sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Vai melzinho aí, doutor?



Eu estava de carro, voltando de uma reunião de trabalho para o meu cúbi (é pequeno demais para ser chamado de coisa maior, estou pensando em reduzir o nome ainda mais). E lá estão eles, senhoras e senhores, os malabaristas do semáforo. Está um calor infernal na cidade que Niemeyer projetou. Só posso imaginá-lo gigantesco, com uma enorme lupa numa das mãos, focalizando os raios solares sobre a minha cabeça. Zut. Estou torrado. Zut. Aquele cara também. Zut. O raio solar atinge um dos malabaristas. Zut. O fogo dos céus desce sobre nossas cabeças.

Algo, definitivamente, está acontecendo com o clima global. Não é só o derretimento das calotas polares. É o esquentamento universal que está nos tirando do sério. Está torrando o nosso senso de humor. Cara, não se consegue nem pensar direito.

E definitivamente, pensar é algo que esses dois sujeitos não parecem estar fazendo. Esses dois sujeitos estão em outro semáforo. E estão correndo feito doidos para distribuir balinhas. São dois baleiros lunáticos. Quando o calor é infernal todos os semáforos ficam vermelhos só para você, já reparou? Eu estou ali, suando em bicas, dentro do automóvel. Mas talvez eu deva explicar porque os vidros estão fechados. Então vou começar de novo, se você não se importar.

Eu outro dia estava descendo a avenida chamada Eixo Monumental, que desemboca na Esplanada dos Ministérios. São seis pistas num único sentido. E eu estava com um calor danado, vidros abertos, imaginando o Gigante Niemeyer com uma lupa bem grandona torrando os seres humanos que decidiram viver nessa cidade. E logo depois do primeiro viaduto, justo quando estava quase passando debaixo da rodoviária do Plano Piloto, o semáforo fechou. Enquanto eu observava as cores vivas do semáforo e o horizonte dessa pátria mãe gentil, escutei uma voz quase na minha nuca.

_Vai melzinho aí, doutor?
_Mas é claro!! – eu respondi, imediatamente, já sacando a notinha de dois reais que deixo enrolada no console, para evitar surpresas e mal-entendidos nos estacionamentos.

Eu também tenho sempre umas moedas de 1 ao alcance dos dedos para evitar dissabores, no porta-trecos da porta. São essas coisinhas que salvam vidas. E quando um ser humano pergunta na sua nuca se você quer melzinho, o melhor é aceitar logo e puxar o trocado. Desde esse dia, não importa o calor e o fato de não haver ar condicionado no carro, eu chego no semáforo com os vidros fechados.
Hoje, portanto, eu voltava para o meu cúbi quando reparei no estranho balé dos baleiros maníacos no semáforo dos infernos. Eram dois, os malucos. Eles, sob o sol escaldante do Planalto Central, distribuíam dois pacotes de balas grampeadas com bilhetes nos carros parados. Definitivamente, eu não iria abrir o vidro para pegar balinha de jeito nenhum. E ninguém abriu os vidros de maneira nenhuma. E os baleiros maníacos vieram correndo e retiraram todas as balinhas. Menos uma. Uma moça, lá na frente, pegou os pacotes grampeados, a dois reais. Fiz as contas depressa. Vamos supor que eles conseguissem distribuir vinte duplas de balinhas, a dois reais, a cada sinal fechado. Com a taxa de sucesso de cinco por cento a cada cinco minutos e considerando quatro metros percorridos para cada carro, cada um faturaria 24 mangos a cada hora, ou a cada mil metros percorridos. Em outras palavras, a cada cinco quilômetros, os baleiros maníacos , juntos, iriam faturar 240 mangos. Em uma semana, 1680.

Depois de uma semana, no entanto, a taxa de sucesso se reduziria para um por cento. Até que a dupla bolasse uma estratégia nova.

Depois, à noite, voltando para casa, eu vi a baleira do semáforo da rodoviária, no sentido rodoviária –Torre de TV. Tem uns dez anos que ela vende balas no semáforo. E eu comprava chicletes dela, uma vez por semana. Mas agora, depois do episódio do melzinho, deixei de comprar.

4 comentários:

Mwho disse...

Careca,
Eu só paro no semáforo de vidros fechados. Quando me oferecem alguma coisa, eu faço um gesto agradecendo e digo que não. Os caras gostam da cortesia e não fazem cara feia nem reclamam...

Anônimo disse...

Eu morro de medo dos limpadores de vidro. Por causa deles, pode estar o sol do Saara aqui em Sampa que eu não ando com vidro aberto. O máximo que eu faço é abrir quando o carro está andando. E como nada anda aqui nessa cidade dos infernos, o tempo de vidro aberto é contado com os dedos de uma mão. Enfim, técnicas de sobrevivência. Antes assar no carro do que ter celular roubado ou ser agredida. Abraços!

Careca disse...

Mwho, é sempre bom ser gentil e cortês. Mas eu evito fazer gestos.

Janaína, agora eu digo para mim mesmo que estou aproveitando a energia armazenada no veículo para fazer uma sauna maravilhosa. Está funcionando! Ou o meu cérebro já cozinhou...

Anônimo disse...

Though a bit of an investment, a good cast iron skillet will last for generations. Likewise, choose sturdy utensils rather than cheap ones; low-quality wooden spoons, for example, can rot, and plastic will melt if you leave it on the stove too long. Electric When it comes to the stove top, it can be a tough choice between gas and electric; natural gas is a fossil fuel, but most of the electricity in the US comes from coal-burning power plants.The groundwater may be from infiltrating precipitation or from groundwater flowing into the aquifer. In areas with sufficient precipitation, water infiltrates through pore spaces in the soil, passing through the unsaturated zone. At increasing depths water fills in more of the pore spaces in the soils, until the zone of saturation is reached. Heat and Cold TherapyAlternating between heat and cold therapy reduces pain, muscle spasms and inflammation associated with the pinched nerve. Always apply a barrier, such as a cloth or towel, between the heating pad or cold pack and skin to prevent injury. Spine Universe suggests alternating between heat and cold every 20 minutes. [url=http://www.cyclingcloth.com/]Cycling Clothing[/url] Witch Hazel Trail and Lumberjack Loop :: Saint Charles, MIRingwood Forest is an out-of-the-way and lightly developed county park bordering the South Branch Bad River. In the spring the woods can be a bit sloppy and in early summer a little buggy. But by late June the trails are dry, by mid-August most of th…. Exercise TipsCompleting your regular workout program can be difficult with the pain from plantar fasciitis. While the stretches and myofascial release are designed to reduce the plantar fasciitis symptoms, basic exercise tips can allow you to perform workouts while the pain and inflammation heal. Use low-impact exercise such as swimming or cycling to take the weight off the feet but promote cardiovascular fitness. [url=http://www.cyclingcloth.com/]Cycle Jersey[/url] TreatmentBlood blisters heal without intervention, and this is the preferred course. Sterilize a pin and the blood blister with isopropyl alcohol. Puncture the epidermal layer of skin right at the border of the blood blister. Brunton binoculars can be purchased through the company website, but there are discount websites with more affordable prices on most models. That wide range is no mistake. The company tries to create an option to meet every need.facts about cold weather camping Head GearIn 2009, the USA had 630 cyclist deaths, according to the Bicycle Helmet Safety Institute. In 1975, there were 1,003 fatalities; the improvement can be traced to better cycling laws, education and headgear. Young riders remain susceptible to serious head injury, the leading cause of fatalities in cyclists ages 19 and under, at 62.2 percent, states the BHSI.

Frase do dia