Dois livros que li fervorosamente aos vinte e poucos anos: Zen e a arte da manutenção das motocicletas e O Guia do Mochileiro das Galáxias. Não me lembro patavina de nenhum dos dois, mas encontrei o "Guia" e estou tentando ler novamente. É meio bobo, não consigo achar muita graça. E além disso, o "Guia" descrito no livro já existe e se chama "IPad". Numa das passagens, o mochileiro narrador explica que para se saber qualquer coisa sobre qualquer coisa, basta digitar o nome daquilo no Guia para encontrar a resposta. No início dos anos 70, quando o livro foi escrito, e até mesmo quando o li pela primeira vez, nos anos 80, isso parecia mesmo uma coisa de outra galáxia. Agora não faz ninguém levantar a sobrancelha. Ser velho, já dizia o álbum de figurinhas, é se surpreender pouco.
Estou lendo muito pouco, o que é sempre uma pena. Desde que comecei a usar um óculos multifocal estou com dificuldade para concentrar na leitura. É um óculos mais. Os olhos ficam mais incomodados por mais tempo e mais rapidamente. Talvez não me adapte e passe a utilizar dois óculos. E por conta disso, me distraio facilmente, perco o fio da meada e mudo de assunto o tempo todo, além de esquecer o que estava fazendo um minuto atrás. Faço agora uma parada estratégica para ler o parágrafo daí de cima e continuar a falar sobre livros esquecidos.
Sim, ó minha querida kombi de leitores, estou fazendo um esforço enorme para me lembrar dos livros que li e já me esqueci do que se tratam. Um dos principais é "O Alvo Móvel", do John D. Mcdonald. O cara é fera. O livro é sensacional. Mas sempre preciso ler a orelha do livro para me lembrar do que acontece ali dentro. E o que é pior. Às vezes eu entro numa livraria, vou para a sessão de livros de bolso super-baratos da LP&M, olho uma porção de títulos, leio as orelhas e saio de lá com um "O Alvo Móvel" na mão. Por causa disso, tenho um nicho de prateleira na minha estante totalmente dedicada a "O Alvo Móvel".
Outro livro que sempre me esqueço de que já comprei é "Trópico de Capricórnio", de Henry Miller. O livro é ótimo. O escritor é o cara. Mas sempre confundo com o "Trópico de Câncer" e acabo levando repetido. Como resultado, tenho vários "Capricórnios" e nenhum "Trópico de Câncer". E de várias editoras diferentes. Isso sempre me deixa frustrado na livraria, porque sempre esqueço de procurar a Sabedoria do Coração, um livro fantástico do Miller que quero repor na minha estante. O fato é que emprestei para alguém e essa pessoa nunca se lembra de devolver. Ainda do Miller, sempre que saio da livraria é que me lembro de procurar "Nexus". Mas aí já estou cansado de livraria e não entro de novo. O resultado é que nunca completo a trilogia e deixo para iniciar "Sexus" e "Plexus" em outra ocasião.
O terceiro livro de que sempre me esqueço é "O Segredo de Joe Gould" de Joseph Mitchell. Li na biblioteca, há séculos. Dele só me lembro que não deveria jamais tê-lo esquecido, porque é precioso e fundamental.Uma vez, numa madrugada, assisti a uma versão do livro na TV a cabo e foi fascinante. Um conto de um dos livros da Patrícia Highsmith, que também esqueci qual é, trata basicamente da mesma coisa, de escrever sobre o que não pode ser esquecido, ainda que o tema seja pequeno, ínfimo, tolo e nulo. E o Henry Miller, ao falar de si mesmo com tanto despojamento e crueza, talvez estivesse com a antena cósmica conectada com esse modo de pensar. Mas qual seria a conexão com "O Alvo Móvel"? Não sei. Talvez seja apenas uma coisa pequena e tola.
2 comentários:
Xõ te falar, que antes de ler seu post estava pensando "preciso retomar minhas leituras" e comprei: A Sangue Frio, Trópico de Câncer e Nexus?
Há, moleque.
Sun, é uma conexão cósmico-kármica, quase... sei lá, uma mesa de fórmica.
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