sábado, 4 de maio de 2013
O rancoroso Careca
Brenda Lee - Break it to me gently
Depois de anos observando a mim mesmo descobri que este ser humano aqui precisa dormir todas as noites exatamente seis horas e 15 minutos. Durante a semana, vou dormir disciplinadamente por volta da meia-noite, acordando às seis da manhã. Diariamente, isso acaba resultando numa carência residual de sono de cerca de 15 minutos, que procuro suprir aos sábados. Ultimamente, o resíduo de sono tem extrapolado um pouco o teto da meta, e venho me sentindo mais sonolento e cansado. Assim, aos sábados costumo dormir duas horas a mais, o que corrige o déficit de sono e ainda garante algum extra que posso vir a precisar durante a semana seguinte. Isso tem funcionado muito bem, mas caso eu sinta necessidade de uma prevenção extra de sono, só para enfrentar a semana mais tranquilo, aos domingos, na casa do Sogrão, costumo reservar pelo menos uma horinha depois do almoço para uma cochilada esparramado num sofá previamente reservado. Sim, é preciso fazer reserva porque existem dois co-cunhados que de vez em quando alegam ter o mesmo direito de soneca, o que é uma inverdade. Mesmo assim, só para garantir, sempre deixo escondido no sofá um celular programado para despertar lá pelas duas e meia, horário médio do fim de almoço. Assim que ele toca, a pretexto de atender o telefone, eu me abanco no sofá e só largo as almofadas com pelo menos uma hora de sono pré-ajustado. Engenhoso, né? Obrigado.
Neste sábado, entretanto, a minha rotina de acumular horas extras de sono preventivo foi subitamente alterada por uma imprevista fuga do Rafa, o cãozinho de estimação da minha filha. Rafa é muito dócil e só tem três manias desagradáveis: ele gosta de fazer xixi onde não pode quando acha que sua opinião não está sendo respeitada, ele morde quem resolve tomar à força o que ele está mastigando e, por último, mas não menos importante, o Rafa foge se você abrir o portão de casa. São fugas bestas, só até a terceira casa vizinha, onde existe uma enorme e felpuda cadela Ruskie. Sim, Rafa acredita que entre os cães ninguém se importa com esse negócio sobre o tamanho do documento. É um shi-tzu ingênuo, eu sei.
Em geral, não ligo para as fugas do Rafa, é só andar, sem pressa, até onde ele está e carregá-lo pra dentro. Só que hoje quem abriu o portão foi meu filho, que se despedia de um amigo da escola que dormiu aqui em casa. Cheguei um minuto depois e encontrei a porta da frente e o portão abertos. Imediatamente intuí o que havia acontecido. O cachorro fugira e meu filho saíra a perseguí-lo. Houvesse um adulto sensato por perto teria impedido o garoto de perseguir o cachorro ou pelo menos ajudado, mas o imbecil que é pai do menino que dormiu aqui não tem um pingo de noção, eu deveria saber. E, portanto, a responsabilidade foi minha, que autorizei o meu menino a abrir o portão para a saída do colega.
Atribuir responsabilidades e apontar culpados, no entanto, não resolve nenhum problema. Eu continuava com dois. Nenhum sinal do meu filho. Nenhum sinal do Rafa. Andei até a rua e forcei a vista nos dois sentidos. Nada. Contei até trinta para evitar o pânico total e absoluto. Em geral, o Rafa foge para cima, onde mora a Ruskie, eu pensei, e corri até o portão daquela casa. Nada dos dois. A taquicardia já me fazia suar frio. Eu já me preparava para correr até em casa e pegar minha filha. Meu plano era sair de carro com ela e esquadrinhar o quarteirão. Já estava entrando em casa aos berros quando olho para o alto da rua e meu filho está acabando de dobrar a esquina, carregando o Rafa nos braços.
A história foi essa mesmo: assim que o portão se abriu, Rafa disparou rua acima. Meu filho correu no seu encalço, enquanto o seu amigo entrava no carro do pai sem noção e se mandava, sem ajudar em nada, sem solidariedade e com a cara de pastel costumeira. E agora eu estou aqui, escrevendo esse post para me lembrar que sou um cara mesquinho mas que, apesar de tudo, não costumo guardar rancor. Mas nesse caso, guardarei.
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