sábado, 30 de maio de 2009

A frustração costumeira

Ele está dormindo no sofá. Os outros meninos estão deitados sobre vários colchões vendo Homem Aranha 3, projetado na parede. Eu passo por trás, para não atrapalhar a projeção. Consigo pescar o meu garoto. Tenho experiência e carregá-lo dormindo. Sei contrabalançar o peso. Consigo ajeitá-lo rapidamente, a cabeça apoiada no meu ombro. Ele apaga, quando dorme. E hoje, na casa desse amigo, deve ter corrido muito.

Eu o coloco com cuidado, no banco de trás, ajeito o cinto de segurança. Dirijo com cuidado, observo o trânsito. Diversas coisas já mudaram nos caminhos que faço. Já faz tempo que não dirijo à noite. Levo quase uma hora para voltar para casa.

Ao chegar, o adolescente do quarto andar segura a porta do elevador para mim. Caramba, o garoto vai sair agora. São onze e trinta e o garoto vai sair agora.

Fico pensando no meu menino, daqui a dez anos. Quando ele estiver com dezesseis, a que horas sairá?

Aos vinte, revolucionário. Aos quarenta, um conservador arbitrário. Na adolescência, incendiário. Bombeiro aos trinta. Como é mesmo o ditado?

Meu filho ligou lá pelas nove horas. Pediu para ficar na casa do amigo, para dormir. Eu não deixei. O combinado tinha sido de ficar na casa do amigo até as nove e meia, dez horas da noite. Depois eu iria buscar. Foi o que eu fiz.

Às vezes eu acho que tenho que manter todos os combinados.

Às vezes eu acho que não faz mal relaxar um pouquinho. Depois me arrependo de ter relaxado.

Uma vez um amigo me disse que o pai era psicólogo. Esse amigo era filho único.

_Pô, filho único é super-mimado, um tremendo reizinho – eu disse.

_Que nada, com o meu velho era só não. Ele sempre negava. Dizia que era pra me acostumar com frustração.

_E você se acostumou?

_Sim, com o tempo achei natural ele ser frustrante.

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