sexta-feira, 3 de maio de 2013

O resmungão Careca



The Walkmen - Heaven

Rose está de férias. E com o problema da saída de água da máquina de lavar louça, não há outra solução, tenho que lavar pratos e talheres. Aqui em casa prevalece a velha regra: se eu cozinho, não lavo. Sim, existem poucos cacófatos tão bons. E é a minha mulher quem cozinha. Hoje, para não dizer que não falei de arroz, fiz um risoto de açafrão para o jantar, mas ninguém quis experimentar. Então não valeu, tive que encarar a louça.

Fazia um tempão que não pensava em limpar coisas e deixar tudo pronto e arrumado na cozinha. É bem verdade que procuro deixar a oficina sempre organizada e limpa, mas ela fica na área externa, é uma garagem aberta, não há como evitar poeira e folhas secas. De vez em quando uso o aspirador de pó ao contrário, soprando as folhas e a poeira para fora, lubrifico as ferramentas, passo uma mão de tinta no piso e nos armários ressecados pelo sol e vento. É mais fácil e rápido do que usar vassoura, pano de chão, detergente, rodo e sabão.

Ficar em casa ocupado com tarefas domésticas convencionais sempre me deixa um pouco deprimido. Com a oficina e o jardim é exatamente o oposto, fico animado e empolgado com os projetos. O trabalho com o uso de ferramentas exige atenção e foco no que se está fazendo, o que pode ser até relaxante. Mas limpeza, lixo e arrumação definitivamente não melhoram os meus dias. Isso me leva à introspecção melancólica e repisar coisas e fatos que, obviamente, não têm mais conserto. Como fico muito tempo sozinho, às vezes acabo falando comigo mesmo em voz, ou seja, desenvolvi o péssimo hábito de resmungar.

Não é nada muito elaborado, na maioria das vezes só digo uma palavra perdida e depois volto a me calar. Mas é resmungo, reconheço.



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