sábado, 27 de setembro de 2008

Sobre debates



Tudo que sei sobre debates pode ser resumido em uma única palavra: nada. Eu sou sentimental quanto a debates. Não uso a cabeça. Sou torcedor. É raro ver um debate onde eu já não tenha um lado definido, alguém para torcer. Mas, se isso acontece, se já não tenho um lado definido, acabo torcendo para quem está levando mais pancadas. E, no final, acabo por achar que os caras que estavam batendo estavam absolutamente certos.

Pode parecer contraditório, é verdade, mas é assim que funciona comigo. Durante o debate torço para o galinho branco, que é um galo bom, nunca fez mal a ninguém. Fico contra o galo preto, que é um galo perverso, batedor e sempre ganha por nocaute. Mas depois do debate, é preciso reconhecer que o galo preto é o melhor debatedor. Na clássica comparação com o futebol, debates são como finais da Libertadores da América. A gente torce para o time brasileiro, que acaba fazendo um papelão e depois somos obrigados a reconhecer que o Boca Juniors mereceu a vitória. Ou numa comparação metida a Wittgenstein, é como aquela figura do pato que vira coelho e do coelho que vira pato. No final, não é nada disso. É só um rabisco onde projetamos nossas próprias impressões.

Acho que sempre tive uma expectativa exagerada em relação a debates em rede nacional. Quando eu assisto, eu secretamente acredito que alguma coisa muito especial acontecerá. Nunca acontece. Nunca ouvi falar de debates onde candidatos, depois de duas horas de conversas, apertem as mãos e um deles resolva desistir da campanha porque o outro é bem melhor.

_Olha, bicho, você é dez, deu um show de bola, vou colaborar com a sua campanha – diria o vencido.

Ou então:

_Atendendo a pedidos do auditório, vou declarar meu voto ao meu adversário. E também vou mudar para o partido dele. Cara, você é bom demais – diria o derrotado.

Ou ainda:

_Caramba, xará, você sabe do que está falando e não vai desperdiçar dinheiro público. Eu só queria gastar dinheiro que não é meu e pendurar uns amigos em cabides – diria outro derrotado.

E pra encerrar:

_Amigo, vou falar para todo mundo lá de casa votar em você. Pessoal, esse cara aqui é demais, é político com p maiúsculo, dá até vergonha de chegar perto. Votem nele, sim.

É lógico que nada disso acontece. Mas eu fico na expectativa.

Eu gostaria que os debatedores não fossem meros captadores das opiniões que estão por aí, flutuando no ar. Por outro lado, se eles não conseguem captar nada, então o debate é uma droga. Sem ver o debate entre McCain e Obama, sei que o Obama venceu. Ele vencerá todos os debates, se não vacilar. Mas apenas um vacilo lhe custará tudo. Um erro e ele porá tudo a perder. Pois McCain irá explorar esse erro até torrar a paciência. Mas é por causa dessa possibilidade que ainda acho que a eleição nos EUA ainda não está garantida.

Um comentário:

Rodrigo Carreiro disse...

Depois que eu li um livro sobre debates, nunca mais vejo da mesma forma. 80% é manipulado pelos marketeiros e pouca coisa tem de espontaneidade.

Frase do dia