terça-feira, 14 de maio de 2013

O fim do zoo e a passividade cultural do Careca



Laurel and Hardy

Eu vi um comentário no Facebook e, mais uma vez, não resisti. Fui dar pitaco num post em que um sujeito lacrimoso bradava pelo fim dos zoológicos, maldizendo os seres humanos. "Só uma raça imbecil como a humana pode considerar isso uma diversão", ele escreveu. "Isso" se refere a visitar o zoo com as crianças. Putz, também acho que um bando de gente da raça humana não prima pela inteligência, eu mesmo vivo fazendo burradas, mas não sou de cuspir na minha árvore genética. Tem muita gente boa nesta raça, e algumas são tão bonitas e inteligentes quanto a Scarlet Johansen. Mas o sujeito estava revoltado, para ele não há outra solução. É preciso acabar com os zoológicos do mundo, a começar pelo de Brasília - disse o jacobino.

"Tenho um cachorro em casa e também um peixe beta, que minha filha ganhou de uma amiga. Eu e meus filhos cuidamos muito bem deles. Assim como os meus bichos, quero crer que os animais do zoo de Brasília têm procedência legal e são tratados com cuidado, recebem tratamento veterinário, remédios, alimentação adequada, etc. Eu, meus filhos e milhares de pessoas adoramos visitar o zoológico para picnics. É um dos poucos programas acessíveis para muitas famílias. Também adoramos andar a cavalo, pescar, churrasco e frango assado. Espero não ter ferido nenhuma suscetibilidade, mas eu gosto do zoo, de aquários gigantes e de ver bichos ao vivo. Acho melhor do que ver pela TV" - eu escrevi.

Em segundos, um outro ser humano revoltado com a existência dos zoos escreveu que eu estava comparando alhos com bugalhos. Ele disse que animais domésticos não podem ser comparados a animais silvestres. Para esse legítimo homo sapiens o zoo significaria apenas uma tortura eterna para os bichos dali. Pelo que sei, já faz tempo que os zoológicos seguem regras rígidas para não encarcerar animais capturados na natureza. Ou seja, nos zoos predominam os animais nascidos no cativeiro vindos de outros zoos ou de fazendas de animais silvestres. No zoo de Brasília, alguns animais contam com abrigo e cuidados muito superiores aos que muitos humanos consegue garantir com o salário mínimo. Na minha opinião, que às vezes pode ser imbecil, por uma questão de coerência, se você é contra o confinamento de um bicho, tem que ser contra o confinamento de qualquer bicho, o que inclui alguns insetos. Se o zoo deve ser fechado, então teremos que libertar o cão, o porco, a vaca, a ovelha, o coelho, o cavalo, o jegue, o rato e o peixe beta. Liberdade para os hamsters, os cães-guias e os cavalos da equoterapia. Free Lassie, Rex e o Macaco Tião! Todos eles ostentam o olhar triste do confinamento. E digo até que alguns carregam também o brilho da compreensão de que o cutelo está próximo.

Era o que eu ia responder ao mané que insinuou que eu gostava de tortura quando o autor do post também escreveu um comentário dizendo que era "justamente sobre essa aceitação cultural passiva, capaz de transformar um aprisionamento cruel em um feliz picnic familiar" que ele estava falando. Putz! - eu pensei. Passividade cultural é o baralho! Vá destrinchar um pernil! Vá comer um sushi! Mastigue uma parrilada! Deixe a paella, a moqueca e a carne de sol no prato! Aceitação cultural passiva é ficar em casa, pregar o fim do zoo vendo bichos pela TV ou em fotografias ao invés de ir para o zoo de Brasília, ver os bichos, sentir o cheiro, descobrir onde se escondem para se proteger do sol, tentar adivinhar qual deles daria um bom candidato a deputado. Rá! O zoo é um dos poucos locais da cidade onde famílias de todos os segmentos sociais ainda passeiam com tranquilidade com suas proles.

Acho que deve ser o contrário: deveria ser criado um movimento pela preservação do zoológico e ampliação dos locais e da estrutura para acomodação dos bichos ali dentro. O quê que há? Não assistiram Madagascar? O zoo daqui possui várias jaulas amplas, como a do elefante e da girafa(que só vejo de binóculo) que não vi em zoológicos de outras cidades do Brasil e do exterior. O zoo é parte importante da cidade, ocupa um espaço nobre e, na minha opinião, deve ser preservado e aprimorado. Alguma campanha inteligente deve ser feita para melhorar as instalações para os homens e bichos. Acho que além de adotar jaulas, a população deveria ser convidada a colocar os piores deputados e senadores numa delas e chamar crianças para atirar pipocas nesses indivíduos. Pregar a extinção do zoo é favorecer a especulação imobiliária, que sempre teve um olho gordo voltado para a área, próxima ao parkshopping e ao aeroporto, bem na entrada da Asa Sul. É possível fazer as duas coisas, extinguir os zoos e proteger a área? Na minha opinião, e de acordo com a lei das probabilidades, não. Meu lado paranóico vislumbra nessa conversa de acabar com o zoo o nascimento de uma campanha para roubar da população mais um espaço público em Brasília. Logo após assumir, a atual administração fez ecoar nos jornais locais uma grande onda sobre corrupção, máfia e má gestão no zoo da cidade. Depois o assunto sumiu. Tomara que esteja enganado, mas se estiver, tenho certeza de que ou todos os bichos estarão soltos e vamos todos comer somente alfaces como o Horácio ou apenas alguns zoológicos estarão fechados, e, em seu lugar, novos e exclusivos condomínios serão erguidos.

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