Houve uma época em que todo mundo na escola tinha que torcer para um time. E aqui em Brasília, como a maioria não era prata da casa, era de gente vinda de outros estados, todo mundo tinha um time do estado de origem. E já que podia torcer para mais de um time, então a regra geral era todo mundo escolher um time em cada estado e ter um time de coração, quase sempre do estado original.
Eu tinha oito anos de idade quando descobri essas regras. Eu era um menino bem caipira. Meu irmão é que sabia das coisas e me disse para quem torcer.
_Em Goiás, você é Goiás, é o time do seu coração. Em São Paulo, você é Palmeiras. No Paraná, você é Curitiba. No Rio Grande, você é Internacional. Em Minas, você é Atlético. No Ceará, ...
_E no Rio? - eu falei.
_No Rio, você escolhe. Pode ser Botafogo, Vasco, Flamengo, América, Fluminense, tem um monte. Mas escolhe direito. Depois que a gente diz que torce para um time, não pode torcer pra outro nunca mais. Quem faz isso é vira-casaca. E ser vira-casaca é a pior coisa do mundo! Ninguém gosta de vira-casaca! Eu detesto vira-casaca!
_Entendi - eu disse.
E durante alguns dias eu penei para escolher um time no Rio. Algumas vezes eu até tentei fazer com que meu irmão escolhesse o time para mim, como havia feito com os times dos outros estados.
_Não. É você que tem que escolher, oras! - ele falou.
_Oras, mas você me disse os times nos outros estados, porque não me diz o do Rio?
_Porque lá eu só torço para o bom futebol. Não tenho time no Rio. Lá eu tenho muitas simpatias.
_E então porque eu tenho que ter?
_Porque você não é igual a mim, oras.
_Oras.
E realmente não funcionava comigo. Todo mundo que perguntava para o meu irmão sobre o time do Rio, ele dizia a mesma ladainha:
_Só tenho simpatias, no Rio. Lá eu torço mesmo é para o bom futebol.
E quando eu me perguntavam e eu respondia a mesma coisa, os caras diziam:
_Pô, esse moleque é o maior mané, repete tudo o que o irmão fala. Qualé?
Então um dia, eu cerquei o meu pai e expliquei a situação para ele. Disse que precisava urgentemente da indicação de um time para torcer no Rio.
_Eu gostava muito do Bangu - disse o meu pai.
Tomei aquilo ao pé da letra. Desde então eu digo para todo mundo que torço para o Bangu. Outro dia, quando conversava com o meu pai sobre os times de futebol, eu contei que tinha sido ele que me indicara o Bangu.
_Eu? Eu, não.Jamais. No Rio eu sempre torço pelo bom futebol...
(Pessoal, ESSE É O MEU POST NÚMERO 900!! LEGAL, NÉ?)
sexta-feira, 30 de abril de 2010
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Bananas
Recebi um e-mail sobre a conservação de bananas. Tenho me sentido um banana, de maneira que li a mensagem com a maior atenção.
Diz assim:
“Quando comprar bananas, chegue em casa e corte todas da penca com tesoura ou faca, para evitar 2 problemas: 01 - mosquito;02 - e conservar por mais tempo sem deteriorar a ponta.Normalmente a banana madura se separa da penca até mesmo pelo peso. Quando isto acontece, ela começa a melar aparecendo aqueles mosquitos de fruteira, além de oxidar e estragar mais rápido. No dia seguinte ao corte, a banana já esta com a ponta seca e fechada, conservando-se íntegra por uma semana. “
O e-mail veio com um monte de fotos que mostram que o corte de cada banana deve ser feito reto.
São conselhos valiosos. Mas estranhamente, não ligo o e-mail à prática. Nunca separo as bananas do cacho. Nunca uso uma tesoura para cortar as bananas e separá-las, uma a uma. Aqui em casa, às vezes fica cheio daquelas mosquinhas. É a mosca da fruta, que pelo que me lembro das lições de biologia, se chama Drosophila Melanogaster. Ou coisa parecida.
Minha filha de cinco anos adora bananas. É o café da manhã predileto dela. Estranhamente, não gosta de “Macaquito”, o crepe com recheio de banana, açúcar e canela.
Eu gosto muito de banana ouro. É aquela pequena, com cheiro bem adocicado. É difícil de encontrar no japonês perto de casa. Mas quando encontro, compro.
Quando criança, eu adorava banana split. Mas era muito raro conseguir comprar isso. Nas últimas férias, num restaurante lá na Bahia, achei que as crianças gostariam de experimentar banana split. Mas nem ligaram. Descobri que não gosto mais. Mas gosto de banana caramelada com sorvete de creme.
Bananas.
Ora, bolas.
Diz assim:
“Quando comprar bananas, chegue em casa e corte todas da penca com tesoura ou faca, para evitar 2 problemas: 01 - mosquito;02 - e conservar por mais tempo sem deteriorar a ponta.Normalmente a banana madura se separa da penca até mesmo pelo peso. Quando isto acontece, ela começa a melar aparecendo aqueles mosquitos de fruteira, além de oxidar e estragar mais rápido. No dia seguinte ao corte, a banana já esta com a ponta seca e fechada, conservando-se íntegra por uma semana. “
O e-mail veio com um monte de fotos que mostram que o corte de cada banana deve ser feito reto.
São conselhos valiosos. Mas estranhamente, não ligo o e-mail à prática. Nunca separo as bananas do cacho. Nunca uso uma tesoura para cortar as bananas e separá-las, uma a uma. Aqui em casa, às vezes fica cheio daquelas mosquinhas. É a mosca da fruta, que pelo que me lembro das lições de biologia, se chama Drosophila Melanogaster. Ou coisa parecida.
Minha filha de cinco anos adora bananas. É o café da manhã predileto dela. Estranhamente, não gosta de “Macaquito”, o crepe com recheio de banana, açúcar e canela.
Eu gosto muito de banana ouro. É aquela pequena, com cheiro bem adocicado. É difícil de encontrar no japonês perto de casa. Mas quando encontro, compro.
Quando criança, eu adorava banana split. Mas era muito raro conseguir comprar isso. Nas últimas férias, num restaurante lá na Bahia, achei que as crianças gostariam de experimentar banana split. Mas nem ligaram. Descobri que não gosto mais. Mas gosto de banana caramelada com sorvete de creme.
Bananas.
Ora, bolas.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
O Careca passa na prova de esforço
E nem precisei colar. Rá, rá! Foi isso mesmo, minha querida kombi de leitores, para surpresa da médica que fazia o exame, eu só comecei a correr na esteira na marca dos oito minutos e meio, quando ela acelerou.
_Põe a música do Senna - eu disse, começando a bater os pés.
Mas isso foi no final. Tenho mania de começar as coisas pelo final e depois repetir tudo. É um hábito que peguei no cinema. Aparece a cena clímax e depois vem o letreiro de "Seis meses antes", ou "Três horas mais cedo". Então aqui vai:
Duas horas e meia mais cedo.
Eu estacionei o carro e conferi o Ipod. Todas as músicas estavam lá. Nenhuma havia desaparecido. Aumentei o volume e desci do carro. "Walking on the moon".
Na recepção, duas moças de uniforme analisaram o recém-chegado, eu mesmo.
"Sedentário" - pensou a primeira.
"Nem pagando um milhão" - pensou a segunda, com um sorriso lascivo.
"Só se fosse para garantir a perpetuação da espécie" - eu pensei.
O bom de escrever você mesmo as historietas é que você também pode controlar o que os outros pensam, rá,rá.
Comecei com um exame geral em que respondi a umas perguntas bem monótonas, feitas por um médico monótono. Fiquei pensando que se não fosse o jaleco branco, o cara seria facilmente confundido com um fiscal de alfândega.
_Você tem alguma coisa a declarar? - ele diria.
Eu não tinha nada a declarar. Mas o sujeito não tinha nem olhado direito para mim. Então no meio das perguntas resolvi fazer um teste com o sujeito, ao responder sobre alergias.
_Sim, alergias. Tenho muitas. É complicado porque não sei o que provoca as reações alérgicas. Já fiz exame, mas é difícil. Uma vez fui internado por causa de marimbondos. Numa outra, quase morri por causa de um abacaxi. Teve também uma vez que tive uma forte reação ao comer manga verde com leite e...
_Manga com leite? - ele disse. E só então levantou os olhos e viu que estava brincando. Mesmo assim continuou antipático. Então eu também me cansei de ser boa praça, respondi tudo com sim e não e depois saí da sala. Vai ver nem era culpa do cara, era só um dia ruim para ele.
Continuei a rotina do check-up anual obrigatório do trabalho com a coleta de sangue numa outra sala. O atendente era super-simpático e me deu um monte de dicas para curar rápido a minha tosse. Ele tirou quatro ou cinco tubos de sangue e não senti nada. O sistema de seringas é bem interessante e muito diferente do que usei na última vez que doei sangue, no ano passado. Achei esse bem legal.
Na sala seguinte, depois de uns minutos de espera, fiz um ultra-som do coração. Fui atendido por uma mulher que parecia a irmã gêmea não-albina do Sivuca, muito sorridente e extremamente gentil. Essa médica me explicou como funciona o sistema de ultra-som em detalhes e depois me mostrou onde existem placas de gordura nas veias e artérias do meu coração. Os anos de cigarro deixaram suas marcas, mas não há de ser nada, é só me cuidar mais um pouco. Ela se despediu com um sorriso e se dizendo surpresa com o bom estado das minhas artérias e veias. Mas o que mais a surpreendeu foi a minha pressão 11X7.
_É muito boa, a sua pressão - ela disse.
_O meu problema é a péssima impressão que eu causo - eu disse. E ela era tão simpática que riu disso também.
Depois tive que esperar um bom tempo para a prova de esforço. Nessa hora, o Ipod se mostrou de uma ajuda inestimável, pois tive que esperar numa sala cheia de gente aguardando exames. Como se sabe, sala de espera de clínica hoje em dia é apenas um lugar cheio de gente irritada falando aos berros no celular. Aumentei o volume ao máximo para ouvir "Naive", do #The Kooks". Depois ouvi um monte de coisas, inclusive "Ave Cruz", com a Céu.
E aí, ó minha kombi, foi a vez da prova de esforço começar.
A atendente começou a colar adesivos com pluges metálicos no meu corpo. E eu comecei:
_Senhores, nós podemos reconstruir esse homem. Ele será melhor, mais forte, mais rápido, tchám, tchám, tchám, tanananan, tanananannnn...
A enfermeira parecia a Tia Avó de Eddie Murphy, sendo interpretada pelo próprio Eddie Murphy. Ela me olhou como se eu fosse uma seringa contaminada por coliformes fecais e eu tive que parar.
_Moça, você já colocou adesivos demais, agora só tem lugar na testa.
_Na testa não precisa - ela disse, bem séria.
_Oh!Que lástima - eu disse, com uma expressão de lord inglês.
E quando ela conectou todos os jacarés aos pluges, um painel num laptop começou a emitir um monte de bips e bops, além de exibir uns gráficos danados de bonitos.
_Huummmm, softare pirata, em laptop pirata, numa impressora provavelmente pirata, com tinta pirata - eu pensei. Essas coisas não se falam, é óbvio. Se fosse equipamento legítimo, não precisaria estar num laptop tão fácil de esconder.
_Hum, sua pressão é excelente, 11X7.
_Eu sei, sua amiga me disse a mesma coisa. Estou pensando em tatuar os números no meu braço, o que acha? - eu disse.
Para evitar o papo furado, a enfermeira ligou a esteira e eu comecei a andar depressa. Foi estranho, porque parecia que estava fugindo de uma sessão de sadomasoquismo, com todos aqueles piercings adesivos, andando sem camisa sobre a esteira. Aguentei firme.
Aos quatro minutos, ela acelerou mais forte, mas os meus batimentos cardíacos estavam numa boa. Aos seis minutos eu ainda estava longe de onde a enfermeira deveria me fazer chegar. Aos oito minutos ela abriu o jogo.
_Olha, nós queremos ver o coração dar 150.
_Então acelera, Ayrton!
E então comecei a correr na esteira na marca dos oito minutos e meio, quando ela acelerou.
_Põe a música do Senna - eu disse, começando a bater os pés.
_Vê se aguenta até completar dez minutos - disse Eddie Murphy, digo, a enfermeira.
_E lá vem ele, senhoras e senhores, completando com o brilho de sempre, o grande, o único, o sensacional, Ayrton Senna, é do Brasil-sil-sil-sil-sil.
_Moço, o senhor é doido - falou Murphy.
_Bolas, isso aqui não é psicotécnico - eu disse.
E esperei na sala ao lado até me entregarem um monte de exames. Brasil-sil-sil-sil-sil.
_Põe a música do Senna - eu disse, começando a bater os pés.
Mas isso foi no final. Tenho mania de começar as coisas pelo final e depois repetir tudo. É um hábito que peguei no cinema. Aparece a cena clímax e depois vem o letreiro de "Seis meses antes", ou "Três horas mais cedo". Então aqui vai:
Duas horas e meia mais cedo.
Eu estacionei o carro e conferi o Ipod. Todas as músicas estavam lá. Nenhuma havia desaparecido. Aumentei o volume e desci do carro. "Walking on the moon".
Na recepção, duas moças de uniforme analisaram o recém-chegado, eu mesmo.
"Sedentário" - pensou a primeira.
"Nem pagando um milhão" - pensou a segunda, com um sorriso lascivo.
"Só se fosse para garantir a perpetuação da espécie" - eu pensei.
O bom de escrever você mesmo as historietas é que você também pode controlar o que os outros pensam, rá,rá.
Comecei com um exame geral em que respondi a umas perguntas bem monótonas, feitas por um médico monótono. Fiquei pensando que se não fosse o jaleco branco, o cara seria facilmente confundido com um fiscal de alfândega.
_Você tem alguma coisa a declarar? - ele diria.
Eu não tinha nada a declarar. Mas o sujeito não tinha nem olhado direito para mim. Então no meio das perguntas resolvi fazer um teste com o sujeito, ao responder sobre alergias.
_Sim, alergias. Tenho muitas. É complicado porque não sei o que provoca as reações alérgicas. Já fiz exame, mas é difícil. Uma vez fui internado por causa de marimbondos. Numa outra, quase morri por causa de um abacaxi. Teve também uma vez que tive uma forte reação ao comer manga verde com leite e...
_Manga com leite? - ele disse. E só então levantou os olhos e viu que estava brincando. Mesmo assim continuou antipático. Então eu também me cansei de ser boa praça, respondi tudo com sim e não e depois saí da sala. Vai ver nem era culpa do cara, era só um dia ruim para ele.
Continuei a rotina do check-up anual obrigatório do trabalho com a coleta de sangue numa outra sala. O atendente era super-simpático e me deu um monte de dicas para curar rápido a minha tosse. Ele tirou quatro ou cinco tubos de sangue e não senti nada. O sistema de seringas é bem interessante e muito diferente do que usei na última vez que doei sangue, no ano passado. Achei esse bem legal.
Na sala seguinte, depois de uns minutos de espera, fiz um ultra-som do coração. Fui atendido por uma mulher que parecia a irmã gêmea não-albina do Sivuca, muito sorridente e extremamente gentil. Essa médica me explicou como funciona o sistema de ultra-som em detalhes e depois me mostrou onde existem placas de gordura nas veias e artérias do meu coração. Os anos de cigarro deixaram suas marcas, mas não há de ser nada, é só me cuidar mais um pouco. Ela se despediu com um sorriso e se dizendo surpresa com o bom estado das minhas artérias e veias. Mas o que mais a surpreendeu foi a minha pressão 11X7.
_É muito boa, a sua pressão - ela disse.
_O meu problema é a péssima impressão que eu causo - eu disse. E ela era tão simpática que riu disso também.
Depois tive que esperar um bom tempo para a prova de esforço. Nessa hora, o Ipod se mostrou de uma ajuda inestimável, pois tive que esperar numa sala cheia de gente aguardando exames. Como se sabe, sala de espera de clínica hoje em dia é apenas um lugar cheio de gente irritada falando aos berros no celular. Aumentei o volume ao máximo para ouvir "Naive", do #The Kooks". Depois ouvi um monte de coisas, inclusive "Ave Cruz", com a Céu.
E aí, ó minha kombi, foi a vez da prova de esforço começar.
A atendente começou a colar adesivos com pluges metálicos no meu corpo. E eu comecei:
_Senhores, nós podemos reconstruir esse homem. Ele será melhor, mais forte, mais rápido, tchám, tchám, tchám, tanananan, tanananannnn...
A enfermeira parecia a Tia Avó de Eddie Murphy, sendo interpretada pelo próprio Eddie Murphy. Ela me olhou como se eu fosse uma seringa contaminada por coliformes fecais e eu tive que parar.
_Moça, você já colocou adesivos demais, agora só tem lugar na testa.
_Na testa não precisa - ela disse, bem séria.
_Oh!Que lástima - eu disse, com uma expressão de lord inglês.
E quando ela conectou todos os jacarés aos pluges, um painel num laptop começou a emitir um monte de bips e bops, além de exibir uns gráficos danados de bonitos.
_Huummmm, softare pirata, em laptop pirata, numa impressora provavelmente pirata, com tinta pirata - eu pensei. Essas coisas não se falam, é óbvio. Se fosse equipamento legítimo, não precisaria estar num laptop tão fácil de esconder.
_Hum, sua pressão é excelente, 11X7.
_Eu sei, sua amiga me disse a mesma coisa. Estou pensando em tatuar os números no meu braço, o que acha? - eu disse.
Para evitar o papo furado, a enfermeira ligou a esteira e eu comecei a andar depressa. Foi estranho, porque parecia que estava fugindo de uma sessão de sadomasoquismo, com todos aqueles piercings adesivos, andando sem camisa sobre a esteira. Aguentei firme.
Aos quatro minutos, ela acelerou mais forte, mas os meus batimentos cardíacos estavam numa boa. Aos seis minutos eu ainda estava longe de onde a enfermeira deveria me fazer chegar. Aos oito minutos ela abriu o jogo.
_Olha, nós queremos ver o coração dar 150.
_Então acelera, Ayrton!
E então comecei a correr na esteira na marca dos oito minutos e meio, quando ela acelerou.
_Põe a música do Senna - eu disse, começando a bater os pés.
_Vê se aguenta até completar dez minutos - disse Eddie Murphy, digo, a enfermeira.
_E lá vem ele, senhoras e senhores, completando com o brilho de sempre, o grande, o único, o sensacional, Ayrton Senna, é do Brasil-sil-sil-sil-sil.
_Moço, o senhor é doido - falou Murphy.
_Bolas, isso aqui não é psicotécnico - eu disse.
E esperei na sala ao lado até me entregarem um monte de exames. Brasil-sil-sil-sil-sil.
terça-feira, 27 de abril de 2010
Hasta la vista, Gomez
Gomez saiu da disputa. No dia 26 de março, no post "De um energúmeno", eu escrevi:
"Outro cara chato de se observar nessa campanha eleitoral é um que de vez em quando faz par com o Neves. É o Gomez. O “z” é de propósito. Gomez parece o herói mexicano de si mesmo. É um Cantinflas sem bigode, o Gomez. E de vez em quando põe bigode. Finge que tem arroubos messiânicos, de que vai salvar a Pátria. Mas é um finório calculista. Entra sempre para dividir. Depois apóia quem acha que vai vencer. Cobra caro o segundo turno. É o burro da fábula do Esopo. Faz parceria com leão doente. Ele se contenta com uma parte do butim. Aí percebe que o leão não vai dar mais nada, o otário. E zurra."
Bom, estamos bem longe de segundo turno, então não posso dizer que acertei.
"Outro cara chato de se observar nessa campanha eleitoral é um que de vez em quando faz par com o Neves. É o Gomez. O “z” é de propósito. Gomez parece o herói mexicano de si mesmo. É um Cantinflas sem bigode, o Gomez. E de vez em quando põe bigode. Finge que tem arroubos messiânicos, de que vai salvar a Pátria. Mas é um finório calculista. Entra sempre para dividir. Depois apóia quem acha que vai vencer. Cobra caro o segundo turno. É o burro da fábula do Esopo. Faz parceria com leão doente. Ele se contenta com uma parte do butim. Aí percebe que o leão não vai dar mais nada, o otário. E zurra."
Bom, estamos bem longe de segundo turno, então não posso dizer que acertei.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
O seu futuro é duvidoso
Diz a lei que a campanha ainda não começou, mas em qualquer canto para onde se olha as eleições de outubro estão presentes. E o mais extraordinário até agora é que se fale tão pouco e de maneira tão acanhada do futuro. Tudo bem, já vivemos eleições onde os caras prometeram o céu na terra e não cumpriram, mas dessa vez não há como vislumbrar uma proposta sequer.
Não, não vou me preocupar em procurar por minha conta e risco as propostas de cada um. Acho que esse esforço deve partir dos pretensos candidatos, que devem trazer para a luz do dia a resposta para pelo menos uma pergunta das mais importantes: por quê diabos quero ser presidente?
Não considero "porque eu sou o mais preparado" uma boa resposta. Simplesmente porque isso não leva em conta proposta nenhuma. "Porque eu vou continuar a fazer o que está sendo feito" também não é uma boa resposta, já que nenhuma proposta é mencionada. "Porque o país deve ter uma agenda de desenvolvimento sustentável" parece ser uma boa resposta, mas está ligada a uma proposta que não se conhece, não foi debatida com ninguém e pode ser meramente preservacionista. "Porque o país deve ter uma primeira-dama muito bonita e inteligente" também não me convence, embora concorde que isso seria bem legal.
É bem verdade que a campanha pra valer ainda não começou, mas não consigo reconhecer um tema palpável nos candidatos. Político, em geral, tem resposta para tudo, mas fazer uma campanha em cima de dezenas de propostas não parece dar certo. Nenhum candidato, que eu saiba, conseguiu usar o faro político para captar no ar e oferecer a resposta para a grande ansiedade nacional. O que é que a maioria dos brasileiros quer? Nós queremos ser uma economia do primeiro mundo? Nós queremos a bomba? Nós queremos reduzir desigualdades? Nós queremos ampliar oportunidades? Nós queremos realmente que todos tenham acesso a uma educação de gente grande? Ou só queremos um pouquinho mais do arroz e feijão e a bagunça de sempre?
Quem vai pagar a conta?
O gênio político de JK conseguiu captar a ansiedade nacional daquele momento. Ele virou as costas e correu para abraçar o sonho de Dom Bosco. Mergulhou na alma do povo. Isso pode ter tido zilhões de consequências negativas, assim como teve muitas positivas, mas de fato, JK materializou um sonho.
Sim, isso é simplificar demais as coisas. Assim, como Collor conseguiu simplificar tudo com o combate aos marajás, FHC com a estabilização da moeda e Lula com o fim da fome no país. Essas foram as bandeiras principais daquelas eleições. Será que Serra, Dilma, Marina e Ciro(que tem saída do páreo anunciada para terça-feira) conseguem fazer isso, conseguirão captar o anseio? Ou teremos uma eleição debruçada sobre o passado?
Eu acho que haverá uma nova discussão de acertos e erros, que, para mim, foi a tônica das últimas eleições. E na minha modesta opinião, essa discussão, desatrelada da proposta do novo, é igual à música da Bete Balanço.
Não, não vou me preocupar em procurar por minha conta e risco as propostas de cada um. Acho que esse esforço deve partir dos pretensos candidatos, que devem trazer para a luz do dia a resposta para pelo menos uma pergunta das mais importantes: por quê diabos quero ser presidente?
Não considero "porque eu sou o mais preparado" uma boa resposta. Simplesmente porque isso não leva em conta proposta nenhuma. "Porque eu vou continuar a fazer o que está sendo feito" também não é uma boa resposta, já que nenhuma proposta é mencionada. "Porque o país deve ter uma agenda de desenvolvimento sustentável" parece ser uma boa resposta, mas está ligada a uma proposta que não se conhece, não foi debatida com ninguém e pode ser meramente preservacionista. "Porque o país deve ter uma primeira-dama muito bonita e inteligente" também não me convence, embora concorde que isso seria bem legal.
É bem verdade que a campanha pra valer ainda não começou, mas não consigo reconhecer um tema palpável nos candidatos. Político, em geral, tem resposta para tudo, mas fazer uma campanha em cima de dezenas de propostas não parece dar certo. Nenhum candidato, que eu saiba, conseguiu usar o faro político para captar no ar e oferecer a resposta para a grande ansiedade nacional. O que é que a maioria dos brasileiros quer? Nós queremos ser uma economia do primeiro mundo? Nós queremos a bomba? Nós queremos reduzir desigualdades? Nós queremos ampliar oportunidades? Nós queremos realmente que todos tenham acesso a uma educação de gente grande? Ou só queremos um pouquinho mais do arroz e feijão e a bagunça de sempre?
Quem vai pagar a conta?
O gênio político de JK conseguiu captar a ansiedade nacional daquele momento. Ele virou as costas e correu para abraçar o sonho de Dom Bosco. Mergulhou na alma do povo. Isso pode ter tido zilhões de consequências negativas, assim como teve muitas positivas, mas de fato, JK materializou um sonho.
Sim, isso é simplificar demais as coisas. Assim, como Collor conseguiu simplificar tudo com o combate aos marajás, FHC com a estabilização da moeda e Lula com o fim da fome no país. Essas foram as bandeiras principais daquelas eleições. Será que Serra, Dilma, Marina e Ciro(que tem saída do páreo anunciada para terça-feira) conseguem fazer isso, conseguirão captar o anseio? Ou teremos uma eleição debruçada sobre o passado?
Eu acho que haverá uma nova discussão de acertos e erros, que, para mim, foi a tônica das últimas eleições. E na minha modesta opinião, essa discussão, desatrelada da proposta do novo, é igual à música da Bete Balanço.
domingo, 25 de abril de 2010
O começo do domingo
Outro dia fui assistir a um outro desenho animado magnífico com a minha mulher e as crianças. "Como domar o seu dragão" é sensacional. E hoje, quando acordamos, cada um correu para buscar um pedaço de papel para desenhar o Fúria da Noite.
Minha filha, muito mais sábia, usou as canetinhas novas para desenhar as coisas que gosta de desenhar.
O meu está no Careca no Caminho.
sábado, 24 de abril de 2010
Max sobe no telhado
Minha mulher conseguiu treinar o cãozinho shi-tsu daqui de casa, que se chama Rafael. O nome foi dado pela minha filha, de cinco anos, no dia do seu aniversário, no ano passado. Rafael é bastante higiênico e elegante para seus vinte e cinco centímetros de altura. Mas às vezes ele se distrai. E esquece que só pode fazer em cima do jornal. Rafael é particularmente distraído às segundas e sábados.
_Rafael, não, aqui, não - eu escuto a minha mulher brigar com o cachorro. Ela usa um método de repetição da negativa ao mesmo tempo em que encosta o focinho do cachorro naquilo que o gato enterra.
Funciona. Pelo menos até o Rafa se distrair novamente. É bem chato quando ele se distrai, mas toda vez que eu lembro do Max, acho as distrações do Rafa bem fáceis de suportar.
Max, o pastor alemão aloprado do meu irmão, é um cachorro difícil. Muito difícil. Há duas semanas meu irmão recebeu um telefonema da mulher dele no meio de uma reunião de trabalho.
_Vem depressa, o Max subiu no telhado! - disse a mulher do meu irmão.
_Pessoal, vocês vão me desculpar, mas preciso sair imediatamente - disse o meu irmão para os colegas de trabalho e para o presidente da empresa.
E ao chegar à casa, meu irmão viu o seu pastor alemão no telhado, andando em círculos, espalhando umas telhas ali, outras acolá, sem coragem para pular. A casa é bem alta, se pulasse, o bicho não sobreviveria. Meu irmão teve que pegar uma escada grande e subir ele também no telhado. Depois teve que carregar o cachorro no colo. E com ele no colo, descer a escada.
Não sei como ele conseguiu fazer isso, mas conseguiu. E no mesmo dia ele resolveu internar o Max. Por causa de outras que aprontou, a idéia já vinha sendo trabalhada há tempos. Meu irmão ouviu falar de uma clínica para "bad dogs", cães de comportamento difícil que, sem tortura, são estimulados a se comportarem melhor.
_Rá, se nem a tortura funcionou com o Alex em Laranja Mecânica, imagina se isso vai funcionar com o Max - eu disse. E fiquei imaginando Max, os caras da clínica pingando gotas e gotas de colírio nos olhos do cachorro amarrado a uma cadeira...
_Os caras da Clínica assinaram um contrato que garantem que o cachorro se comportará como deve se comportar - disse o meu irmão.
_Brother, o Max não acalma nem com operação de vesícula - eu disse. Max, na cadeira da minha imaginação, ficava gritando "Ludwig, não, Ludwig, não".
_É, já tentamos isso, mas não deu certo - disse o meu irmão.
_Pois então - eu disse.
_É que estamos ficando sem opções. E não estou disposto a tirar o Max de cima do telhado novamente.
_E como ele subiu lá?
_Sabe o balanço do parquinho? Pois ele pegou impulso, pulou para a mesa alta que fica ao lado do caramanchão, da mesa para o caramanchão, dali ele pulou para a corda e pendurado com os dentes balançou até se aproximar da beirada do telhado, fez um meio giro e pulou caindo de costas sobre as telhas.
_Nãããão...
_Essa é a teoria menos complicada. Meu filho acha que ele pode ter andado pelo muro a partir da cerca do canil. Mas para ter subido no telhado dali, Max teria que superar uma distância de dois metros em ângulo negativo. Até para um macaco isso seria difícil.
_E ele pulou para o telhado por causa de quê?
_O gato da vizinha.
_Mas ele não tinha morrido?
_Não, aquele que o Max arrancou o rabo morreu, seis meses depois, atropelado pelo caminhão de lixo enquanto era perseguido. Pelo Max. Esse do telhado era um gato novo que a vizinha arranjou. O Max não conseguiu o rabo inteiro, só um pedaço.
_Só um pedaço?
_É, ele está ficando velho e desde a operação ele tem aumentado a tolerância a gatos.
_Deve ter aumentado em quase meio por cento - eu disse.
Seja como for, amanhã é domingo. E já terei notícias sobre o destino do Max. Quanto ao Rafael, hoje ele se distraiu duas vezes. Mas não contem nada para a minha mulher.
_Rafael, não, aqui, não - eu escuto a minha mulher brigar com o cachorro. Ela usa um método de repetição da negativa ao mesmo tempo em que encosta o focinho do cachorro naquilo que o gato enterra.
Funciona. Pelo menos até o Rafa se distrair novamente. É bem chato quando ele se distrai, mas toda vez que eu lembro do Max, acho as distrações do Rafa bem fáceis de suportar.
Max, o pastor alemão aloprado do meu irmão, é um cachorro difícil. Muito difícil. Há duas semanas meu irmão recebeu um telefonema da mulher dele no meio de uma reunião de trabalho.
_Vem depressa, o Max subiu no telhado! - disse a mulher do meu irmão.
_Pessoal, vocês vão me desculpar, mas preciso sair imediatamente - disse o meu irmão para os colegas de trabalho e para o presidente da empresa.
E ao chegar à casa, meu irmão viu o seu pastor alemão no telhado, andando em círculos, espalhando umas telhas ali, outras acolá, sem coragem para pular. A casa é bem alta, se pulasse, o bicho não sobreviveria. Meu irmão teve que pegar uma escada grande e subir ele também no telhado. Depois teve que carregar o cachorro no colo. E com ele no colo, descer a escada.
Não sei como ele conseguiu fazer isso, mas conseguiu. E no mesmo dia ele resolveu internar o Max. Por causa de outras que aprontou, a idéia já vinha sendo trabalhada há tempos. Meu irmão ouviu falar de uma clínica para "bad dogs", cães de comportamento difícil que, sem tortura, são estimulados a se comportarem melhor.
_Rá, se nem a tortura funcionou com o Alex em Laranja Mecânica, imagina se isso vai funcionar com o Max - eu disse. E fiquei imaginando Max, os caras da clínica pingando gotas e gotas de colírio nos olhos do cachorro amarrado a uma cadeira...
_Os caras da Clínica assinaram um contrato que garantem que o cachorro se comportará como deve se comportar - disse o meu irmão.
_Brother, o Max não acalma nem com operação de vesícula - eu disse. Max, na cadeira da minha imaginação, ficava gritando "Ludwig, não, Ludwig, não".
_É, já tentamos isso, mas não deu certo - disse o meu irmão.
_Pois então - eu disse.
_É que estamos ficando sem opções. E não estou disposto a tirar o Max de cima do telhado novamente.
_E como ele subiu lá?
_Sabe o balanço do parquinho? Pois ele pegou impulso, pulou para a mesa alta que fica ao lado do caramanchão, da mesa para o caramanchão, dali ele pulou para a corda e pendurado com os dentes balançou até se aproximar da beirada do telhado, fez um meio giro e pulou caindo de costas sobre as telhas.
_Nãããão...
_Essa é a teoria menos complicada. Meu filho acha que ele pode ter andado pelo muro a partir da cerca do canil. Mas para ter subido no telhado dali, Max teria que superar uma distância de dois metros em ângulo negativo. Até para um macaco isso seria difícil.
_E ele pulou para o telhado por causa de quê?
_O gato da vizinha.
_Mas ele não tinha morrido?
_Não, aquele que o Max arrancou o rabo morreu, seis meses depois, atropelado pelo caminhão de lixo enquanto era perseguido. Pelo Max. Esse do telhado era um gato novo que a vizinha arranjou. O Max não conseguiu o rabo inteiro, só um pedaço.
_Só um pedaço?
_É, ele está ficando velho e desde a operação ele tem aumentado a tolerância a gatos.
_Deve ter aumentado em quase meio por cento - eu disse.
Seja como for, amanhã é domingo. E já terei notícias sobre o destino do Max. Quanto ao Rafael, hoje ele se distraiu duas vezes. Mas não contem nada para a minha mulher.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
A figurinha do Careca
Sim, minha querida kombi de leitores, eu também estou nessa. Estou tentando fazer o álbum de figurinhas da Copa 2010. O problema é que eu não encontro as figurinhas. Nem o álbum. Eu sempre chego atrasado nos modismos nacionais e internacionais.
Veja o site "meiguiceserra.tumblr.com.br", por exemplo. Eu nem consegui falar do site e ele já saiu do ar. Era uma brincadeira sensacional com a foto do Serra na capa da Veja. A foto é um clássico porque o Serra parece simpático. De brincadeira, na gozação, um bando de gente tirou foto com a mão no queixo e sorrindo.
Superbacana. Teve gente que colocou dinheiro na mão apoiada no queixo. Teve gente que colocou o chefe do Simpson ao lado da foto do Serra. Teve gente que apenas sorriu com a mão no queixo. Era uma brincadeira tão boa que eu também resolvi fazer uma foto "meiga" com a logo do blog. Eu ia mandar para lá mas a turma que fez o site já tirou do ar. Eles disseram que foram mal-interpretados, que isso e aquilo. Eles disseram que era ARTE. Assim mesmo, com tudo em maiúsculas. Mas pareceu medão de patrulha. Dos contra e dos a favor. Embora eu ainda não tenha entendido como tirar uma foto com a mão no queixo seja a favor ou contra alguma coisa. Mas artista sabe das coisas, né?
De qualquer modo, aí está a minha foto com a mão no queixo. Aliás, nem é uma foto. E a mão nem é a minha. Embora essa careca aí de cima também não seja minha. E nem a falsa careca. Nem a gravata. Nem a camisa. Nem o terno, que eu mesmo pintei de preto. Mas de uma coisa eu tenho certeza. Isso não é ARTE. Nem mesmo Arte, ou arte, aRTE, ou coisa que o valha.
É só uma brincadeira.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
A vingança do Mestre Jedi
Eu e minha mulher fomos ao shopping novo da cidade, com as crianças. Tem muita gente que não gosta de bater perna em shopping. Eu me amarro. E com as crianças é especial, porque elas tendem a sumir de vista de tempos em tempos, o que aumenta a adrenalina e deixa a gente bem ligado. Eu sempre digo para mim mesmo, quem gosta de tranquilidade, sombra e água fresca, vive no campo. Vive na Europa, ou nos States. Aqui, a vida é pra valer, brother. São grandes emoções, o tempo inteiro.
E no shopping, ó minha kombi de leitores, havia uma exposição de Star Wars com direito a treinamento Jedi. Obviamente, a fila estava quilométrica. Mas não havia tumulto e os olhos das crianças estavam brilhando. De longe, elas haviam visto diversos seres disfarçados de guerreiros Jedi, obiwans e Starship Troopers (aqueles Darth Vader de branco). Era uma exposição do tipo Konga - A Mulher Gorila. Você entrava em salas diferentes, tinha cortina, surpresa, etc.
Dessa vez, graças a uma dor repentina nas costas, não pude acompanhar as crianças. A minha mulher ficou com eles durante o circuito completo, mas posso adivinhar as partes que perdi. Mas a melhor parte, ó minha kombi, eu vi de camarote. As crianças ao sair da primeira sala com cortinas passavam para uma área aberta, em grjupos de doze. Estavam todas com uma espada Jedi(daquelas retráteis) fazendo poses Jedi, além de caras e bocas Jedi. Ao centro, um rapaz fantasiado de Monge Jedi fez um belo discurso sobre as virtudes dos guerreiros Jedi. Impressionante.
As crianças não estavam nem aí, é claro, e continuavam agitando suas espadas e caprichando nas poses, caras e bocas Jedi. Meus pupilos estavam lá. E meu filho estava particulamente caprichoso quanto às caras e bocas que fazia. De onde eu estava dava para perceber que o garoto estava pensando seriamente em como usar aquela espada para acertar a cabeça do primeiro adulto que o desafiasse. E então, vindo de um cantinho oculto, surge um outro guerreiro Jedi, um rapaz com os cabelos estrategicamente parecidos com os de Anakin Skywalker, o Darth Vader jovem e hesitante entre o bem e o mal.
Os garotos o reconheceram rapidinho.
_É o Anakin, é o Anakin! - eles gritaram.
_Calma, calma, gurizada, vamos agora simular um combate Jedi.
A palavra "combate" teve um efeito imediato sobre a coluna vertebral das crianças. Elas ficaram empinadas e empunharam suas espadas com mais força. Um ou dois garotos babaram.
_Vocês estão prontos?
_Siiimmm - responderam as crianças.
_Ataquem - disse o Anakin.
E o pobre rapaz foi coberto de pancadas por todos os lados. No início ele conseguiu desviar de dois golpes cruéis que uma menina de cabelos encaracolados(É minha filha - eu disse, cutucando um velhinho do meu lado)tentava lhe aplicar na virilha. Mas eram doze crianças, ó minha kombi, e o pobre Anakin apanhou como Judas em encenação de semana santa. Meu filho acertou-lhe uma espadada no meio do crânio que deve ter doído muito (Meu filho também - eu disse, cutucando o velhinho novamente). Mas Anakin levou na esportiva. Ele continuou a fingir que era um nobre guerreiro até recolheu a espada retrátil para demonstrar que um guerreiro com a força não sente dor, ou coisa parecida. Dava para ver que a roupa do rapaz era bem acolchoada, a maior parte dos golpes era amortecida. A maior parte, porque as orelhas estavam ali, bem à mostra, o cara usava um brinco-colar igual ao Anakin do cinema. E antes que o rapaz pudesse dizer catatuia, um menininho de uns cinco anos de idade, de óculos, acertou-lhe a orelha direita com uma tremenda espadada. Tuff.
_É o meu netinho - disse o velhinho me dando uma cotovelada e levantando as sobrancelhas.
Anakin não conseguiu reprimir o palavrão. A orelha dele dobrou de tamanho e assumiu uma cor de camisa do América. Latejava. Eu nem sabia que daquela distância dava para ver uma orelha latejando, mas o Anakin me provou que isso era possível. Depois de um segundo de choque pelo palavrão, as doze crianças guiadas pelo pequeno Padawan de óculos capricharam nos golpes. Pobre Anakin. Se não fosse a intervenção do Starship Trooper, ele não teria resistido. Rapidamente, as crianças foram encaminhadas até outra sala cortinada.
Depois de uns dez minutos, todos saíram, já desarmados e sem caras e bocas Jedi, para a última etapa do treinamento, quando foram montar Legos Star Wars. Dez minutos depois, todos foram liberados com um diploma de aprovação com louvor no Treinamento Jedi.
E no shopping, ó minha kombi de leitores, havia uma exposição de Star Wars com direito a treinamento Jedi. Obviamente, a fila estava quilométrica. Mas não havia tumulto e os olhos das crianças estavam brilhando. De longe, elas haviam visto diversos seres disfarçados de guerreiros Jedi, obiwans e Starship Troopers (aqueles Darth Vader de branco). Era uma exposição do tipo Konga - A Mulher Gorila. Você entrava em salas diferentes, tinha cortina, surpresa, etc.
Dessa vez, graças a uma dor repentina nas costas, não pude acompanhar as crianças. A minha mulher ficou com eles durante o circuito completo, mas posso adivinhar as partes que perdi. Mas a melhor parte, ó minha kombi, eu vi de camarote. As crianças ao sair da primeira sala com cortinas passavam para uma área aberta, em grjupos de doze. Estavam todas com uma espada Jedi(daquelas retráteis) fazendo poses Jedi, além de caras e bocas Jedi. Ao centro, um rapaz fantasiado de Monge Jedi fez um belo discurso sobre as virtudes dos guerreiros Jedi. Impressionante.
As crianças não estavam nem aí, é claro, e continuavam agitando suas espadas e caprichando nas poses, caras e bocas Jedi. Meus pupilos estavam lá. E meu filho estava particulamente caprichoso quanto às caras e bocas que fazia. De onde eu estava dava para perceber que o garoto estava pensando seriamente em como usar aquela espada para acertar a cabeça do primeiro adulto que o desafiasse. E então, vindo de um cantinho oculto, surge um outro guerreiro Jedi, um rapaz com os cabelos estrategicamente parecidos com os de Anakin Skywalker, o Darth Vader jovem e hesitante entre o bem e o mal.
Os garotos o reconheceram rapidinho.
_É o Anakin, é o Anakin! - eles gritaram.
_Calma, calma, gurizada, vamos agora simular um combate Jedi.
A palavra "combate" teve um efeito imediato sobre a coluna vertebral das crianças. Elas ficaram empinadas e empunharam suas espadas com mais força. Um ou dois garotos babaram.
_Vocês estão prontos?
_Siiimmm - responderam as crianças.
_Ataquem - disse o Anakin.
E o pobre rapaz foi coberto de pancadas por todos os lados. No início ele conseguiu desviar de dois golpes cruéis que uma menina de cabelos encaracolados(É minha filha - eu disse, cutucando um velhinho do meu lado)tentava lhe aplicar na virilha. Mas eram doze crianças, ó minha kombi, e o pobre Anakin apanhou como Judas em encenação de semana santa. Meu filho acertou-lhe uma espadada no meio do crânio que deve ter doído muito (Meu filho também - eu disse, cutucando o velhinho novamente). Mas Anakin levou na esportiva. Ele continuou a fingir que era um nobre guerreiro até recolheu a espada retrátil para demonstrar que um guerreiro com a força não sente dor, ou coisa parecida. Dava para ver que a roupa do rapaz era bem acolchoada, a maior parte dos golpes era amortecida. A maior parte, porque as orelhas estavam ali, bem à mostra, o cara usava um brinco-colar igual ao Anakin do cinema. E antes que o rapaz pudesse dizer catatuia, um menininho de uns cinco anos de idade, de óculos, acertou-lhe a orelha direita com uma tremenda espadada. Tuff.
_É o meu netinho - disse o velhinho me dando uma cotovelada e levantando as sobrancelhas.
Anakin não conseguiu reprimir o palavrão. A orelha dele dobrou de tamanho e assumiu uma cor de camisa do América. Latejava. Eu nem sabia que daquela distância dava para ver uma orelha latejando, mas o Anakin me provou que isso era possível. Depois de um segundo de choque pelo palavrão, as doze crianças guiadas pelo pequeno Padawan de óculos capricharam nos golpes. Pobre Anakin. Se não fosse a intervenção do Starship Trooper, ele não teria resistido. Rapidamente, as crianças foram encaminhadas até outra sala cortinada.
Depois de uns dez minutos, todos saíram, já desarmados e sem caras e bocas Jedi, para a última etapa do treinamento, quando foram montar Legos Star Wars. Dez minutos depois, todos foram liberados com um diploma de aprovação com louvor no Treinamento Jedi.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Feliz aniversário, Brasília
Eu amo essa cidade. Ela guarda a memória dos mais belos dias que vivi. E também é o cenário dos fatos mais marcantes da minha vida, os diurnos e noturnos. Mas não é só por isso. Essas coisas têm mais a ver com gostar de ter vivido o que vivi, as boas coisas e as coisas ruins - que me ensinaram muito, do que com a própria cidade. Quer dizer, os fatos marcantes de qualquer vida é que são amáveis ou não. Na maioria das vezes não importa o cenário.
Não é por isso que amo Brasília. Não é pelo cenário grandioso, pela arquitetura famosa, pelo visão magnifíca do céu. Não.
Eu amo essa cidade pelo que ela tem de difícil.É sobretudo pelos dias que passam batido pela lembrança que eu amo essa cidade. Os dias em que fiquei de papo para o ar e que não têm importância nenhuma, nem para mim e nem para ninguém. Esses dias sem história é que me fazem amar essa cidade de chão pobre, de terra vermelha e árida. Os dias de olhar para o horizonte. Os dias de ficar vendo as pessoas no parque, nos clubes, de passear à tôa nas entrequadras. De comprar sorvete ou tomar um chopp numa quadra qualquer. Os dias de passear de bicicleta. Aqueles dias de chuva forte, que fiquei no ponto de ônibus. Os dias de bater perna de quadra em quadra, de andar com a turma do futebol.
Foi aqui, nessa secura iluminada, que resolvi enraizar. É aqui, onde é difícil caminhar debaixo do sol calcinante que decidi constituir família, ter filhos, viver. E é aqui, onde existe um vento seco, onde redemoinhos levantam nuvens de poeira vermelha, que eu trabalho o meu ganha-pão.
Eu amo essa cidade porque aqui não é tão fácil de se enturmar, como em outras cidades. Todo mundo tem um certo receio de invadir o espaço do outro, é preciso ligar antes, fazer mais salamaleques. As pessoas são mais melindrosas, é verdade, mas acho também que procuram ser mais cuidadosas e definitivas. Até porque não é muito fácil deixar de ser visto por aqui. Tudo é muito plano, só com muito vidro fumê e detrás de muita cerca é que você passa despercebido. Isso deixa todo mundo mais consciente da importância da privacidade.
Isso faz de Brasília uma das melhores cidades do planeta para ficar sozinho, sem ficar triste. E curtir muito.
Eu amo essa cidade porque ela não tem hino, mas tem uma porção de músicas bonitas que falam dela com carinho na voz de Caetano, Djavan, Cássia Eller, Renato Russo e Paralamas, só para mencionar poucos.
Eu amo essa cidade. Os naturais de uma cidade não precisam falar muito sobre o amor à terra natal. É sentimento muito entranhado, coisa que as palavras mais atrapalham do que ajudam a exprimir. Para mim, é quase como se tivesse nascido aqui.
Parabéns, Brasília!
Não é por isso que amo Brasília. Não é pelo cenário grandioso, pela arquitetura famosa, pelo visão magnifíca do céu. Não.
Eu amo essa cidade pelo que ela tem de difícil.É sobretudo pelos dias que passam batido pela lembrança que eu amo essa cidade. Os dias em que fiquei de papo para o ar e que não têm importância nenhuma, nem para mim e nem para ninguém. Esses dias sem história é que me fazem amar essa cidade de chão pobre, de terra vermelha e árida. Os dias de olhar para o horizonte. Os dias de ficar vendo as pessoas no parque, nos clubes, de passear à tôa nas entrequadras. De comprar sorvete ou tomar um chopp numa quadra qualquer. Os dias de passear de bicicleta. Aqueles dias de chuva forte, que fiquei no ponto de ônibus. Os dias de bater perna de quadra em quadra, de andar com a turma do futebol.
Foi aqui, nessa secura iluminada, que resolvi enraizar. É aqui, onde é difícil caminhar debaixo do sol calcinante que decidi constituir família, ter filhos, viver. E é aqui, onde existe um vento seco, onde redemoinhos levantam nuvens de poeira vermelha, que eu trabalho o meu ganha-pão.
Eu amo essa cidade porque aqui não é tão fácil de se enturmar, como em outras cidades. Todo mundo tem um certo receio de invadir o espaço do outro, é preciso ligar antes, fazer mais salamaleques. As pessoas são mais melindrosas, é verdade, mas acho também que procuram ser mais cuidadosas e definitivas. Até porque não é muito fácil deixar de ser visto por aqui. Tudo é muito plano, só com muito vidro fumê e detrás de muita cerca é que você passa despercebido. Isso deixa todo mundo mais consciente da importância da privacidade.
Isso faz de Brasília uma das melhores cidades do planeta para ficar sozinho, sem ficar triste. E curtir muito.
Eu amo essa cidade porque ela não tem hino, mas tem uma porção de músicas bonitas que falam dela com carinho na voz de Caetano, Djavan, Cássia Eller, Renato Russo e Paralamas, só para mencionar poucos.
Eu amo essa cidade. Os naturais de uma cidade não precisam falar muito sobre o amor à terra natal. É sentimento muito entranhado, coisa que as palavras mais atrapalham do que ajudam a exprimir. Para mim, é quase como se tivesse nascido aqui.
Parabéns, Brasília!
terça-feira, 20 de abril de 2010
Kid Vinil e a descoberta de VV Brown
Eu não ligo muito para dica de vendedor. Especialmente em discotecas. Em geral, entra por um ouvido, sai pelo outro. Mas já fazia um tempão que eu não comprava CD nenhum. Já fazia um tempão que eu não ouvia nada novo. E também uns bons tempos que eu não procurava encontrar nada novo.
E teria continuado desse jeito se o vendedor não tivesse escutado a minha conversa com o Cabeça. Ou talvez o vendedor fosse mesmo um abelhudo intrometido.
_É, Cabeça, pode comprar qualquer disco do Kings of Leon. Você vai gostar - eu disse.
_Não sei, não, estou mais a fim de comprar esse CD de inéditas do Hendrix.
_Hum, deve ser bom, mas vai por mim. No atual cenário musical do planeta, o Kings of Leon é rei. E entre as mulheres, a coroa fica dividida entre a Amy Winehouse, a Joss Stone, a Jessie Baylin...
_ E a VV Brown - disse o vendedor.
_Como é? - eu disse.
_VV Brown - disse o vendedor.
_Nunca ouvi falar - eu disse.
_Era backing vocal da Amy Winehouse. Vou pegar um disco para você escutar - disse o vendedor, e sumiu.
_Tu conhece esse vendedor enturmado? - disse o Cabeça.
_Nunca vi mais gordo, nem de óculos e muito menos de cavanhaque - eu disse.
_O cara parece uma versão long neck do Kid Vinil - disse o Cabeça.
_Quem é Kid Vinil? - eu disse.
_Era um disc-jóquei dos anos 80 - disse o vendedor, de volta, me estendendo um CD da VV Brown.
_É importado - disse o vendedor.
_Não importa, não importa - eu disse, duas vezes.
E a verdade é que eu gostei do CD da VV Brown. Mas custava caro. Dava para comprar o primeiro volume da trilogia Sexus, Nexus e Plexus do Henry Miller. Que eu não encontro em lugar nenhum. Só acho Nexus e Plexus, às pencas.
Acabou que não comprei. E o Cabeça preferiu o Hendrix inédito.
Viver é fazer escolhas.
E teria continuado desse jeito se o vendedor não tivesse escutado a minha conversa com o Cabeça. Ou talvez o vendedor fosse mesmo um abelhudo intrometido.
_É, Cabeça, pode comprar qualquer disco do Kings of Leon. Você vai gostar - eu disse.
_Não sei, não, estou mais a fim de comprar esse CD de inéditas do Hendrix.
_Hum, deve ser bom, mas vai por mim. No atual cenário musical do planeta, o Kings of Leon é rei. E entre as mulheres, a coroa fica dividida entre a Amy Winehouse, a Joss Stone, a Jessie Baylin...
_ E a VV Brown - disse o vendedor.
_Como é? - eu disse.
_VV Brown - disse o vendedor.
_Nunca ouvi falar - eu disse.
_Era backing vocal da Amy Winehouse. Vou pegar um disco para você escutar - disse o vendedor, e sumiu.
_Tu conhece esse vendedor enturmado? - disse o Cabeça.
_Nunca vi mais gordo, nem de óculos e muito menos de cavanhaque - eu disse.
_O cara parece uma versão long neck do Kid Vinil - disse o Cabeça.
_Quem é Kid Vinil? - eu disse.
_Era um disc-jóquei dos anos 80 - disse o vendedor, de volta, me estendendo um CD da VV Brown.
_É importado - disse o vendedor.
_Não importa, não importa - eu disse, duas vezes.
E a verdade é que eu gostei do CD da VV Brown. Mas custava caro. Dava para comprar o primeiro volume da trilogia Sexus, Nexus e Plexus do Henry Miller. Que eu não encontro em lugar nenhum. Só acho Nexus e Plexus, às pencas.
Acabou que não comprei. E o Cabeça preferiu o Hendrix inédito.
Viver é fazer escolhas.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Mais propaganda do meu blog de desenhos
Se você não aguenta mais ler os textos do blog, talvez curta os desenhos. Continuo a atualizar o blog Careca no Caminho. O link está aí do lado.
Uma boa história curta de E.L.Doctorow
E.L.Doctorow é um escritor estranho. Às vezes eu acho que ele é como o Boris Vian, um sujeito que podia trafegar em qualquer gênero loiterário e se sair muito bem. Bóris é um sacana genial que ia da poesia mais sublime das Espumas Flutuantes ao thriller macabro e policialesco de Esta Noite Cuspirei no Seu Túmulo. Procuro os livros do Bóris em todas as livrarias que entro. Mas nunca encontrei nada. Guardo os livros dele na cabeça, na memória apaixonada dos dias em que o li, nos primórdios da minha iniciação livresca.
Com o Doctorow é a mesma coisa. Lembro de ter lido alguns livros sensacionais dele, incluindo Ragtime. Ele fez um faroeste muito bacana, Nome. Mas acho que li numa biblioteca, não encontro esse livro em lugar nenhum. Ou talvez tenha mofado e não me restou alternativa a não ser jogar fora.
Mais da metade dos meus livros eu comprei em sebo. Eu morava perto de um que havia na Rua da Igrejinha. Durante muito tempo, eu fui lá pelo menos uma vez por semana, todas as semanas. O cara do sebo não ia com a minha cara. Eu barganhava centavos. E de vez em quando deixava de levar um livro por causa de uma moeda. Ele não abria mão de nada. Nunca me deu um desconto que fosse. E às vezes eu comprava livros que não estavam em bom estado. Doctorow pode ter sido um desses livros. É um escritor que preciso revisitar, agora que estou revisitando tudo o que posso.
Hoje encontrei um texto http://www.newyorker.com/ novinho, novinho do E.L. Doctorow na New Yorker. É diferente de tudo o que li dele. É todo construído em diálogos, sem descrição, nem nada. É uma escrita na medida, só com o essencial para se entenda a situação e se compreenda como as pessoas estão se sentindo. É música clássica, ópera. Coisa fina. E foi surpreendente encontrar um elo de ligação com Ragtime.
Em Ragtime, um dos personagens da trama situada no início do século XX tem o seu modelo Ford T depenado. Ele então inicia uma jornada de vingança, em meio ao jazz, aos gangsters e às mulheres sufragistas. O carro é o pretexto para o início da trama.
Nesse texto, chamado Edgemont Drive, o automóvel também é o pretexto para uma história de agonia, de balanço de vida. Está na sessão de Ficção. Se você arranha um inglês, já é o suficiente. Vale a pena.
Com o Doctorow é a mesma coisa. Lembro de ter lido alguns livros sensacionais dele, incluindo Ragtime. Ele fez um faroeste muito bacana, Nome. Mas acho que li numa biblioteca, não encontro esse livro em lugar nenhum. Ou talvez tenha mofado e não me restou alternativa a não ser jogar fora.
Mais da metade dos meus livros eu comprei em sebo. Eu morava perto de um que havia na Rua da Igrejinha. Durante muito tempo, eu fui lá pelo menos uma vez por semana, todas as semanas. O cara do sebo não ia com a minha cara. Eu barganhava centavos. E de vez em quando deixava de levar um livro por causa de uma moeda. Ele não abria mão de nada. Nunca me deu um desconto que fosse. E às vezes eu comprava livros que não estavam em bom estado. Doctorow pode ter sido um desses livros. É um escritor que preciso revisitar, agora que estou revisitando tudo o que posso.
Hoje encontrei um texto http://www.newyorker.com/ novinho, novinho do E.L. Doctorow na New Yorker. É diferente de tudo o que li dele. É todo construído em diálogos, sem descrição, nem nada. É uma escrita na medida, só com o essencial para se entenda a situação e se compreenda como as pessoas estão se sentindo. É música clássica, ópera. Coisa fina. E foi surpreendente encontrar um elo de ligação com Ragtime.
Em Ragtime, um dos personagens da trama situada no início do século XX tem o seu modelo Ford T depenado. Ele então inicia uma jornada de vingança, em meio ao jazz, aos gangsters e às mulheres sufragistas. O carro é o pretexto para o início da trama.
Nesse texto, chamado Edgemont Drive, o automóvel também é o pretexto para uma história de agonia, de balanço de vida. Está na sessão de Ficção. Se você arranha um inglês, já é o suficiente. Vale a pena.
domingo, 18 de abril de 2010
O PF do Cabeça
O Cabeça e a Mulher do Cabeça têm sido uma companhia constante e fiel há mais de dez anos. Ainda conseguimos a proeza de almoçar juntos quase todos os sábados, uma tradição respeitável. Ontem, como de praxe, fomos almoçar perto de uma livraria. Foi um almoço agradável, é lógico. Se não fosse sempre agradável, a tradição não resistiria. O restaurante é bom, não é careiro. O ambiente é bem arejado e com privacidade. O pé de direito é bem alto, você só escutaria o que se fala na mesa ao lado com a ajuda dos requintados aparelhos dos arapongas da polícia. E desse modo, podemos falar bobagem à vontade, sem medo de ser feliz.
Já não tenho a resistência etílica dos tempos em que eu achava que tinha. Mas pouco álcool no organismo não me impede de falar muita bobagem. Nesse restaurante, o Cabeça sempre pede o mesmo prato, que é muito bom, uma vez eu experimentei, quando fui sozinho com a minha mulher. E durante muito tempo eu evitei pedir esse prato porque era o prato do Cabeça, ia parecer que eu estava imitando, que era falta de imaginação, etc. Então,sempre evitei. Pedia picadinho. Filé à Diana. Parmeggiana. À Moda. Até Medalhão e Risoto eu pedi.
Pode parecer coisa à tôa, mas isso durou uns cinco anos. Toda vez que íamos nesse tal restaurante, o Cabeça nem olhava o cardápio, já ia logo pedindo o prato.
_Traz um PF, faz favor? - ele dizia.
E o PF tem um filé legítimo de altura média, arroz, feijão, tomate vermelho picadinho, ovo frito, banana assada e farofinha de mandioca com pedaços de bacon e linguiça. É, dá água na boca. E aí eu pedia outra coisa.
Mas ontem, eu e a minha mulher chegamos antes. E desta vez, já depois que os dois haviam chegado, eu resolvi fazer diferente. Na hora de pedir, fui eu que nem olhei o cardápio.
_Traz um PF, faz favor? - eu disse.
Sem levantar os olhos, eu percebi que o Cabeça estava estupefato. A Mulher do Cabeça, que é super-bem-humorada e perspicaz, já tratou logo de por panos quentes.
_Eu também vou variar, hoje. Estou pensando em comer um peixe. Vamos comer um peixe? - ela perguntou para o Cabeça.
_Peixe? Peixe? Nãããããõoooo. Vou de filé com salada.
Depois, minha mulher veio me perguntar se havia valido a pena. E eu me senti como a serpente do paraíso.
Já não tenho a resistência etílica dos tempos em que eu achava que tinha. Mas pouco álcool no organismo não me impede de falar muita bobagem. Nesse restaurante, o Cabeça sempre pede o mesmo prato, que é muito bom, uma vez eu experimentei, quando fui sozinho com a minha mulher. E durante muito tempo eu evitei pedir esse prato porque era o prato do Cabeça, ia parecer que eu estava imitando, que era falta de imaginação, etc. Então,sempre evitei. Pedia picadinho. Filé à Diana. Parmeggiana. À Moda. Até Medalhão e Risoto eu pedi.
Pode parecer coisa à tôa, mas isso durou uns cinco anos. Toda vez que íamos nesse tal restaurante, o Cabeça nem olhava o cardápio, já ia logo pedindo o prato.
_Traz um PF, faz favor? - ele dizia.
E o PF tem um filé legítimo de altura média, arroz, feijão, tomate vermelho picadinho, ovo frito, banana assada e farofinha de mandioca com pedaços de bacon e linguiça. É, dá água na boca. E aí eu pedia outra coisa.
Mas ontem, eu e a minha mulher chegamos antes. E desta vez, já depois que os dois haviam chegado, eu resolvi fazer diferente. Na hora de pedir, fui eu que nem olhei o cardápio.
_Traz um PF, faz favor? - eu disse.
Sem levantar os olhos, eu percebi que o Cabeça estava estupefato. A Mulher do Cabeça, que é super-bem-humorada e perspicaz, já tratou logo de por panos quentes.
_Eu também vou variar, hoje. Estou pensando em comer um peixe. Vamos comer um peixe? - ela perguntou para o Cabeça.
_Peixe? Peixe? Nãããããõoooo. Vou de filé com salada.
Depois, minha mulher veio me perguntar se havia valido a pena. E eu me senti como a serpente do paraíso.
sábado, 17 de abril de 2010
Em busca do tempo perdido
Tem muito tempo que o livro de Proust me encara da estante. Muito, muito tempo. E não arrumo coragem para enfrentá-lo. Umas duas ou três vezes eu comecei a ler a obra-prima de Marcel Proust, mas em todas decidi esperar mais um pouco, quando pudesse fazer um mergulho mais profundo. A ocasião, como a candidatura de Ciro, parece que é algo que estará sempre me fugindo.
Lembro de enrolar a leitura de Henry Miller. De nem abrir o livro, achando que seria chato. E depois, num dia em que fiquei na biblioteca por causa da chuva, lembro da enorme felicidade que senti ao ler "O Homem do Crânio de Lavar Roupa", um conto sensacional do Miller que me fez correr atrás de todos os seus livros.
Em outra época, enrolei a leitura do Doutor Fausto, do Thomas Mann. Quando terminei de ler o livro, tive que começar de novo. Dostoiévsky também me parecia chato, porque já havia visto a péssima versão do filme com Yul Brinner e porque os nomes compridos de "Os Irmãos Karamazov", os diminutivos, os apelidos, no início me confundiam. Tive que ler o livro depois, mais uma vez, porque a leitura de "O Jogador" é que me fez gostar de Dostoiévsky.
E depois eu vi o filme d"Os Meninos da Rua Paula", baseado no livro de
Ferenc Molnar. Aí voltei ao livro dos tempos da escola e descobri que era um resumo. Diabos, como é que podem fazer as crianças lerem resumos na escola?
Também não foi Moby Dick que me fez gostar de Melville. Foi Bartleby. E depois também descobri que na péssima biblioteca da Escola Parque, considerada uma das melhores e mais completas do país, não havia a versão integral de Moby Dick. Era uma adaptação para o público juvenil, uma lástima.
Com Guimarães Rosa, deu-se o contrário. Ao invés dos contos de Primeiras Histórias, foi o calhamaço de Grande Sertão Veredas que me fez ler tudo o que escreveu. E nessa época, meu amigo, eu acho que escrevia como Riobaldo, era muito engraçado.
Livros. Música. Desenhos. Em busca do tempo perdido. Tenho uma edição bonita, comprada em banca de revistas no tempo do onça. Ainda está com o plástico. A capa possui uns arabescos, é bem legal.
Mas ainda não será desta vez.
Lembro de enrolar a leitura de Henry Miller. De nem abrir o livro, achando que seria chato. E depois, num dia em que fiquei na biblioteca por causa da chuva, lembro da enorme felicidade que senti ao ler "O Homem do Crânio de Lavar Roupa", um conto sensacional do Miller que me fez correr atrás de todos os seus livros.
Em outra época, enrolei a leitura do Doutor Fausto, do Thomas Mann. Quando terminei de ler o livro, tive que começar de novo. Dostoiévsky também me parecia chato, porque já havia visto a péssima versão do filme com Yul Brinner e porque os nomes compridos de "Os Irmãos Karamazov", os diminutivos, os apelidos, no início me confundiam. Tive que ler o livro depois, mais uma vez, porque a leitura de "O Jogador" é que me fez gostar de Dostoiévsky.
E depois eu vi o filme d"Os Meninos da Rua Paula", baseado no livro de
Ferenc Molnar. Aí voltei ao livro dos tempos da escola e descobri que era um resumo. Diabos, como é que podem fazer as crianças lerem resumos na escola?
Também não foi Moby Dick que me fez gostar de Melville. Foi Bartleby. E depois também descobri que na péssima biblioteca da Escola Parque, considerada uma das melhores e mais completas do país, não havia a versão integral de Moby Dick. Era uma adaptação para o público juvenil, uma lástima.
Com Guimarães Rosa, deu-se o contrário. Ao invés dos contos de Primeiras Histórias, foi o calhamaço de Grande Sertão Veredas que me fez ler tudo o que escreveu. E nessa época, meu amigo, eu acho que escrevia como Riobaldo, era muito engraçado.
Livros. Música. Desenhos. Em busca do tempo perdido. Tenho uma edição bonita, comprada em banca de revistas no tempo do onça. Ainda está com o plástico. A capa possui uns arabescos, é bem legal.
Mas ainda não será desta vez.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Alvin e os Esquilos é tortura
A decepção com as eleições indiretas no Distrito Federal está acabando com o meu bom humor. Para piorar, meus filhos me pegaram para ver "Alvin e os Esquilos II".
Ave Maria.
Se você, algum dia, desejar torturar um ser humano sem deixar marcas, amarre ele numa cadeira e ponha Alvin e os Esquilos. Pior do que o primeiro episódio, só o segundo episódio.
Foi logo que eu cheguei do trabalho. Minha mulher saiu de fininho para ler sossegada e as crianças chegaram com o vídeo na mão. Loucas para uma "sessão fajuta de cinema no sofá". Nós apagamos as luzes da sala, pegamos um cobertor (está fazendo um frio danado por aqui) e comemos pipoca. E então, a sessão de tortura sem marcas começou.
As crianças adoraram. Então fingi que gostei, é claro. Chamo isso de "contra-psicologia reflexa", que é um pouco mais sofisticada que psicologia reversa.
Parece complicado, mas é simples. Eu sou do contra. Meus filhos puxaram a mim. Logo, também são do contra. Se eu digo que uma coisa é branca, eles dizem que é preta. Eu digo sim. Eles dizem não, fazendo corinho e balançando o dedo indicador. Com direito a dancinha e na-na-ná, na-na-ná. É terrível.
Então, fingi que gostei com empolgação e entusiasmo durante todo o filme. E ainda voltei algumas vezes para repetir partes que eles gostaram. E quando acabou, eu pedi para eles ficarem no sofá só mais uns dez minutos para ver mais um pouquinho. E quando eles começaram a se levantar para ir dormir, eu pedi para que esperassem só mais um pouco, que eu ia passar a minha cena predileta só mais uma vez.
_Tudo bem, mas só mais uma, paiê - concordou a minha menina.
-Pôxa, pai, eu preciso escovar - disse o meu filho.
_Não, espera mais uma vez, vou colocar as Esquiletes fazendo a dancinha da Beyoncé.
_É a última, paiê.
-É, é a última vez, juro - eu jurei, com os dedos cruzados.
Mas tenho quase certeza de que será mesmo a última vez para eu e Alvin e os Esquilos.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Duas fábulas e o orvalho
As primeiras histórias que eu me lembro de ter lido foram as fábulas de La Fontaine, com ilustrações de Gustave Doré. Algumas gravuras ficaram entranhadas para sempre na minha cabeça. A fábula da Assembléia de Ratos, por exemplo. Lembro com nitidez do amontoado de ratos na penumbra de um celeiro, as cabeças viradas para onde se adivinhava o gato. Mestre do claro e do escuro, abusando de linhas recheadas, Doré deixava um minúsculo ponto branco nos olhos dos ratos. Mas era o suficiente. E mesmo sem que se visse muito, os ratos estavam ali, às dezenas, o brilho dos olhos de cada um evidenciando o covarde horroroso fingindo coragem.
A fábula ensina a desconfiar dos pretensos valentes de plantão. Os ratos metidos se revezam em grandes discursos recheados de pérolas da oratória, latim e alemão. Mas basta um barulhinho para que todos eles disparem para suas tocas, esquecendo do guizo e de todas as bravatas.
As ilustrações de Doré também tinham um jeito bem interessante de mostrar os carneiros. Eram sempre novelos circunlinhados de lã, espreitados por lobos malvados, traídos pelos cachorros cruéis, julgados por leões gulosos. Os carneiros não tinham vez. Se davam mal em todas as fábulas. Sapos também se ferravam. A multidão, em todas as fábulas, é sempre estúpida. Fábulas são ensinamentos simplistas com uma síntese moral. São maniqueístas, mas nem por isso falsas e desimportantes.
Outra ilustração que nunca me saiu da cabeça mostrava o cordeiro, na parte de baixo na beira do córrego, prestes a ser devorado por um lobo monstruoso. O cordeiro era injustamente acusado de sujar a água do lobo. O carneirinho, humildemente, explicava para o lobo mau que aquilo era impossível porque ele estava na parte de baixo do córrego. Se alguém havia sujado a água, esse alguém era o lobo. O lobo então acusava os pais do cordeiro. Ele dizia que aquilo também era impossível, pois era órfão. O lobo então acusava os avós do cordeiro. E o cordeiro explicava que aquilo também era impossível, porque havia acabado de se mudar para a região, junto com o restante do rebanho. O lobo então lhe dava uma patada forte e lhe partia o pescoço. Contra a força, não há argumentos. Essa é a moral da história.
E sempre haverá de ser.
Ria muito quando os ratos valentões fugiam para os buracos do celeiro. Lembro de chorar de pena do carneiro. Estava nesse festival de lembranças, na hora do almoço, quando minha filha me perguntou o que é orvalho. Dei a explicação da condensação das partículas de água do ar, mas ela não se mostrou muito satisfeita. Então disse para ela perguntar para o avô, meu pai, que tem uma fascinante história de orvalho para contar.
_ E o que é fascinante, paiê?
E é como um novelo de lã. É como descascar cebolas. Como as bonecas russas, bonecas dentro de bonecas.
A fábula ensina a desconfiar dos pretensos valentes de plantão. Os ratos metidos se revezam em grandes discursos recheados de pérolas da oratória, latim e alemão. Mas basta um barulhinho para que todos eles disparem para suas tocas, esquecendo do guizo e de todas as bravatas.
As ilustrações de Doré também tinham um jeito bem interessante de mostrar os carneiros. Eram sempre novelos circunlinhados de lã, espreitados por lobos malvados, traídos pelos cachorros cruéis, julgados por leões gulosos. Os carneiros não tinham vez. Se davam mal em todas as fábulas. Sapos também se ferravam. A multidão, em todas as fábulas, é sempre estúpida. Fábulas são ensinamentos simplistas com uma síntese moral. São maniqueístas, mas nem por isso falsas e desimportantes.
Outra ilustração que nunca me saiu da cabeça mostrava o cordeiro, na parte de baixo na beira do córrego, prestes a ser devorado por um lobo monstruoso. O cordeiro era injustamente acusado de sujar a água do lobo. O carneirinho, humildemente, explicava para o lobo mau que aquilo era impossível porque ele estava na parte de baixo do córrego. Se alguém havia sujado a água, esse alguém era o lobo. O lobo então acusava os pais do cordeiro. Ele dizia que aquilo também era impossível, pois era órfão. O lobo então acusava os avós do cordeiro. E o cordeiro explicava que aquilo também era impossível, porque havia acabado de se mudar para a região, junto com o restante do rebanho. O lobo então lhe dava uma patada forte e lhe partia o pescoço. Contra a força, não há argumentos. Essa é a moral da história.
E sempre haverá de ser.
Ria muito quando os ratos valentões fugiam para os buracos do celeiro. Lembro de chorar de pena do carneiro. Estava nesse festival de lembranças, na hora do almoço, quando minha filha me perguntou o que é orvalho. Dei a explicação da condensação das partículas de água do ar, mas ela não se mostrou muito satisfeita. Então disse para ela perguntar para o avô, meu pai, que tem uma fascinante história de orvalho para contar.
_ E o que é fascinante, paiê?
E é como um novelo de lã. É como descascar cebolas. Como as bonecas russas, bonecas dentro de bonecas.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
A carpintaria do Careca
Fiquei muito surpreso. Comprei um moleskine sketchbook A3 e um livro de carpintaria pela Amazon. Foi a minha primeira compra Amazon. Feita há 4 meses. Chegou hoje.
A encomenda veio num pacote enorme. Um saco de aniagem branco, uma caixa de papelão grande e o caderno e o livro lá dentro. Não havia isopor, nem sacos de ar. Havia uma fina mas resistente folha de papelão duro, quase do tamanho da caixa. Os livros estavam embalados em plástico. Tudo muito firme. Na medida. Sem excesso e muito seguro.
Gostei de tudo. Até da demora.
O sketchbook A3 é muito bonito e ainda não sei o que vou desenhar, nem o material de desenho que vou usar. Procuro seguir temas nos cadernos A5. Masainda não tenho idéia do que fazer com o A3. Em geral uso tinta gel preta. Os cadernos que começo a desenhar a lápis, termino a lápis. Em alguns cadernos usei o Neocollor II da Caran DÁche, um lápis de cera muito legal, que me devolveu o prazer de desenhar colorido. Mas em geral desenho com a caneta gel. Gosto de desenhar contornos limpos. Quanto mais limpo, melhor.
Um único caderno possui desenhos feitos de diferentes materiais, mas não gosto muito dele. Gosto mais dos que não consigo adivinhar pela lombada, dos que me fazem abrir o caderno e olhar o que tem dentro. Não é surpresa nenhuma, meus temas são bem repetitivos: gosto de desenhar bichos, plantas, caras, objetos, monstros e brinquedos das crianças. Também gosto de desenhar flores. Gosto muito de desenhar pássaros. Não gosto muito de desenhar nus. Adoro desenhar robôs.
Durante muitos anos eu fiquei sem desenhar. Comecei a desenhar nos cadernos moleskines porque eu não dava muito valor ao que desenhava. Depois voltei a desenhar em folhas soltas ou em cadernos com pauta, comuns. As folhas soltas desapareciam. Os cadernos sumiam, sempre. Os cadernos moleskines me ajudaram a disciplinar a perda dos cadernos e o uso do papel. Eles custam muito caro e são difíceis de encontrar. Eu vigio os cadernos, nunca perdi nenhum. Também disciplino o uso.
O preço do moleskine me fez procurar outros cadernos e sketchbooks. A Tilibra tem o Opus, sem pauta, que é muito bom. Mas a folha é um pouco fina para quem tem a mão pesada como eu tenho. Com um mata-borrão espesso, funciona muito bem. O Opus não tem elástico, nem marcador, mas isso é muito fácil de colocar. Em um dia, há dois anos, eu coloquei marcador e elástico em vinte cadernos Opus. Costurei à mão todos os elásticos e usei um estilete para cortar a capa de papelão. Ficaram ótimos. De vez em quando pego um para desenhar.O Cícero, dica da M.J., também tem um caderninho legal. Mas é bem mais caro que qualquer similar nacional.
Não acho que eu desenho bem. Mas eu gosto de desenhar e aprendi a valorizar o que eu desenho. Procuro acompanhar o meu exercício diário de escrita com um desenho. Procuro ler livros ou parte de livros diariamente. Considero essas atividades fundamentais para o meu bem-estar. E depois, se sobrar um tempo, talvez ainda aprenda alguma coisa sobre carpintaria.
A encomenda veio num pacote enorme. Um saco de aniagem branco, uma caixa de papelão grande e o caderno e o livro lá dentro. Não havia isopor, nem sacos de ar. Havia uma fina mas resistente folha de papelão duro, quase do tamanho da caixa. Os livros estavam embalados em plástico. Tudo muito firme. Na medida. Sem excesso e muito seguro.
Gostei de tudo. Até da demora.
O sketchbook A3 é muito bonito e ainda não sei o que vou desenhar, nem o material de desenho que vou usar. Procuro seguir temas nos cadernos A5. Masainda não tenho idéia do que fazer com o A3. Em geral uso tinta gel preta. Os cadernos que começo a desenhar a lápis, termino a lápis. Em alguns cadernos usei o Neocollor II da Caran DÁche, um lápis de cera muito legal, que me devolveu o prazer de desenhar colorido. Mas em geral desenho com a caneta gel. Gosto de desenhar contornos limpos. Quanto mais limpo, melhor.
Um único caderno possui desenhos feitos de diferentes materiais, mas não gosto muito dele. Gosto mais dos que não consigo adivinhar pela lombada, dos que me fazem abrir o caderno e olhar o que tem dentro. Não é surpresa nenhuma, meus temas são bem repetitivos: gosto de desenhar bichos, plantas, caras, objetos, monstros e brinquedos das crianças. Também gosto de desenhar flores. Gosto muito de desenhar pássaros. Não gosto muito de desenhar nus. Adoro desenhar robôs.
Durante muitos anos eu fiquei sem desenhar. Comecei a desenhar nos cadernos moleskines porque eu não dava muito valor ao que desenhava. Depois voltei a desenhar em folhas soltas ou em cadernos com pauta, comuns. As folhas soltas desapareciam. Os cadernos sumiam, sempre. Os cadernos moleskines me ajudaram a disciplinar a perda dos cadernos e o uso do papel. Eles custam muito caro e são difíceis de encontrar. Eu vigio os cadernos, nunca perdi nenhum. Também disciplino o uso.
O preço do moleskine me fez procurar outros cadernos e sketchbooks. A Tilibra tem o Opus, sem pauta, que é muito bom. Mas a folha é um pouco fina para quem tem a mão pesada como eu tenho. Com um mata-borrão espesso, funciona muito bem. O Opus não tem elástico, nem marcador, mas isso é muito fácil de colocar. Em um dia, há dois anos, eu coloquei marcador e elástico em vinte cadernos Opus. Costurei à mão todos os elásticos e usei um estilete para cortar a capa de papelão. Ficaram ótimos. De vez em quando pego um para desenhar.O Cícero, dica da M.J., também tem um caderninho legal. Mas é bem mais caro que qualquer similar nacional.
Não acho que eu desenho bem. Mas eu gosto de desenhar e aprendi a valorizar o que eu desenho. Procuro acompanhar o meu exercício diário de escrita com um desenho. Procuro ler livros ou parte de livros diariamente. Considero essas atividades fundamentais para o meu bem-estar. E depois, se sobrar um tempo, talvez ainda aprenda alguma coisa sobre carpintaria.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Ainda sobre os monstros
É terrível, é inacreditável, mas não houve protestos contra a libertação do comprador de panetone e seus asseclas. Não teve OAB, não teve dirigente de partido, não teve candidato a presidente, não teve CNBB, não teve Associação de Magistrado, não teve presidente da ANJ, não teve articulista, não teve nem editorial se posicionando contra a libertação de um sujeito que tem poder econômico para continuar a interferir na investigação.
Há dois meses, quando o sujeito foi preso, todo mundo correu para dizer que se inaugurava uma nova era para a justiça brasileira. Que finalmente isso! Que beleza! Teve gente dizendo que a era dos corrupas havia chegado ao fim. Que agora eles, os canalhas vampiros corruptos e corruptores pagariam pelos crimes e malfeitos.
Mas no dia 12 de março de 2010, ninguém falou nada. Ninguém protestou. Não teve nem vaia.
Ontem, a responsabilidade pela libertação do homem do painel, do campeão dos panetones, era exclusivamente de oito patetas que envergonham a toga que usam. Hoje, essa responsabilidade é dividida com todos os pretensos guardiães dos valores democráticos, da liberdade e da justiça.
É espantoso!!!
E o festival de afrontas continua. Um dos asseclas que acompanhavam da cadeia as pantominas do Panetone´s King tomou posse hoje na Câmara Legislativa. Ele deverá votar na próxima eleição para definir quem será o novo governador do DF. Foi o sujeito que, comprovadamente, levou o bilhete do Pãozinho Natalício para um jornalista de aluguel. Esse cara foi filmado e as filmagens dizem tudo. Levou bilhetinho e grana.
E o festival de afrontas continuará. Pois está livre quem tem dinheiro para comprar sombras e penumbras. E a liberdade dos asseclas evidencia a grande influência e o enorme poder de interferência que continua a exercer. A desfaçatez com que essa gente se move, cercada de seguranças, com seus SUVs importados e blindados é pior, muito pior que uma cusparada na cara.
O panetone. Pensa bem. O vídeo mostra o cara pegando uma bolada de 50 mil reais. Caramba, isso é grana! E no que ele pensa para justificar o recebimento da bolada: dinheiro de panetone. Coisa pra comprar bolinho. Um café. Uma migalha. Ah! Aquilo. Pô, estão fazendo toda essa confusão por causa daquilo?! Daquela merreca! 50tinha!
Não. Toda essa confusão é porque todo mundo sacou que aquela grana era apenas uma minúscula cerejinha do grande, do enorme e gigantesco PANETONE que é roubado dos cofres públicos. Mesmo assim, oito seres minúsculos decidiram negar ouvidos à voz sensata do Ministério Público e concederam a liberdade a quem não merece.
O poder que deixa de exercer o seu poder é fraco. É galho podre. É enfraquecedor. E só contribui para a destruição da árvore da democracia.
Mas chega disso. Só me resta jogar uma última praga. Dos oito micróbios que pisaram na toga que o gato enterra, sete serão esquecidos e varridos rapidamente para debaixo do tapete da memória. Somente um nome guardarei. Porque esse poderia ter sido exemplo de coragem antes de se aposentar. Dele ficará o nome, que já foi de poeta valente, mas que hoje é do covarde que se curvou na hora H. Que sejam longos e dolorosos os seus dias, que lhe sejam breves e atormentadas as noites!
Há dois meses, quando o sujeito foi preso, todo mundo correu para dizer que se inaugurava uma nova era para a justiça brasileira. Que finalmente isso! Que beleza! Teve gente dizendo que a era dos corrupas havia chegado ao fim. Que agora eles, os canalhas vampiros corruptos e corruptores pagariam pelos crimes e malfeitos.
Mas no dia 12 de março de 2010, ninguém falou nada. Ninguém protestou. Não teve nem vaia.
Ontem, a responsabilidade pela libertação do homem do painel, do campeão dos panetones, era exclusivamente de oito patetas que envergonham a toga que usam. Hoje, essa responsabilidade é dividida com todos os pretensos guardiães dos valores democráticos, da liberdade e da justiça.
É espantoso!!!
E o festival de afrontas continua. Um dos asseclas que acompanhavam da cadeia as pantominas do Panetone´s King tomou posse hoje na Câmara Legislativa. Ele deverá votar na próxima eleição para definir quem será o novo governador do DF. Foi o sujeito que, comprovadamente, levou o bilhete do Pãozinho Natalício para um jornalista de aluguel. Esse cara foi filmado e as filmagens dizem tudo. Levou bilhetinho e grana.
E o festival de afrontas continuará. Pois está livre quem tem dinheiro para comprar sombras e penumbras. E a liberdade dos asseclas evidencia a grande influência e o enorme poder de interferência que continua a exercer. A desfaçatez com que essa gente se move, cercada de seguranças, com seus SUVs importados e blindados é pior, muito pior que uma cusparada na cara.
O panetone. Pensa bem. O vídeo mostra o cara pegando uma bolada de 50 mil reais. Caramba, isso é grana! E no que ele pensa para justificar o recebimento da bolada: dinheiro de panetone. Coisa pra comprar bolinho. Um café. Uma migalha. Ah! Aquilo. Pô, estão fazendo toda essa confusão por causa daquilo?! Daquela merreca! 50tinha!
Não. Toda essa confusão é porque todo mundo sacou que aquela grana era apenas uma minúscula cerejinha do grande, do enorme e gigantesco PANETONE que é roubado dos cofres públicos. Mesmo assim, oito seres minúsculos decidiram negar ouvidos à voz sensata do Ministério Público e concederam a liberdade a quem não merece.
O poder que deixa de exercer o seu poder é fraco. É galho podre. É enfraquecedor. E só contribui para a destruição da árvore da democracia.
Mas chega disso. Só me resta jogar uma última praga. Dos oito micróbios que pisaram na toga que o gato enterra, sete serão esquecidos e varridos rapidamente para debaixo do tapete da memória. Somente um nome guardarei. Porque esse poderia ter sido exemplo de coragem antes de se aposentar. Dele ficará o nome, que já foi de poeta valente, mas que hoje é do covarde que se curvou na hora H. Que sejam longos e dolorosos os seus dias, que lhe sejam breves e atormentadas as noites!
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Monstros à solta
Acabam de capturar um monstro pedófilo que atacava e matava crianças e adolescentes nas proximidades de Brasília, em Luziânia. Já havia sido capturado e solto em dezembro do ano passado, exatamente por abusar de menores. O monstro agora diz que ainda existe um outro, muito pior, ainda solto. Para o grande mal, eu acredito, só resta a pena capital. Para o matador reincidente, para o criminoso condenado e repetitivo, guilhotina! Para o imbecil que o mandou soltar em dezembro, espero que esteja bem atormentado, que suas noites se encham de pesadelos e remorsos por muitos e muitos anos.
Acabam de soltar o sujeito que foi filmado pegando dinheiro de propina das mãos de um corrupto confesso. Passou menos de 60 dias na cadeia. Quem determinou sua prisão, continuou a recomendar que o mantivessem preso. Mas oito entre cinco acharam que o sujeito que queria comprar panetone com dinheiro de propina já não oferecia risco ao processo de investigação. O sujeito que mentiu sobre a violação de um painel eletrônico, mentiu também quando disse que iria comprar panetone. Mas não foi cassado. Não perdeu direito político nenhum. Não foi impichado. Não foi fichado. Não foi algemado. Não ficou atrás de grades. Sai ileso dessa quizumba toda.
Eu deveria dizer "por enquanto". Mas, sinceramente, não sou tão otimista. Na minha opinião careca sobre tudo, soltaram mais um monstro, o ladrão de milhares, um homem que violenta a nossa cidadania. Para os oito imbecis que o mandaram soltar, que vergonha!, desejo que suas noites se encham do choro dos milhares de crianças e adultos que foram subtraídos em suas oportunidades e direitos. E desejo também que sejam dolorosamente atropelados por camelos, é claro!
Acabam de soltar o sujeito que foi filmado pegando dinheiro de propina das mãos de um corrupto confesso. Passou menos de 60 dias na cadeia. Quem determinou sua prisão, continuou a recomendar que o mantivessem preso. Mas oito entre cinco acharam que o sujeito que queria comprar panetone com dinheiro de propina já não oferecia risco ao processo de investigação. O sujeito que mentiu sobre a violação de um painel eletrônico, mentiu também quando disse que iria comprar panetone. Mas não foi cassado. Não perdeu direito político nenhum. Não foi impichado. Não foi fichado. Não foi algemado. Não ficou atrás de grades. Sai ileso dessa quizumba toda.
Eu deveria dizer "por enquanto". Mas, sinceramente, não sou tão otimista. Na minha opinião careca sobre tudo, soltaram mais um monstro, o ladrão de milhares, um homem que violenta a nossa cidadania. Para os oito imbecis que o mandaram soltar, que vergonha!, desejo que suas noites se encham do choro dos milhares de crianças e adultos que foram subtraídos em suas oportunidades e direitos. E desejo também que sejam dolorosamente atropelados por camelos, é claro!
domingo, 11 de abril de 2010
Monstros atacam novamente
sábado, 10 de abril de 2010
Melzinho, doutor e vírus
No dia 5 de setembro de 2008 publiquei o texto "Vai melzinho aí, doutor?" neste blog. É o post campeão de mensagens viróticas do Caminho do Careca. O motivo me escapa. Mas todos os dias recebo pelo menos duas mensagens/comentários de endereços muito suspeitos com elogios ao blog e mensagens publicitárias de máquinas miraculosas. Ultimamente também tenho recebido mensagens de uma tal Student Travel Association, nome que parece perfeitamente legítimo, prometendo umas oportunidades boas demais para serem verdadeiras. Esses criadores de vírus às vezes são criativos, mas em geral oferecem apenas pornografia.
Houve uma época em que eu sempre recebia um e-mail gigantesco de alguém da África que precisava de ajuda para resgatar uma fortuna de um banco não sei aonde. O e-mail parecia ter saído de um romance de espionagem, era interessante. Naturalmente eu não fazia o que era pedido, mas lia a mensagem mesmo assim. Depois parece que os e-mails viróticos interessantes escassearam.
Seja como for, a não ser que vocêr esteja muito distraído, é fácil identificar uma mensagem robótica virótica no e-mail.Todo ano tem a onda do e-mail falso do Banco Tal, da falsa mensagem do IR, do foto jogador de futebol pelado, da foto da atriz pelada, mas esses são manjados e não despertam curiosidade. A não ser, é claro, que seja uma foto da sua atriz favorita. Ou do jogador, há gosto pra tudo. Né?
sexta-feira, 9 de abril de 2010
O sono mais cedo de sexta-feira
Meu filho tem um estilo muito peculiar de ver televisão. Não consegui encontrar uma palavra apropriada para descrever como ele assiste TV. Inquieto é pouco. Interativo não chega a 10 por cento do que ele faz. Ele pula, sobe no sofá, rola no chão, repete os gestos dos personagens dos desenhos, imita, grunhe, berra, responde, grita, sacode e se entusiasma com uma impressionante capacidade de imersão na história. Acompanha todos os detalhes. A irmã é mais quieta. Mas os primos são iguais e os colegas da escola também. Não é uma característica exclusiva esse jeito exagerado de ver TV.
Às vezes é bem cansativo ver TV perto dele. Outras vezes é superdivertido assistir um desenho com ele ao lado. Ele gosta de explicar o que está acontecendo, embora eu não entenda muita coisa mesmo com as explicações.
_Pô,véi, esse pokemon parece um meteoro e o Ash vai deixar o Pikaxu voar com eles - ele diz.
Pokemon é um desenho chato à beça. E segue um esquema repetitivo demais para o meu gosto de contar histórias. Mas tem um lado bom. Ao invés de prestar atenção no desenho, eu presto atenção no meu filho. Ele está crescendo rápido, a grande janela nos dentes da frente, em cima, já está praticamente fechada. Ele fará sete anos em breve.
Ainda guardo alguma pouca memória dos meus sete anos de idade. Lembro de brincar de queimada com os meus irmãos, numa quadra improvisada ao lado da Igreja Matriz, numa praça do interior. Lembro também dos jogos de tabuleiro, o xadrez chinês, torrinha, damas e xadrez. Só começamos a assistir TV quando nos mudamos de cidade. E eu assistia embasbacado, estático, diferente do meu filho.
De vez em quando, meu menino leva a mão à boca. O clima de Brasília resseca os lábios. Ele fica tirando aqueles pequenos fiapinhos de pele. Faz uma ferida nele mesmo sem perceber. Recomendo atenção e ele para de puxar os fiapinhos. Hoje está frio e ele fica esfregando os pés. Vou buscar um cobertor para os dois. Talvez ele estivesse mais inquieto e serelepe que o habitual por causa do frio.
O efeito Pokemon é soporífero. Em pouco tempo, os dois cochilam no sofá. Levo primeiro a minha filha para dormir debaixo do edredon. Meu campeão está mais pesado e comprido. É mais difícil carregá-lo até a cama. Rafael, o cachorrinho shi-tsu, também cochila. Sexta-feira todo mundo dorme mais cedo aqui em casa.
Às vezes é bem cansativo ver TV perto dele. Outras vezes é superdivertido assistir um desenho com ele ao lado. Ele gosta de explicar o que está acontecendo, embora eu não entenda muita coisa mesmo com as explicações.
_Pô,véi, esse pokemon parece um meteoro e o Ash vai deixar o Pikaxu voar com eles - ele diz.
Pokemon é um desenho chato à beça. E segue um esquema repetitivo demais para o meu gosto de contar histórias. Mas tem um lado bom. Ao invés de prestar atenção no desenho, eu presto atenção no meu filho. Ele está crescendo rápido, a grande janela nos dentes da frente, em cima, já está praticamente fechada. Ele fará sete anos em breve.
Ainda guardo alguma pouca memória dos meus sete anos de idade. Lembro de brincar de queimada com os meus irmãos, numa quadra improvisada ao lado da Igreja Matriz, numa praça do interior. Lembro também dos jogos de tabuleiro, o xadrez chinês, torrinha, damas e xadrez. Só começamos a assistir TV quando nos mudamos de cidade. E eu assistia embasbacado, estático, diferente do meu filho.
De vez em quando, meu menino leva a mão à boca. O clima de Brasília resseca os lábios. Ele fica tirando aqueles pequenos fiapinhos de pele. Faz uma ferida nele mesmo sem perceber. Recomendo atenção e ele para de puxar os fiapinhos. Hoje está frio e ele fica esfregando os pés. Vou buscar um cobertor para os dois. Talvez ele estivesse mais inquieto e serelepe que o habitual por causa do frio.
O efeito Pokemon é soporífero. Em pouco tempo, os dois cochilam no sofá. Levo primeiro a minha filha para dormir debaixo do edredon. Meu campeão está mais pesado e comprido. É mais difícil carregá-lo até a cama. Rafael, o cachorrinho shi-tsu, também cochila. Sexta-feira todo mundo dorme mais cedo aqui em casa.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
A maquiagem feita dentro do carro
Uma das coisas mais extraordinárias que eu observo no trânsito dessa cidade é a quantidade enorme de mulheres que cuidam da maquiagem nos semáforos. Acontece todos os dias.Dava um projeto de fotografia interessante.
Também acho fantástica a capacidade de coordenação motora que algumas exibem ao sair do semáforo ainda em processo de retocar o batom e a sombra.
Maquiagem dentro de carro sempre me faz lembrar uma brincadeira que eu adorava fazer com a minha mulher. Quando ela começava o processo de passar o batom eu pisava de leve, mas rápido, no freio. Zup. O batom escorregava e ela dizia, putz. Ela começava com o batom de novo e eu rapidamente pisava no freio. Zup. O batom escorregava um pouco, putz, obrigando minha mulher a usar um lenço de papel.
Nessa hora, ela costumava mostrar o belo sorriso que sempre teve. Bobo, ela dizia. Também fazia ameaças de me beliscar. Ou então me dava um tapinha no ombro, ou no braço. Essas coisas a gente parou de fazer. Talvez porque as crianças no carro não entendessem direito. Talvez porque minha mulher já saia de casa com batom, não precisa mais retocar maquiagem no carro. Ou talvez porque a gente saia pouco. Talvez por tudo isso junto.
Eu penso nessas coisas quando vejo as mulheres retocando a maquiagem. Também penso na minha mãe, que de vez em quando também passava um batom, no final das longas viagens até a casa da minha avó, no interior. Depois que minha avó morreu, isso deixou de ser uma preocupação para a minha mãe. Talvez porque ela não precisasse mais ser a filha mais bonita para a minha avó. Talvez porque ela tenha deixado a vaidade de lado depois que a minha avó morreu. Talvez porque tenha se cansado de maquiagem no carro.
Aí eu fico vendo as moças, as mulheres novas e velhas paradas dentro dos carros, retocando as maquiagens. Estou cercado delas. A moça bonita que vai arrasar corações na repartição pública. O anel na mão direito indica que está noiva? As moças ainda ficam noivas? Sei lá. A mulher mais velha que também retoca a sombra não disfarça a irritação de se preparar para mais um dia de trabalho. Pelo terninho preto, trabalha em tribunal. Outra mulher capricha com o lápis enquanto parece me olhar pelo retrovisor. E do meu lado, uma estudante usa um pincel para passar brilho nos lábios. Arrasou Paris em chamas!
Quando o sinal se abre, eu e todos os homens com o dedo no nariz aceleramos rapidamente.
Também acho fantástica a capacidade de coordenação motora que algumas exibem ao sair do semáforo ainda em processo de retocar o batom e a sombra.
Maquiagem dentro de carro sempre me faz lembrar uma brincadeira que eu adorava fazer com a minha mulher. Quando ela começava o processo de passar o batom eu pisava de leve, mas rápido, no freio. Zup. O batom escorregava e ela dizia, putz. Ela começava com o batom de novo e eu rapidamente pisava no freio. Zup. O batom escorregava um pouco, putz, obrigando minha mulher a usar um lenço de papel.
Nessa hora, ela costumava mostrar o belo sorriso que sempre teve. Bobo, ela dizia. Também fazia ameaças de me beliscar. Ou então me dava um tapinha no ombro, ou no braço. Essas coisas a gente parou de fazer. Talvez porque as crianças no carro não entendessem direito. Talvez porque minha mulher já saia de casa com batom, não precisa mais retocar maquiagem no carro. Ou talvez porque a gente saia pouco. Talvez por tudo isso junto.
Eu penso nessas coisas quando vejo as mulheres retocando a maquiagem. Também penso na minha mãe, que de vez em quando também passava um batom, no final das longas viagens até a casa da minha avó, no interior. Depois que minha avó morreu, isso deixou de ser uma preocupação para a minha mãe. Talvez porque ela não precisasse mais ser a filha mais bonita para a minha avó. Talvez porque ela tenha deixado a vaidade de lado depois que a minha avó morreu. Talvez porque tenha se cansado de maquiagem no carro.
Aí eu fico vendo as moças, as mulheres novas e velhas paradas dentro dos carros, retocando as maquiagens. Estou cercado delas. A moça bonita que vai arrasar corações na repartição pública. O anel na mão direito indica que está noiva? As moças ainda ficam noivas? Sei lá. A mulher mais velha que também retoca a sombra não disfarça a irritação de se preparar para mais um dia de trabalho. Pelo terninho preto, trabalha em tribunal. Outra mulher capricha com o lápis enquanto parece me olhar pelo retrovisor. E do meu lado, uma estudante usa um pincel para passar brilho nos lábios. Arrasou Paris em chamas!
Quando o sinal se abre, eu e todos os homens com o dedo no nariz aceleramos rapidamente.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
O micro-ondas que foi para o espaço e o momento "wiki"
Sim, os aparelhos eletrodomésticos daqui de casa estão debandando. Agora parece ter sido a vez do micro-ondas. Ele não resistiu aos mais de dez anos de uso diário e constante e começou a bater pino e a fazer um barulho assustador, de uma hora para outra. Faz um barulhão e não esquenta mais nada. Acho que é caso de lixo, mas ainda resta um fio de esperança para a minha mulher. Amanhã deve aparecer a assistência técnica.
Eu gosto de usar micro-ondas. Sei que hoje em dia existe um movimento retrô, anti micro-wave, mas eu me amarro. Uso pra esquentar quase tudo. Sempre funcionou direito, esse micro-ondas. Nunca tinha me deixado na mão. Uma vez li em algum lugar que a tecnologia do micro-ondas era na verdade fruto de uma pesquisa malfadada de turbinas para aeronaves. O micro-ondas não passava de uma turbina que não havia conseguido ir para o espaço.
Esse tipo de coisa sempre acontece comigo. Eu chamo de "momento wiki", abreviatura de "wikipédia". É quando alguém fala de uma coisa e eu lembro da primeira vez que ouvi falar daquela tal coisa. Não é uma informação relevante, nem algo que vá acrescentar alguma coisa que valha a pena ouvir. É mais parecido com uma informação inútil, uma encheção de linguiça. Tipo assim:
_Essa música da Cássia Eller agora toca em tudo quanto é novela... - diz a minha mulher.
_Ouvi a Cássia Eller cantar no Bom Demais, um barzinho que existia na W3 norte - eu digo.
_O micro-onda está com defeito - diz a minha mulher.
_Defeito?
_É, está fazendo um barulhão e não esquenta nada.
_Vou comer macarrão frio?
_Pode esquentar na panela, se quiser.
_Vou comer macarrão frio.
_Quer que eu esquente pra você? - diz a minha mulher.
_Não precisa. Eu como assim mesmo.
_Mas está frio. Pode deixar que eu esquento.
_Não precisa. De verdade - eu digo.
_... - diz ela.
_Você sabia que o micro-ondas é uma turbina que não foi para o espaço.
_Não. Tem certeza de que não quer que eu esquente o seu macarrão?
_Sabia que foi Marco Polo que trouxe o macarrão da China?
_Não muda de assunto. Vai comer frio mesmo?
_Vou. Isso aqui no extrato de tomate é cebola?
_É. Eu não compro mais extrato de tomate aqui pra casa. A Rose exagera no extrato e na cebola.
_Extrato de tomate Elefante é um amor, é da Cica e tem muito mais sabor - eu digo.
_Hoje ela saiu e comprou extrato com o troco da padaria.
_Está forte mesmo. Ninguém comia tomate na América e na Europa até a primeira metade do século dezenove. Mas aí bateu uma fome danada nos italianos e...
Sim, é terrível. Mas tem um amigo meu que é pior. Ele sempre dá um jeito de falar "no tempo das cavernas".
_Eu tenho muito sono depois do almoço - eu digo.
_Isso é muito comum e natural. Nos tempos das cavernas, depois de comer muito, a melhor coisa a fazer era tirar uma boa soneca - diz esse meu amigo.
_Dentro da caverna?
_Lógico.
Preciso de um micro-ondas que não vá para o espaço e de uma boa caverna.
Eu gosto de usar micro-ondas. Sei que hoje em dia existe um movimento retrô, anti micro-wave, mas eu me amarro. Uso pra esquentar quase tudo. Sempre funcionou direito, esse micro-ondas. Nunca tinha me deixado na mão. Uma vez li em algum lugar que a tecnologia do micro-ondas era na verdade fruto de uma pesquisa malfadada de turbinas para aeronaves. O micro-ondas não passava de uma turbina que não havia conseguido ir para o espaço.
Esse tipo de coisa sempre acontece comigo. Eu chamo de "momento wiki", abreviatura de "wikipédia". É quando alguém fala de uma coisa e eu lembro da primeira vez que ouvi falar daquela tal coisa. Não é uma informação relevante, nem algo que vá acrescentar alguma coisa que valha a pena ouvir. É mais parecido com uma informação inútil, uma encheção de linguiça. Tipo assim:
_Essa música da Cássia Eller agora toca em tudo quanto é novela... - diz a minha mulher.
_Ouvi a Cássia Eller cantar no Bom Demais, um barzinho que existia na W3 norte - eu digo.
_O micro-onda está com defeito - diz a minha mulher.
_Defeito?
_É, está fazendo um barulhão e não esquenta nada.
_Vou comer macarrão frio?
_Pode esquentar na panela, se quiser.
_Vou comer macarrão frio.
_Quer que eu esquente pra você? - diz a minha mulher.
_Não precisa. Eu como assim mesmo.
_Mas está frio. Pode deixar que eu esquento.
_Não precisa. De verdade - eu digo.
_... - diz ela.
_Você sabia que o micro-ondas é uma turbina que não foi para o espaço.
_Não. Tem certeza de que não quer que eu esquente o seu macarrão?
_Sabia que foi Marco Polo que trouxe o macarrão da China?
_Não muda de assunto. Vai comer frio mesmo?
_Vou. Isso aqui no extrato de tomate é cebola?
_É. Eu não compro mais extrato de tomate aqui pra casa. A Rose exagera no extrato e na cebola.
_Extrato de tomate Elefante é um amor, é da Cica e tem muito mais sabor - eu digo.
_Hoje ela saiu e comprou extrato com o troco da padaria.
_Está forte mesmo. Ninguém comia tomate na América e na Europa até a primeira metade do século dezenove. Mas aí bateu uma fome danada nos italianos e...
Sim, é terrível. Mas tem um amigo meu que é pior. Ele sempre dá um jeito de falar "no tempo das cavernas".
_Eu tenho muito sono depois do almoço - eu digo.
_Isso é muito comum e natural. Nos tempos das cavernas, depois de comer muito, a melhor coisa a fazer era tirar uma boa soneca - diz esse meu amigo.
_Dentro da caverna?
_Lógico.
Preciso de um micro-ondas que não vá para o espaço e de uma boa caverna.
terça-feira, 6 de abril de 2010
O blog da unanimidade inteligente
Eu às vezes recebo comentários em posts antigos. Respondo a todos, pode conferir. Acho ótimo comentário em post antigo, porque aproveito e leio a coisa antiga que eu escrevi. A sensação é bem parecida com olhar uma foto encontrada numa gaveta. Às vezes é uma sensação muito, muito boa e a coisa descamba para a nostalgia. E olha que só tenho dois anos de blog.
Entre os mais de 860 posts do "Caminho do Careca" existem alguns campeões de comentários exóticos. Não vou dizer qual é, mas talvez faça um ranking de comentários no blog.
Existe um post antigo que é campeão de comentários de robôs viróticos orientais. Não sei qual é o motivo, mas todos os dias recebo comentários para essa postagem de máquinas chinesas, tailandesas, coreanas e filipinas. Não sei o significado dessas mensagens, nunca tive a curiosidade de usar um tradutor eletrônico.
Um outro post antigo é campeão de comentários de robôs viróticos ocidentais. Essas mensagens chegam em inglês e invariavelmente me oferecem produtos para emagrecer, para a queda de cabelo, para a impotência, para aumentar o tamanho do pênis, para acabar com a ejaculação precoce, para ficar com barriguinha de tanque e para espionar pessoas. Todas as ofertas são bem tentadoras, mas eu resisto a todas.
Esses comentários me abriram os olhos. Por meio deles, descobri que a minha imagem internacional não é das melhores. A julgar por essa correspondência, além de ser um latino estúpido prestes a clicar num vírus e a apagar o meu HD, também sou gordo, careca, broxa, pitoquinho, gala rápida, barrigudo e bisbilhoteiro.
Mas os posts antigos que recebem mais comentários simpáticos são os que de alguma maneira fazem referência ao blog da Lúcia Carvalho, o Frankamente. Volta e meia, alguém comenta que só veio me visitar porque entrou no Frankamente. É um barato, porque é sempre um comentário positivo, pra cima.
Graças à Franka, repensei a frase do Nelson Rodrigues, que disse que toda a unanimidade é burra. Não, existem muitas exceções. E no mundo dos blogs, o Frankamente é uma bela exceção. Para mim, o blog da Franka, mesmo quando fala bobagem, é o blog da unanimidade inteligente e alto astral.
Entre os mais de 860 posts do "Caminho do Careca" existem alguns campeões de comentários exóticos. Não vou dizer qual é, mas talvez faça um ranking de comentários no blog.
Existe um post antigo que é campeão de comentários de robôs viróticos orientais. Não sei qual é o motivo, mas todos os dias recebo comentários para essa postagem de máquinas chinesas, tailandesas, coreanas e filipinas. Não sei o significado dessas mensagens, nunca tive a curiosidade de usar um tradutor eletrônico.
Um outro post antigo é campeão de comentários de robôs viróticos ocidentais. Essas mensagens chegam em inglês e invariavelmente me oferecem produtos para emagrecer, para a queda de cabelo, para a impotência, para aumentar o tamanho do pênis, para acabar com a ejaculação precoce, para ficar com barriguinha de tanque e para espionar pessoas. Todas as ofertas são bem tentadoras, mas eu resisto a todas.
Esses comentários me abriram os olhos. Por meio deles, descobri que a minha imagem internacional não é das melhores. A julgar por essa correspondência, além de ser um latino estúpido prestes a clicar num vírus e a apagar o meu HD, também sou gordo, careca, broxa, pitoquinho, gala rápida, barrigudo e bisbilhoteiro.
Mas os posts antigos que recebem mais comentários simpáticos são os que de alguma maneira fazem referência ao blog da Lúcia Carvalho, o Frankamente. Volta e meia, alguém comenta que só veio me visitar porque entrou no Frankamente. É um barato, porque é sempre um comentário positivo, pra cima.
Graças à Franka, repensei a frase do Nelson Rodrigues, que disse que toda a unanimidade é burra. Não, existem muitas exceções. E no mundo dos blogs, o Frankamente é uma bela exceção. Para mim, o blog da Franka, mesmo quando fala bobagem, é o blog da unanimidade inteligente e alto astral.
A culpa é do Careca
Hoje foi o Rio, outro dia foi São Paulo e problemas graves também acontecem em Brasília e outras capitais. As chuvas extravagantes estão mostrando que os problemas das grandes e médias cidades se repetem. E sempre aparecem os que tratam logo de dizer que não é hora de buscar culpados. É o contrário. É preciso identificar logo o culpado e deixá-lo de banda, para não atrapalhar os socorros urgentes.
No Rio, eu não sei de quem é a culpa. Em São Paulo, também não. Só tenho suposições por similitudes. Aqui, eu sei.
Aqui a culpa não é só dos administradores inescrupulosos que alteraram(para pior, muito pior) o planejamento urbano que a cidade se orgulhava de possuir. E a culpa também não é apenas de uma grande parte da classe média que apoiou essas alterações porque participou ativamente das invasões de gente grande, nos múltiplos condomínios irregulares do Distrito Federal. Em Brasília, os mesmos que olhavam com horror para os novos assentamentos urbanos que viravam cidades satélites foram os primeiros a construir casas enormes em invasões e áreas irregulares, ocupadas na marra, que viraram condomínios de luxo.
Antes disso, muito tempo antes, a culpa foi de JK, que na pressa de fazer cinquenta anos em cinco, não cuidou muito da papelada das terras e fazendas do DF. De tempos em tempos, alguém aparece para dizer que é hora de zerar a conta e começar em panos de pratos limpos. Ou seja, é hora de todo mundo ganhar mais dinheiro, que novas mudanças virão.
Ou talvez os culpados sejam os suspeitos de sempre.
A culpa é de quem não liga para a cidade e não respeita as regras. A culpa é do Mané que fura a fila no trânsito e não respeita a faixa de pedestre. A culpa é do Otário que compra lote em condomínio feito em área de preservação ambiental, sem licença. A culpa é do Admin e do Func que não administram sem levar algum para o bolso e não funcionam sem jabá. A culpa é do Político que flexibiliza todas as leis para os poderosos pensando apenas na manutenção do próprio poder(espertamente, o Político diz que faz isso para amparar os pobrezinhos). A culpa é do Fiscal, que só fiscaliza os inimigos e só pune os que lhe fazem oposição franca e aberta. E a culpa é dele, do Lúmpen, que também invade, desrespeita, depreda e vandaliza(por quê não?) o que outros mais educados, mais preparados e com mais oportunidades também desrespeitam, depredam e vandalizam. Por último, a culpa é do inocente que se omite. A culpa também é do inocente indolente e preguiçoso, que deseja levar vantagem em tudo e não liga para nada nem ninguém.
Sobretudo, a culpa é do Careca, esse que vos fala. A culpa é minha porque desde o ano passado eu sei que dezenas de pessoas vão morrer na época das chuvas nas encostas dos morros das grandes cidades brasileiras. Sei disso e não procurei as autoridades para falar desse meu conhecimento premonitório. Sei disso e não procurei a Defesa Civil, os governos, a associação de bairro, a assembléia do condomínio. Não fiz nada. Por medo. Por idiotice. Por preguiça. Por morar longe de morro. Por achar que não era da minha conta. Por achar que ninguém ia fazer nada. Por ter certeza de que não seria movida uma palha.
E tem mais. Tenho certeza de que, caso as providências corretas não sejam tomadas, no próximo ano dezenas de pessoas morrerão na época das chuvas nas encostas dos morros das grandes, médias e pequenas cidades brasileiras. O mesmo vale para o ano seguinte. Mas dizer isso, especialmente para os administradores públicos, é o mesmo que chover no molhado.
No Rio, eu não sei de quem é a culpa. Em São Paulo, também não. Só tenho suposições por similitudes. Aqui, eu sei.
Aqui a culpa não é só dos administradores inescrupulosos que alteraram(para pior, muito pior) o planejamento urbano que a cidade se orgulhava de possuir. E a culpa também não é apenas de uma grande parte da classe média que apoiou essas alterações porque participou ativamente das invasões de gente grande, nos múltiplos condomínios irregulares do Distrito Federal. Em Brasília, os mesmos que olhavam com horror para os novos assentamentos urbanos que viravam cidades satélites foram os primeiros a construir casas enormes em invasões e áreas irregulares, ocupadas na marra, que viraram condomínios de luxo.
Antes disso, muito tempo antes, a culpa foi de JK, que na pressa de fazer cinquenta anos em cinco, não cuidou muito da papelada das terras e fazendas do DF. De tempos em tempos, alguém aparece para dizer que é hora de zerar a conta e começar em panos de pratos limpos. Ou seja, é hora de todo mundo ganhar mais dinheiro, que novas mudanças virão.
Ou talvez os culpados sejam os suspeitos de sempre.
A culpa é de quem não liga para a cidade e não respeita as regras. A culpa é do Mané que fura a fila no trânsito e não respeita a faixa de pedestre. A culpa é do Otário que compra lote em condomínio feito em área de preservação ambiental, sem licença. A culpa é do Admin e do Func que não administram sem levar algum para o bolso e não funcionam sem jabá. A culpa é do Político que flexibiliza todas as leis para os poderosos pensando apenas na manutenção do próprio poder(espertamente, o Político diz que faz isso para amparar os pobrezinhos). A culpa é do Fiscal, que só fiscaliza os inimigos e só pune os que lhe fazem oposição franca e aberta. E a culpa é dele, do Lúmpen, que também invade, desrespeita, depreda e vandaliza(por quê não?) o que outros mais educados, mais preparados e com mais oportunidades também desrespeitam, depredam e vandalizam. Por último, a culpa é do inocente que se omite. A culpa também é do inocente indolente e preguiçoso, que deseja levar vantagem em tudo e não liga para nada nem ninguém.
Sobretudo, a culpa é do Careca, esse que vos fala. A culpa é minha porque desde o ano passado eu sei que dezenas de pessoas vão morrer na época das chuvas nas encostas dos morros das grandes cidades brasileiras. Sei disso e não procurei as autoridades para falar desse meu conhecimento premonitório. Sei disso e não procurei a Defesa Civil, os governos, a associação de bairro, a assembléia do condomínio. Não fiz nada. Por medo. Por idiotice. Por preguiça. Por morar longe de morro. Por achar que não era da minha conta. Por achar que ninguém ia fazer nada. Por ter certeza de que não seria movida uma palha.
E tem mais. Tenho certeza de que, caso as providências corretas não sejam tomadas, no próximo ano dezenas de pessoas morrerão na época das chuvas nas encostas dos morros das grandes, médias e pequenas cidades brasileiras. O mesmo vale para o ano seguinte. Mas dizer isso, especialmente para os administradores públicos, é o mesmo que chover no molhado.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
O segredo dos teus olhos
O Segredo dos Teus Olhos foi o melhor filme que vi nos últimos doze meses. Arrume um tempo e vá para o cinema conferir. A história é muito bem construída e contada. Tem um dos maiores e mais complexos "travellings" que eu me lembro de ter visto no cinema. A câmera está num balão e viaja por cima de um estádio de futebol, passeia pela torcida, desce as escadas em correria, entra pelos corredores, banheiros e no final corre de volta para o gramado com final em close.
Sem dúvida nenhuma, foi o melhor filme argentino que vi em toda a minha vida. É um clássico de nascença. E a sua história, pela maneira inteligente com que é contada, também parece contar uma história brasileira.
Também é uma história de um escritor e do livro que escreve. E às vezes me dá um arrepio pensar sobre isso, porque li recentemente o "On Writing", do Stephen King, falei outro dia de John Irving e seu personagem escritor e estou enredado em "A Invenção da Solidão", do Paul Auster. Que são três livros que tratam de escrever livros. Cada um à sua maneira. King, com suas dicas para escrever livros que fisguem o leitor, sem aborrecimentos. Irving com sua fábula só de gente e sem moral, com a miríade de acontecimentos que nos impedem de enxergar sentido na vida e em qualquer coisa. E Auster, com sua escrita difícil, parida, de autor que descasca cebolas e disseca sentimentos vivos e mortos.
Em um momento do livro de Auster, que é 1982, ele escreve sobre Giordano Bruno, que acreditava que nosso modo de pensar espelhava a natureza, ou seja, todas as coisas estão relacionadas. Devem estar mesmo, isso não soluciona nada. Mesmo assim, dá um arrepio.
Fui ao cinema ver "O Segredo dos Teus Olhos" com a minha mulher, a irmã da minha mulher e meu co-cunhado. Fazia muito, muito tempo que não saíamos os quatro juntos, sem as crianças. E isso também está relacionado com todas as coisas, porque antes do filme nós jantamos, tomamos cerveja e conversamos à tôa, como fizemos algumas vezes há mais de 15 anos.
E agora que estou aqui, escrevendo na caixa de postagem, volto a observar melhor o livro "A Invenção da Solidão". A capa mostra uma lata de sardinhas aberta e vazia. O livro não é dedicado a ninguém. E a foto do Paul Auster na orelha do livro mostra o escritor a olhar diretamente para você. E é bem verdade que Auster tem o olhar de chihuahua. Mas também é verdade que ele está inclinado, apoiado na parede perto da janela. E que o corte da foto foi feito para que pareça que ele, o autor, está direito e a parede, inclinada. Ou talvez sejam apenas os meus olhos.
E essa também é outra coincidência, porque outro dia falei de Auster e da foto que ele convida a olhar com cuidado. E sem o exame cuidadoso de fotos e lembranças, não haveria "O Segredo dos Teus Olhos".
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