terça-feira, 2 de setembro de 2008

Como desfazer uma tatuagem



Existem coisas que eu não sei fazer. Foi difícil admitir isso. Teve uma época que eu achava que devia saber fazer tudo. E muito bem feito. Eu achava que isso me destacaria. Eu achava que se eu soubesse fazer tudo, sempre teria uma coisa para fazer.

Mas aí eu cansei. Eu descobri, em primeiro lugar, que eu não dou conta de aprender tudo. Na verdade, eu descobri que existem trocentas coisas que eu não quero aprender e nem quero pensar a respeito. Mas existem outras trocentas de que eu sei muito pouco e quero aprender bem mais.

Um exemplo de coisa que eu não quero aprender mais?

Morte. Não quero aprender mais sobre morte. Sobre violência.

Também não dá para não saber nada. É preciso saber muita coisa para não ficar muito exposto e vulnerável. E hoje acho que sei um bocado, o suficiente para me proteger. Posso até estar enganado, posso vir a me arrepender, mas realmente não me interesso mais tanto por sobrevivência num mundo desértico. Teve uma época que eu tinha muito pesadelo de fim do mundo. Tive muitos daqueles sonhos ruins, em que eu seria um dos poucos sobreviventes da hecatombe da Terra. Eu seria uma espécie de Robinson Crusoé, saqueando supermercados num planeta sem gente. Fazendo provisões, coletando alimentos não perecíveis, me preparando para a minha hora final.

Também não quero mais saber de procastinação. Já fui um campeão de procastinação. Eu adiava até ida ao banheiro. Hoje não adio mais. Evito postergações. Procuro ir direto ao ponto. Não gosto de deixar coisas acumularem. Procuro viver mais o presente.

Nem sempre consigo, mas tento. E às vezes isso me torna muito imediatista. É difícil ter equilíbrio. É difícil.

Existem dezenas de coisas novas que despertam o meu interesse. Eu não tenho tatuagem, mas tenho vontade de fazer uma. E depois tenho vontade de ter tido uma tatuagem. Essa tatuagem eu apagaria mais tarde, porque eu me cansaria do que ela representava. E aí eu quero saber porque eu apagaria essa tatuagem. O que teria feito eu marcar a minha pele com alguma coisa? E o que teria acontecido para que eu quisesse apagar aquela marca?

Acho que as pessoas costumam tatuar a pele por amor, para fazer uma homenagem, para gravar uma lembrança. E há quem se tatue só porque acha bonito.

Tem tatuagem que eu acho bonita. Gosto mais até das antigas e simples. Âncora. Anzol. Brasão de time de futebol. Barco a vela. Sereia. Dançarina de hula. Caveira. Morte.

Às vezes, tudo parece pedaço do mesmo círculo. E a gente que sabe mais das coisas não sabe com a cabeça, mas com o coração.

Eu queria ter uma tatuagem de pássaro. Nem precisava ser colorida. Mas um dia, eu tenho certeza, eu apagaria aquele pássaro da minha pele.

2 comentários:

Mwho disse...

Careca,
Tenho um amigo de 59 anos que voltou da praia com sua primeira tatuagem nas costas. Feliz da vida, já está com quase 60 e ainda não se arrependeu!

Careca disse...

Mwho, puxa, acho que ele vai ser tatuado pelo resto da vida...

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