei para emprestar o meu casaco para a velhinha - disse a minha mulher.
_Eu também! Só não fiz isso porque fiquei pensando no pós-empréstimo - eu disse.
_É, ia ser muito chato pedir o casaco de volta - disse a minha mulher.
_E eu adoro esse casaco de couro - falei.
_Por outro lado, aquelas duas que chegaram estavam de casaco.
_Vai ver era a Vingança Contra a Sogra Mal-amada - eu disse.
_Não, ninguém merece - disse a minha mulher.
_O que achei mais esquisito foi que a velhinha não reclamou.
_Quando eu ficar velhinha, de cabelo branco, eu vou ser bem reclamona.
_Eu já sou resmungão desde já, imagine quando ficar de cabelo branco...
_Que cabelo?
_Sobrancelha...





_

Nenhum comentário:

Frase do dia